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quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Ser perfeccionista é bom ou ruim?

 

Mulher sorri enquanto segura flores cor-de-rosa, sentada em uma mesinha na frente de um café.
Legenda da foto,"Tenho a sensação de que estou sempre me preparando para falhar ou me decepcionar", diz Aswan
    • Author,Hannah Karpel
    • Role,BBC News

perfeccionismo tem uma ótima reputação. Em entrevistas de emprego, é uma das respostas mais comuns para transformar a temida pergunta "Qual é sua fraqueza?" em uma autovalorização disfarçada.

Para muitos, se trata de buscar excelência ou trabalhar incansavelmente para atingir o melhor resultado.

Mas o que acontece quando essas expectativas elevadas, e às vezes implacáveis, acabam atrapalhando o próprio progresso?

"Eu sei que o perfeccionismo é uma ilusão, mas estou sempre tentando alcançá-lo", admite Aswan, 25 anos.

No trabalho, ela sente a pressão: "Sei que posso errar sem perder o emprego, mas tenho constantemente a sensação de estar a um passo de ser demitida".

Essa ansiedade é comum entre os perfeccionistas, explica a psicóloga da saúde Sula Windgassen. No podcast Complex, da BBC Sounds, ela afirma: "A baixa autoestima tende a andar de mãos dadas com o perfeccionismo porque existe esse medo de falhar".

Esse medo de errar frequentemente alimenta a procrastinação. Aswan lembra do seu teste teórico de direção: "Fiquei tão tensa para passar de primeira que, quando errei por poucos pontos, nunca mais tentei refazê-lo". O episódio ocorreu há quase quatro anos.

O perfeccionismo pode estar ligado à personalidade, mas também é influenciado por experiências na infância, pela escola e pelas expectativas dos pais, que moldam o que cada um considera "bom o suficiente".

Quebrando o ciclo

Embora o perfeccionismo não seja um diagnóstico clínico, seus efeitos são muito reais — provocando ansiedade, cansaço e até sintomas físicos ligados ao estresse, como queda na imunidade.

Especialistas dizem, no entanto, que é possível quebrar o ciclo. Windgassen recomenda iniciar o que é conhecido em psicologia como um "experimento comportamental".

Ele começa por se questionar o que acha que acontecerá se o resultado não for perfeito, anotando as previsões e, sem seguida, testá-las na prática.

O resultado foi tão ruim quanto imaginava? Que aspectos positivos surgiram dessa nova abordagem? Talvez, por exemplo, conseguir dormir às 22h em vez de 1h, e se sentir mais descansado.

Mulher de cabelos castanhos e camiseta amarela sorri dentro de uma cafeteria com luz baixa.
Legenda da foto,Com o tempo, Dayna diz que aprendeu a silenciar sua voz crítica interna
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Para Dayna, de 26 anos, que se define como "ex-perfeccionista", deixar para trás o perfeccionismo foi um alívio. Ela já chegou a sacrificar seu bem-estar em busca de resultados impecáveis e não quer repetir isso.

"Mantive um diário para entender melhor minhas tendências e li livros de autoajuda", conta. "Tive que aprender da forma mais difícil a desenvolver mecanismos de enfrentamento e estratégias para não sacrificar tudo. Ser perfeccionista não é uma qualidade nobre, como eu costumava pensar."

Em alguns momentos, sua voz crítica interna dominava, e o perfeccionismo acabava levando ao esgotamento.

Hoje, olhando para trás, Dayna lembra da ansiedade e do estresse crônicos.

"Agora, me contento em apenas dar o meu melhor e aceitar que não posso sempre atingir o resultado que quero. Mas o resultado que obtenho é mais do que suficiente e estou em paz com isso hoje."

Nem todo perfeccionismo é prejudicial. Uma forma, chamada de perfectionistic striving (busca perfeccionista, em tradução livre), foca estabelecer metas pessoais ambiciosas.

Quando essas metas podem ser ajustadas conforme mudanças de circunstâncias, causam menos estresse e tendem a gerar resultados positivos, como um atleta que diminui o treinamento durante uma lesão.

Ainda assim, há limites. Um estudo publicado em julho de 2025 pela publicação científica British Psychological Society mostrou que buscar metas excessivamente altas frequentemente leva a longas jornadas de trabalho, com ganhos mínimos de desempenho.

Lidar com essas tendências pode ser desconfortável, afirma Windgassen, mas o desconforto faz parte do processo.

"Isso não é um sinal de que você não deve fazer — é um sinal de que você deve", conclui.

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