Curtailment na China – um caso de sucesso.
O gráfico abaixo mostra como a China reverteu um cenário crítico de curtailment (desperdício de energia eólica e solar) que chegou ao auge entre 2014 e 2016, com mais de 50 TWh/ano de energia eólica e 35 TWh solar desperdiçados, e taxas superiores a 17% em algumas províncias.
🚨 O problema no início
Durante a rápida expansão das renováveis (2011–2016), a China enfrentou:
• Expansão descoordenada entre geração e transmissão;
• Geração concentrada no Norte e Oeste, longe dos grandes centros consumidores;
• Falta de sistemas de armazenamento e baixa flexibilidade hídrica;
• Ausência de gestão integrada da geração distribuída solar (MMGD).
O resultado foi perda de rentabilidade, instabilidade no sistema e queda na confiança dos investidores.
🔧 A virada de chave chinesa (2017–2024)
O país adotou um plano nacional integrado de engenharia, digitalização e regulação que transformou o cenário energético.
🟩 UHRs – Usinas Hidrelétricas Reversíveis
• Capacidade saltou de 26 GW (2016) para 65 GW (2024).
• Permitem armazenar excedentes e devolver energia nos picos.
• Destaques: Fengning (3,6 GW) e Guangdong (2,4 GW).
🟦 BESS – Armazenamento por Baterias
• De 1 GW (2020) para 22 GW (2024), com meta de 40 GW até 2027.
• Utilizam tecnologias de lítio, sódio e vanádio-redox, integradas via sistemas de gestão (EMS).
• Suavizam picos e estabilizam o despacho de energia.
🟫 Reforços de Transmissão
• Construção de 30+ linhas UHV (±800 kV DC / 1.000 kV AC), totalizando +40 mil km.
• Ampliação da capacidade de transporte em 400 GW, conectando geração e consumo.
• Aplicação de FACTS e controle digital em tempo real.
🟧 Gestão da MMGD
• Centros regionais de despacho inteligente com IA e machine learning.
• Mercados locais de energia e resposta da demanda (demand response).
• Integração de microgrids híbridos (solar + storage).
📉 O resultado
Mesmo triplicando a capacidade instalada renovável, a taxa de curtailment eólico caiu de 17% (2016) para ~4% (2024), e a solar de 12% para 2–3%.
Um case global de eficiência e planejamento sistêmico, combinando infraestrutura, digitalização e política pública.
🇧🇷 E o Brasil?
Vivemos um cenário semelhante ao chinês do passado:
🔹 Geração concentrada no Nordeste e consumo no Sudeste;
🔹 Gargalos de transmissão (NE–SE–CO);
🔹 Poucos projetos de armazenamento;
🔹 Gestão limitada da MMGD.
O curtailment já supera 5 TWh/ano, e tende a crescer se UHRs, BESS e novas linhas de transmissão não forem acelerados.
Mas o Brasil tem diferenciais: matriz flexível, reservatórios e experiência em operação integrada.
A EPE e o ONS já discutem soluções com UHRs reversíveis, BESS distribuídos e redes inteligentes, inspirando-se justamente em modelos como o chinês.
📊 Fontes:
IEA (2024) | China NEA | ONS (2023–2024) | EPE (PDE 2034) | ABRAGEL | ABRAPCH
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