
- Rushdi Abualouf
- Gaza correspondent, Istanbul
Um alto dirigente do Hamas afirmou à BBC que o grupo deve rejeitar o plano de paz de Donald Trump para Gaza, alegando que ele "serve aos interesses de Israel" e "ignora os do povo palestino".
Segundo ele, o Hamas dificilmente aceitará desarmar-se e entregar suas armas — uma das condições centrais da proposta de Trump.
O movimento também se opõe à presença de uma Força Internacional de Estabilização (ISF) em Gaza, vista como uma nova forma de ocupação.
Na segunda-feira, durante uma reunião na Casa Branca, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aceitou o plano. O Hamas, até o momento, não apresentou uma resposta oficial.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar declarou que o Hamas está analisando a proposta da Casa Branca de maneira "responsável".
Um alto funcionário palestino com conhecimento das negociações disse à BBC que elas envolvem a liderança do grupo tanto dentro quanto fora de Gaza.
O comandante militar do Hamas no território, Ez al-Din al-Haddad, estaria decidido a manter a luta em vez de aceitar o plano. Já dirigentes da organização no exterior têm perdido espaço nas discussões recentes, já que não exercem controle direto sobre os reféns.
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As negociações do Hamas, que devem se estender por vários dias, também incluem outras facções palestinas.
O grupo armado Jihad Islâmica Palestina (PIJ), que participou do ataque de 7 de outubro e chegou a manter alguns reféns israelenses, rejeitou o plano nesta terça-feira.
Para o Hamas, um dos principais entraves é a exigência de entregar todos os reféns de uma só vez — o que significaria abrir mão de sua única moeda de troca.
Mesmo com o apoio de Donald Trump ao plano, há desconfiança de que Israel retome as operações militares assim que recuperar os reféns — especialmente depois da tentativa de assassinato contra líderes do Hamas em Doha, no início deste mês, em desafio aos Estados Unidos.
Além disso, um mapa de Gaza divulgado pelo governo Trump mostra o que parece ser uma zona-tampão planejada ao longo da fronteira sul do território com o Egito. Não está claro como seria administrada, mas, se houver envolvimento de Israel, deve se tornar mais um ponto de discórdia.
Outro fator é que, desde que aceitou o plano na noite de segunda-feira, Netanyahu tem dado sinais de recuar em relação a vários de seus termos.
Em um vídeo publicado no X, ele afirmou que o Exército israelense permaneceria em partes de Gaza e que Israel "resistiria à força" à criação de um Estado palestino.
Essa posição contraria a estrutura proposta por Trump, que prevê a retirada total das forças israelenses e sugere que, ao fim do processo, poderia haver um "caminho credível para a autodeterminação e a formação de um Estado palestino".
Dentro de Gaza, a população em geral demonstrou apoio ao plano — mas apenas porque ele poderia levar ao fim da guerra.
O morador Khadar Abu Kweik disse à BBC: "O plano americano tem cláusulas ruins, mas eu o apoio porque vai parar a guerra e se livrar do Hamas. Mesmo que o próprio diabo trouxesse uma proposta para acabar com este inferno em que vivemos, eu apoiaria."
O jornalista palestino Fathi Sabah afirmou: "Uma rejeição do Hamas, Deus nos livre, significaria dar a Netanyahu carta branca para continuar a guerra com apoio americano e ocidental, para destruir o que resta de Gaza e da região central."
"O povo de Gaza não aguenta mais. Está devastado, exausto, desesperado e sem esperança", disse.
"Eles querem um cessar-fogo agora, não amanhã, a qualquer custo — mesmo sabendo que o plano favorece Netanyahu, está cheio de armadilhas e não reflete suas aspirações."
O Exército israelense lançou a ofensiva em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 feitas reféns.
Desde então, ao menos 66.097 pessoas foram mortas nos ataques israelenses a Gaza, segundo o ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
Em agosto, um órgão apoiado pela ONU confirmou que havia uma crise de fome em Gaza. No início deste mês, uma comissão de inquérito da ONU concluiu que Israel cometeu genocídio em Gaza — acusação que o governo israelense rejeita veementemente.
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