Pátio da escola. A pesquisa da Perkins&Will (2024) mostra que, enquanto os meninos ocupam todo o espaço, as meninas são empurradas para as bordas.
Não é acaso, é pedagogia social da desigualdade.
Pierre Bourdieu chamou isso de violência simbólica, a dominação que não precisa de gritos ou murros para operar. É a pedagogia do “seu lugar não é aqui”. Desde cedo, meninas aprendem que o centro não lhes pertence, seja o centro do pátio, da rua, da política ou do poder.
Essa cartografia do pátio escolar é o mesmo mapa que, mais tarde, desenha o mundo adulto. Da fila do bar ao Congresso Nacional, dos conselhos de administração aos ministérios, os espaços centrais são monopolizados por homens. Enquanto isso, as mulheres são empurradas para as margens, onde podem “se ajeitar” contanto que não incomodem.
E quando se atrevem a cruzar a linha invisível, a resposta não tarda. Vêm as piadas, a deslegitimação, o assédio e a violência. "Deu pra quem para estar nesta posição?" Da ofensa ao feminicídio, o fio é o mesmo.
O espeto que atravessa o corpo da mulher não começa no crime bárbaro noticiado no jornal; ele começa no cotidiano banal, no “brinca ali do lado”, no “não é lugar de menina”, no riso cúmplice que reforça fronteiras.
O assassinato de mulheres é apenas a ponta mais brutal de uma pirâmide cujo alicerce é simbólico e cultural. O corpo feminino já foi colocado de lado no pátio antes de ser colocado no necrotério.
A pesquisa mostra que a exclusão começa cedo e se normaliza como se fosse natural.
Mas não é natural, é estrutura. E toda estrutura pode ser desmontada. O desafio vai além de redesenhar o pátio, envolve redesenhar o mundo.
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Fonte: @semfronteirasbar
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