Para compreender a singularidade e o poder de impacto dos espetáculos da EDISCA, o pensamento de Walter Benjamin oferece ferramentas preciosas. Em sua obra seminal A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, Benjamin estabelece uma distinção crucial entre a obra de arte tradicional, carregada de aura – uma qualidade, presença no aqui e agora –, e a obra de arte reproduzível, que vê sua aura se esvair. O espetáculo de balé da EDISCA, encenado por aquelas crianças específicas, naquele contexto comunitário único, é um evento “aurático” por excelência. Sua essência está na presença física e comunitária, insubstituível e não massificável, constituindo-se como um antídoto à lógica da indústria cultural. Além disso, Benjamin nos ajuda a pensar a formação dos sujeitos. Ele distinguia entre a Erfahrung (experiência rica, integrada à tradição e à narrativa) e a Erlebnis (vivência fragmentada, típica do choque perpétuo da vida moderna metropolitana). A EDISCA, ao construir sua "casa poética", oferece um espaço de proteção onde as crianças podem converter Erlebnis (as vivências traumáticas da pobreza e da invisibilidade) em Erfahrung – experiências significativas, narráveis e formativas, corporificadas na disciplina da dança e na coletividade do espetáculo. Por primeiro o submete, antes de ser por ele utilizado" (BENJAMIN, 2012, p. 99) pode ser transposta para o "aparelho corporal". A técnica do balé, em um contexto opressor, poderia submeter o corpo. Na EDISCA, no entanto, a técnica é apropriada pelas crianças como um instrumento de emancipação, permitindo-lhes, nas palavras do próprio filósofo, "organizar o novo na produtividade" e não apenas se adaptar ao existente. Dessa forma, o corpo discente, ao dominar a linguagem exigente do balé, não se submete a um código, mas o utiliza para produzir uma nova presença no mundo, política e esteticamente significativa. Continua...
SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
SOBRE O IMPACTO DOS ESPETÁCULOS DA EDISCA! Por Egidio Guerra.
Para compreender a singularidade e o poder de impacto dos espetáculos da EDISCA, o pensamento de Walter Benjamin oferece ferramentas preciosas. Em sua obra seminal A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, Benjamin estabelece uma distinção crucial entre a obra de arte tradicional, carregada de aura – uma qualidade, presença no aqui e agora –, e a obra de arte reproduzível, que vê sua aura se esvair. O espetáculo de balé da EDISCA, encenado por aquelas crianças específicas, naquele contexto comunitário único, é um evento “aurático” por excelência. Sua essência está na presença física e comunitária, insubstituível e não massificável, constituindo-se como um antídoto à lógica da indústria cultural. Além disso, Benjamin nos ajuda a pensar a formação dos sujeitos. Ele distinguia entre a Erfahrung (experiência rica, integrada à tradição e à narrativa) e a Erlebnis (vivência fragmentada, típica do choque perpétuo da vida moderna metropolitana). A EDISCA, ao construir sua "casa poética", oferece um espaço de proteção onde as crianças podem converter Erlebnis (as vivências traumáticas da pobreza e da invisibilidade) em Erfahrung – experiências significativas, narráveis e formativas, corporificadas na disciplina da dança e na coletividade do espetáculo. Por primeiro o submete, antes de ser por ele utilizado" (BENJAMIN, 2012, p. 99) pode ser transposta para o "aparelho corporal". A técnica do balé, em um contexto opressor, poderia submeter o corpo. Na EDISCA, no entanto, a técnica é apropriada pelas crianças como um instrumento de emancipação, permitindo-lhes, nas palavras do próprio filósofo, "organizar o novo na produtividade" e não apenas se adaptar ao existente. Dessa forma, o corpo discente, ao dominar a linguagem exigente do balé, não se submete a um código, mas o utiliza para produzir uma nova presença no mundo, política e esteticamente significativa. Continua...
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