SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 26 de outubro de 2025

Há um valor no mestrado e no doutorado que o mundo nem sempre é capaz de ver.









Há um valor no mestrado e no doutorado que o mundo nem sempre é capaz de ver e talvez por isso os trate como luxo, vaidade ou tempo perdido.


Nas redes sociais, não é raro ver quem diga que “não serve para nada”, que “não paga as contas”, que “a vida prática dispensa teoria”. Mas quem já atravessou o rigor de um stricto sensu sabe: essa não é uma jornada de utilidade, é uma travessia de si.

O aluno entra cheio de respostas, e sai com perguntas que jamais tinha ousado formular. É nesse percurso que algo se desloca. Não se trata apenas de aprender a escrever academicamente, mas de aprender a pensar com rigor, com método, com humildade. É o momento em que a vaidade intelectual se confronta com a impossibilidade do saber total. Porque é no ponto em que o saber falta que o sujeito se revela, e é daí que nasce o verdadeiro pensamento.

Fazer um mestrado ou doutorado é suportar o desconforto de não saber. É ver ruírem as certezas que nos mantinham de pé e, no lugar delas, erguer perguntas mais maduras, mais precisas, mais humanas. É um treinamento emocional em paciência e uma iniciação simbólica na castração do ego: aquele instante em que o pesquisador percebe que não é o dono do objeto, mas seu intérprete, seu servo, seu aprendiz.

A dor que educa. E é mesmo. Dói admitir o erro, revisar o texto, voltar à hipótese, começar de novo. Dói descobrir que inteligência não é ter resposta , mas, é sustentar a dúvida sem desabar. Essa dor, que muitos confundem com perda, é o que forja a lucidez. É o que faz da pesquisa não apenas uma produção de conhecimento, mas um exercício de humanidade.

O que se conquista nessa jornada não é um diploma a mais, mas uma forma diferente de estar no mundo. O pesquisador aprende a escutar, a argumentar, a lidar com o silêncio, com a demora, com o vazio fértil do pensamento. Aprende que autoridade não vem do título, mas da travessia. E que pensar é, em última instância, um ato de amor: amor ao saber, amor à verdade, amor àquilo que ainda não se sabe.

Por isso, o verdadeiro valor do mestrado e do doutorado não está no mercado, nem no currículo, está na metamorfose do sujeito que, ao buscar o conhecimento, acaba encontrando a si mesmo. E quando volta, já não é o mesmo. Traz em si o que o mundo insiste em ignorar: o brilho discreto de quem aprendeu a pensar com o coração e a sentir com o pensamento.

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