SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Mas para isso, é preciso lembrar que formar pessoas vale mais do que aprovar números.



"Quando o “não” perde valor, o respeito perde o sentido."


Hoje, em uma reunião com professores e coordenadores sobre o Sócioemocional, surgiu um tema que me atravessou profundamente e que, confesso, me causa revolta e preocupação.
Falávamos sobre o episódio recente em que um pai entrou em uma escola e agrediu um professor porque sua filha não quis cumprir as regras e os combinados...não utilizar o celular.
Um ato de violência que não é isolado é o retrato de uma crise mais profunda, que envolve a perda de valores, de limites e, sobretudo, de respeito.

Sou professor. Sou filho de professores. Cresci vendo meus pais serem referências dentro e fora da sala de aula.
Venho de um tempo em que, quando o professor entrava, todos se levantavam, não por medo, mas por respeito.
O olhar de um educador tinha peso, a palavra dele tinha valor.
E hoje dói ver o quanto tudo isso se perdeu. Dói ver que quem ensina está sendo atacado por fazer o que é certo.

Vivemos uma época em que o “não” perdeu o seu valor.
E quando o “não” perde valor, o respeito perde o sentido.
A escola tenta educar, formar, orientar, mas a família muitas vezes se ausenta. Cobra resultados, mas não participa. Quer desempenho, mas não dá exemplo.
O professor, que deveria ser símbolo de autoridade afetiva e intelectual, tornou-se alvo de desconfiança e até de violência.
E o mais grave, isso vem de adultos que deveriam ensinar civilidade.

A Educação Socioemocional entra justamente aqui, não como uma solução mágica, mas como reconstrução de vínculos.
Ela lembra que a escola ensina o que a família reforça. Que valores não são palavras em cartaz, mas atitudes que se aprendem no olhar, na escuta e na coerência.
O professor pode ensinar empatia, mas é em casa que a criança aprende a respeitar. Pode ensinar limites, mas é em casa que ela entende que limite é cuidado, não castigo.

Mas há algo que também precisa ser dito com clareza, a escola tem o dever e a obrigação de proteger seus professores.
Proteger física, emocional e institucionalmente.
O educador não pode ser exposto à violência, ao medo e à humilhação por exercer sua função.
Garantir esse amparo não é favor é responsabilidade.
Porque quem cuida de tantos também precisa ser cuidado.

O Sócioemocional, nesse contexto, é resistência.
É a coragem de continuar acreditando na educação mesmo quando tudo parece perdido.
É cuidar da saúde emocional dos professores, dos alunos e também das famílias.
Porque a transformação só acontece quando todos entendem que educar é um ato coletivo e que escola e família precisam estar do mesmo lado.

Ainda acredito que é possível reconstruir esse respeito.
Mas para isso, é preciso lembrar que formar pessoas vale mais do que aprovar números.
E que o “não”, dito com amor e firmeza, ainda é uma das maiores provas de cuidado que se pode oferecer a uma criança.


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