SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Capitulo 1 : Somos Simbióticos num Planeta Simbiótico! Por Egidio Guerra.

 



A visão convencional da evolução, popularizada pelo paradigma darwinista, frequentemente nos apresenta um mundo implacável de "sobrevivência do mais apto", onde a competição é o motor principal da mudança. No entanto, uma imersão mais profunda na obra revolucionária de Lynn Margulis e em descobertas da biologia molecular contemporânea revela uma narrativa muito mais rica, cooperativa e fundamental para a nossa existência: a de que a vida é, em sua essência, simbiótica. Vivemos num planeta simbiótico, e nossa própria existência é um testemunho desse processo. 



O paradigma darwinista da seleção natural pela competição não surgiu num vácuo. Ele foi profundamente influenciado pela ideologia capitalista e vitoriana de seu tempo, que celebrava a competição individual, o progresso linear e a luta como forças propulsoras da sociedade. Esta lente reducionista ofuscou um fenômeno igualmente, se não mais, poderoso: a simbiose como parceria. Longe de ser uma mera curiosidade ecológica, a simbiose é uma força criativa primordial, uma aliança onde diversas espécies e indivíduos se protegem, cooperam e, juntos, evoluem para formar sistemas cada vez mais complexos. 



Toda a teia da vida, das baleias às sequoias, tem sua origem última no microcosmos. É no mundo microbiano — do solo ao ar, dos oceanos aos nossos próprios corpos — que a verdadeira sinfonia da vida é orquestrada. Este universo invisível caracteriza e garante a nossa sobrevivência. As pesquisas em biologia molecular comprovam a simbiogênese, o processo pelo qual novos organismos evoluem a partir da fusão simbiótica de dois ou mais seres anteriormente independentes. A tendência da vida não é apenas competir, mas se aglomerar, cooperar e ressurgir em uma nova totalidade, em um nível maior e mais elevado de organização. 



Margulis demonstrou que a vida independente é frequentemente impelida a se unir, seja por fome, por necessidade de sobrevivência ou por pura oportunidade. Indivíduos estão constantemente se fundindo e regulando mutuamente sua reprodução, criando entidades completamente novas. Desse processo, emergem novas populações que, por sua vez, geram indivíduos simbióticos compostos por múltiplas unidades. Nós, os chamados "indivíduos", somos, na verdade, ecossistemas complexos. Vivemos em um mundo simbiótico, onde a linha que separa um organismo de outro é frequentemente tênue e permeável. 


A grande inovação da simbiogênese é que, diferentemente das mutações pontuais enfatizadas pelo neodarwinismo, nela não adquirimos meros traços ou genes isolados, mas organismos inteiros, com seus conjuntos de genes completos. Trata-se de uma aquisição maciça de capacidades. A mais dramática evidência disso é a origem das células complexas (eucarióticas). Uma simbiose duradoura e permanente de longo prazo entre bactérias primitivas — uma consumidora de oxigênio e outra capaz de gerar energia — levou à primeira evolução de células com núcleo. Este evento singular, esta fusão cooperativa, foi o salto quântico que permitiu a explosão subsequente da vida, dando origem a todos os organismos que conhecemos, como fungos, plantas e animais. 


Embora Charles Darwin, em "A Origem das Espécies", tenha pouco tratado do surgimento de novas espécies, a lente competitiva de sua época não permitiu que ele visse a simbiose como a força criativa central que ela é. Hoje, compreendemos que a árvore da vida é menos uma árvore com galhos separados e mais uma rede intricada de raízes entrelaçadas. A cooperação não é um subproduto ocasional da evolução; é um dos seus princípios fundamentais. Reconhecer que somos simbióticos num planeta simbiótico não é apenas uma revisão científica; é um convite a repensar nosso lugar no mundo, substituindo a narrativa da dominação pela da interdependência, e encontrando na cooperação a chave para nossa sobrevivência e evolução futura. 





 

 

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