💬 Moralização versus objetividade no olhar social
Nos últimos dias, viralizou uma postagem sobre uma antiga favela transformada em conjunto habitacional — que, com o tempo, voltou a ter aparência de favela.
O autor da postagem, um deputado federal, afirmou que “a decadência começa dentro do homem”. Mas quem conhece a realidade sabe: isso não é moral, é social e econômico.
Falo com alguma propriedade — nasci em uma ocupação, fui reassentado e depois pesquisei e trabalhei justamente no programa que me reabrigou.
Quem tem poucos recursos constrói por etapas. Sem crédito, faz o que pode, quando pode. E, sinceramente, se a classe média não tivesse financiamento de até 35 anos, seus prédios seriam iguais.
Já vi dezenas de famílias adaptando moradias populares minúsculas, de 40m², entregue por prefeituras. Buscavam fazer caber suas vidas — e isso não é “decadência”, é adaptação racional à escassez.
Há, nas classes médias, uma ilusão recorrente de superioridade moral e cultural - explorada politicamente por oportunistas.
Há uma crença de que o mérito individual sustentaria o conforto material. Mas bastaria perder o acesso ao crédito para que muitos percebessem o quão frágil é essa estabilidade.
O Estado não ampara apenas os mais pobres; ele também sustenta silenciosamente o modo de vida das classes médias, por meio da regulação e do acesso ao crédito.
Falar de pobreza exige empatia e objetividade, não moralismo oportunista.
A estética da pobreza não é desordem — é sobrevivência e inteligência diante da desigualdade.
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