Na gramática da natureza, os ninhos são a sintaxe da vida. Eles protegem, cuidam e apoiam o desenvolvimento, sendo um útero externo onde a fragilidade se fortalece para o voo. São o arquétipo do cuidado. Já os feudos são a gramática da opressão. Eles usam, descartam e matam suas populações, transformando pessoas e territórios em recursos consumíveis. Enquanto o ninho obedece à lei do amparo, o feudo se rege pela lei do domínio.
Esta lógica feudal, infelizmente, ainda é o DNA de muitas de nossas estruturas sociais. Em nossas raízes brasileiras, escravocratas, brutais e desiguais, os feudos e as culturas violentas da casa grande e de seus capitães do mato ainda imperam, vestidos com as roupas da modernidade. E o mais insidioso é perceber como ninhos podem virar feudos. As escolas e universidades, que deveriam ser os ninhos por excelência do pensamento crítico, onde jovens aprendizes exercitam as asas da razão, muitas vezes se tornam feudos intelectuais. Neles, a opinião crítica de alunos e professores é calada, obrigados a trocar a verdade incômoda pela mentira conveniente.
O crime organizado, por sua vez, transforma presídios em feudos para oprimir ainda mais populações já excluídas. Mas ao contemplarmos essa perversidade, somos levados a uma pergunta crucial: qual a diferença fundamental entre esses feudos do crime e os feudos legais de nossos ricos e poderosos? Bilionários e políticos corruptos que usam partidos, governos, congressos, bancos e a justiça como feudos entre amigos do Rei, Oligarquias e elites para oprimir a sociedade? A violência sistêmica que estrangula oportunidades, nega direitos e mata o futuro de crianças e jovens, impedindo seu desenvolvimento e despertar humano, não é uma versão "aceita" da mesma lógica de extermínio?
Para encontrar o caminho de volta ao ninho, precisamos resgatar o sentido original das coisas.
A palavra economia (oikonomia, em grego) significa "lei da casa". A lei da casa é a do ninho: administrar os recursos para o bem-estar de todos, um princípio vivido plenamente por comunidades indígenas e quilombolas. Para eles, a terra não é um feudo a ser espoliado, mas um ninho sagrado a ser honrado, um parente.
A gestação de um bebê é a metáfora suprema do ninho. No útero, a vida é protegida, nutrida e encorajada a se desenvolver em toda a sua potência. Nosso desenvolvimento humano exige esse mesmo ambiente de "ninho" – de afeto, estímulo e segurança – em todas as fases da vida.
Por fim, as grandes tradições espirituais ecoam essa sabedoria. A Bíblia retrata um Deus como a águia que "protege sobre seus filhotes" (Deuteronômio 32:11), um símbolo divino de proteção. A Cabala ensina que a criação surgiu por Tzimtzum – um divino "fazer espaço", um ato de retração amorosa para que o outro pudesse existir. A lei divina, portanto, não é a de um senhor feudal, mas a do Jardineiro que cultiva a vida. A Terra e a própria vida são, em sua essência, ninhos divinos confiados à nossa guarda.
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