SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

'Taxar super-ricos não é mais ideia só da esquerda': os argumentos de milionário americano que quer pagar mais imposto.

 

'Taxar super-ricos não é mais ideia só da esquerda': os argumentos de milionário americano que quer pagar mais imposto

Morris Pearl

CRÉDITO, PATRIOTIC MILLIONAIRES

Legenda da foto, 

Morris Pearl é ex-diretor de um dos maiores fundos de investimentos do mundo, o BlackRock 

Morris Pearl tenta há quase dez anos fazer com que milionários como ele próprio paguem mais impostos nos Estados Unidos.

Ex-diretor de um dos maiores fundos de investimentos do mundo, o BlackRock, ele preside a organização Patriotas Milionários (Patriotic Millionaires, no original em inglês), que busca aumentar a pressão sobre os políticos americanos para que aprovem mais tributos sobre a renda e o patrimônio dos super-ricos. 

Em entrevista à BBC News Brasil, ele reconhece que houve pouco avanço concreto nessa última década. 

Por outro lado, acredita que o sentimento a favor de taxar mais os milionários tem ficado mais forte, em meio à crescente desigualdade no país.

"Essas ideias sobre tributar os ricos eram consideradas ideias da esquerda. Agora, o presidente dos Estados Unidos (Joe Biden) está abraçando ao menos algumas das nossas ideias. O presidente do Comitê de Finanças do Senado dos Estados Unidos (o democrata Ron Wyden) está propondo algumas das nossas ideias", comemora, ao mesmo tempo em que admite que não há maioria no Congresso americano para aprovar as medidas.

Pearl compartilhará um pouco da sua experiência com o público brasileiro nesta terça-feira (29/08), quando participa virtualmente do Fórum Internacional Tributário (FIT), promovido em Brasília por entidades como a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital Fenafisco) e o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz).

Sua mesa tem como tema "Tributação da Renda e da Riqueza: a Experiência Internacional e o Brasil". 

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João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.

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Dados oficiais dos dois países mostram que Brasil e Estados Unidos têm um cenário semelhante: os contribuintes mais ricos pagam, em média, alíquotas menores de imposto de renda que a classe trabalhadora. Isso ocorre, em boa parte, porque salários são mais tributados do que aplicações financeiras.

Uma análise realizada por economistas da Casa Branca em 2021 estimou que as 400 famílias bilionárias mais ricas do país teriam pago, em média, apenas 8,2% de seus ganhos totais em imposto de renda, entre 2010 e 2018. 

Em comparação, uma família de um trabalhador de renda média com dois filhos (dependentes que dão desconto no imposto de renda) era taxada em 19,8% em 2022, enquanto um trabalhador solteiro pagava alíquota de 30% naquele ano, segundo cálculos da instituição Tax Foundation. 

"Aqui nos Estados Unidos, infelizmente, temos um sistema em que as pessoas que já são ricas, as pessoas que obtêm o seu dinheiro dos seus investimentos e das coisas (propriedades, por exemplo) que possuem, pagam taxas de impostos mais baixas do que as pessoas que de fato trabalham para viver", ressalta Pearl.

"E isso significa que se você já é rico, tende a ficar mais rico com o tempo. Enquanto todos os outros estão apenas lutando para permanecerem iguais", crítica. 

Para o milionário, esse processo está ampliando a desigualdade no país e pode desestabilizar a democracia americana. 

"Estamos preocupados com a perspectiva de que muito em breve, em algum momento, as pessoas não aguentem mais isso. Esperamos usar o processo democrático para mudar essas políticas, reduzir a crescente desigualdade e tornar toda a nossa sociedade mais estável", defende.

Na visão de Pearl, defender que lhe sejam cobrados mais impostos não se trata de bondade, mas de pensar no seu próprio interesse. 

Ele contesta argumentos de que tributar riqueza reduziria investimentos, prejudicando a economia e a geração de empregos. 

"Quando o governo arrecada dinheiro tributando as pessoas ricas, o dinheiro não desaparece simplesmente. Na verdade, o dinheiro é realmente colocado na economia, porque as pessoas muito ricas têm muito dinheiro (parado) em investimentos e em contas bancárias", argumenta.

"Se você tirar parte do dinheiro deles (os milionários), eles ficarão um pouco menos ricos, é verdade. Mas, quando você usa esse dinheiro para pagar professores, funcionários de hospitais e todos os tipos de trabalhadores do governo, esse dinheiro é gasto (por esses trabalhadores) e é isso que realmente ajuda os empresários", continua.

O milionário gosta de usar uma analogia para ilustrar seu raciocínio. 

"Costumo dizer que o dono do bar se preocupa muito mais com quanto dinheiro está nos bolsos de todas as pessoas sentadas no bar do que com o salário do cara que está atrás do bar servindo a cerveja. Precisamos construir negócios numa nação onde haja pessoas com dinheiro suficiente para pagar as coisas", reforça. 

"Por isso eu digo para investidores e empresários olharem para o longo prazo, olharem para o seu próprio interesse com clareza e pensarem sobre onde estão e onde querem estar. Ou onde seus filhos e netos querem estar", diz ainda.

Biden quer nova taxa sobre fortunas

Imagem ilustrando desigualdade, com duas pilhas de moedas, uma grande e uma pequena

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

Taxação maior de grandes fortunas enfrenta muita resistência no Congresso dos EUA

Nos Estados Unidos, Joe Biden tem feito sugestões ambiciosas de aumento de impostos sobre os mais ricos.

Algumas delas entraram na proposta de orçamento do governo para 2024, como a ideia de criar um imposto de 20% que incidira sobre a valorização de ações (mesmo sem a venda dos papéis) e atingiria um grupo pequeno de pessoas - pouco mais de 20 mil contribuintes nos EUA com fortunas superiores a US$ 100 milhões (cerca de R$ 488 milhões atualmente). 

O investidor Warren Buffett, o chefe da Tesla, Elon Musk, e o fundador da Amazon, Jeff Bezos, estariam entre os afetados.

A proposta de Biden também prevê o aumento da alíquota do imposto de renda sobre as famílias que ganham mais de US$ 400 mil - subiria de uma alíquota de 37% para 39,6%. 

E o imposto para empresas seria elevado a 28%, revertendo parcialmente os cortes feitos sob o governo Trump.

Morris Pearl, porém, reconhece que essas tentativas não devem passar no Congresso. 

Na sua avaliação, os parlamentares sofrem muita influência de grandes financiadores de campanha, pessoas ricas que não estão interessadas em pagar mais impostos. 

Um dos caminhos para combater isso, diz, é convencer mais pessoas a votar (o voto é opcional nos EUA) e a pressionar o Congresso. 

"Nossos congressistas passam muito tempo com esses doadores e não falam com pessoas que trabalham para viver e que pagam ainda mais impostos. Por isso, pensamos que fazer com que mais pessoas votem e expressem a sua opinião é a resposta certa (para reverter a resistência no Congresso)", acredita Pearl.

Governo Lula também tenta ampliar impostos sobre ricos 

Um novo levantamento do Sindifisco (sindicato que representa os auditores-fiscais da Receita Federal) mostra que alíquota efetiva média de imposto de renda cobrada sobre os mais ricos recuou entre 2019 e 2021 (dado mais recente disponível). 

No caso dos milionários que declararam renda anual total acima de R$ 4,2 milhões em 2021, por exemplo, essa alíquota ficou em 5,4% naquele ano, ante 6% em 2019. 

A alíquota efetiva é o percentual da renda total que de fato foi consumida pelo IR. Segundo o Sindifisco, o principal motivo de os mais ricos terem uma alíquota baixa é que uma parcela relevante de sua renda vem do recebimento de lucros e dividendos das suas empresas – renda que é isenta de imposto no Brasil desde 1996. 

E, como houve crescimento do pagamento de lucro e dividendos nesse período, o topo da pirâmide ficou mais rico, ao mesmo tempo que pagou proporcionalmente menos IR. 

Os números da Receita Federal mostram que contribuintes brasileiros declararam terem recebido em 2021, no total, R$ 555,68 bilhões em lucros e dividendos, uma alta de quase 45% sobre o valor de 2020 (R$ 384,27 bilhões) e de 46,5% ante o de 2019 (R$ 379,26 bilhões). 

Para o presidente do Sindifisco, auditor-fiscal Isac Falcão, esse aumento reflete a expectativa de que os dividendos voltem a ser taxados no país. 

A volta dessa tributação pode ser incluída pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva em uma proposta de reforma do Imposto de Renda que o Ministério da Fazenda pretende enviar no fim deste ano para o Congresso. 

O assunto, porém, enfrenta resistência no Parlamento. Proposta semelhante enviada pelo governo de Jair Bolsonaro em 2021 não avançou.

Antes de enfrentar esse tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tentado dar passos menores. 

Ele quer aprovar primeiro no Congresso mudanças na taxação de fundos offshore (investimentos de brasileiros no exterior) e fundos exclusivos (para grandes investidores), com objetivo de ampliar o impostos sobre milionários. 

Após deixar uma medida provisória sobre os fundos offshore parada na Câmara, o presidente da Casa, Arthur Lira, se disse comprometido a pautar o tema nas próximas semanas.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Guerra e Paz Tolstoy


 

Linhas: Uma breve história


O que andar, tecer, observar, contar histórias, cantar, desenhar e escrever têm em comum? A resposta é que todos eles procedem ao longo de linhas. Neste livro Tim Ingold imagina um mundo no qual tudo consiste em linhas entretecidas e interconectadas e lança os alicerces para uma disciplina completamente nova: a Arqueologia Antropológica das Linhas. O argumento de Ingold nos leva pela música da Grécia antiga e do Japão contemporâneo, pelos labirintos siberianos e pelas estradas romanas, pelos ideogramas chineses e pelo alfabeto impresso, trançando um caminho entre a Antiguidade e o presente. Baseando-se em uma multidão de disciplinas, incluindo Arqueologia, Estudos Clássicos, História da Arte, Linguística, Psicologia, Musicologia, Filosofia e muitas outras, e incluindo diversas ilustrações, este livro é uma jornada intelectual estimulante que mudará a forma que vemos o mundo e como caminhamos por ele.

COMO A OBRA DE TIM INGOLD DESDOBRA A ONTOLOGIA DE DELEUZE & GUATTARI

Neste artigo, vamos apresentar a antropologia de Tim Ingold naquilo em que ela desdobra a ontologia de Deleuze e Guattari. Sabemos o quanto é problemático chamarmos a obra de Deleuze e Guattari de “ontologia” e aqui quero deixar claro de saída que enquanto “ontologia”, para além do “estudo do ser”, estou operando de acordo com os estoicos e substituindo, por assim dizer, o “ser” pelo devir.

Dito isso, cabe uma pequena apresentação de Tim Ingold: ele é um antropólogo inglês nascido em 1948, filho de um  importante especialista em fungos, Cecil Ingold. Desde o início da sua obra, seguindo os Passos de um autor que o influenciou, Gregory Bateson, Ingold sempre foi um corpo estranho na antropologia, com grande parte do meio antropológico tendo dificuldade em entender sua itinerância. Seu trabalho etnográfico inicial foi com os skolts, indígenas da Finlândia. A partir de 1999, Ingold começou a dar aulas na Universidade de Aberdeen, Escócia, onde finalmente encontrou a liberdade para ministrar aulas da maneira que ele pensava ser mais adequada, por exemplo: seus alunos ficam descalços nas aulas para entrar mais em contato com o ambiente. Ingold os leva à praia para soltar pipa, e com isso, perceber a imanência ao longo das linhas que juntam areia, aluno, pipa e vento, chegando até a fazer balaios, para trabalhar a univocidade ao longo de conteúdo e expressão. A partir da publicação do seu livro de 2000, The Perception of environment, Ingold conseguiu um reconhecimento mundial maior da sua obra – que também começava a ter uma influência crescente de Deleuze e Guattari, sobretudo de Mil Platôs – tendo inclusive vindo algumas vezes ao Brasil e finalmente, tendo alguns de seus livros traduzidos aqui pelas editora Vozes, como o Estar Vivo, entre outros. Ingold é um crítico costumeiro da obra de Lévi-Strauss e Bruno Latour, como veremos adiante. A antropologia de Ingold, segundo o próprio, é anti-disciplinar, no sentido que ele é crítico ao termo interdisciplinar, fazendo com que sua antropologia conflua com a arte, educação e psicologia, sendo ela própria uma derivação filosófica. Além disso, em um dos seus livros mais recentes Anthopology: why it matters, ele acrescenta que antropologia é “filosofia com gente dentro”.

Tendo apresentado Ingold, o que nos co-move ao realizar o presente artigo é o fato que, a despeito da enorme influência da filosofia de Deleuze e Guattari, ao que me parece, ninguém, até então, conseguiu avançar em sua ontologia. O que apreendemos usualmente são usos mais ou menos originais de seus conceitos, colocando-os em campos até então inéditos e avançando na compreensão da bibliografia presente em seus textos. Com Tim Ingold, finalmente, me parece que alguém consegue ir além.

Em primeiro lugar, a filosofia de Deleuze e Guattari é entendida como uma filosofia do “entre”. O que Ingold, em vários momentos da sua obra propõe, é que no lugar do entre se conceitue o ao longo de. O problema do “entre”, para Ingold, é que ele exclui parte do ambiente, e o ao longo de inclui tudo, toda a vida inerente ao processo. É preciso entender aqui que a ontologia de Deleuze e Guattari seria algo como ao longo de. A ideia aqui é apenas explicitar isso. No entanto, o problema do entre ressoa em outros autores, como Bruno Latour e sua famosa Teoria do Ator-Rede. A Teoria do Ator-Rede, a despeito das inúmeras emendas que Latour aplicou a ela ao longo dos tempos, incluindo renegar esse nome, essa teoria separa os atores da rede, realizando mais um dualismo. Em um divertido texto de Estar Vivo, Ingold coloca uma aranha pra conversar com uma formiga (ANT: Actor-Network Theory) afirmando que a aranha, como tece a sua teia a partir de si, ela é de fato imanente a sua “rede”, que Ingold substitui por malha. A crítica de Ingold à ideia de rede, é que esta só se preocupa com seus nós e não com o que acontece ao longo deles!

O questão do ao longo de, nos levou inevitavelmente à questão das malhas em Ingold, inspirado no filósofo Henri Lefebvre. As malhas emergem aqui, pelo que foi dito anteriormente e por ser uma imagem mais eficaz à imanência. E é aqui que Ingold traz mais uma importante contribuição à obra de Deleuze e Guattari: é em relação à questão das linhas, cujo emaranhado vai constituir a malha, da qual falamos anteriormente. Ingold vai partir do uso que Deleuze e Guattari fazem em Mil Platôs das linhas do pintor Paul Klee, que segundo o próprio, suas linhas, que são vivas, são “o ponto que saíram para passear”. Ingold vai recuperar a ideia de Deleuze e Guattari que seguir as linhas é diferente de “imitar”, ou seja, é muito mais uma questão de itinerância do que de “interação”, posto o dinamismo no processo que Ingold evoca aqui. Voltaremos à questão do problema da interação mais tarde. Podemos dizer que a antropologia de Ingold é de itinerâncias das linhas e seus emaranhados, tendo ele dedicado dois livros ao tema das linhas – Lines e The Life of Lines –, além delas aparecerem sempre ao longo de sua obra. Esses emaranhados ressoam com a ecceidade que Deleuze e Guattari recuperam de Duns Scot.

Ainda com Klee, Ingold o cita quando este diz que as formas de gênese e crescimento das formas são mais importantes que as formas elas mesmas. E ainda: “a arte não reproduz o visível, mas torna visível”. Aqui fica possível perceber as ressonâncias com a filosofia de Bergson, onde ele diz em seu texto A percepção da mudança, ser a função do artista é nos fazer ver o que até então para nós era invisível. Ingold diz em uma entrevista que leu tanto Bergson em sua juventude que hoje ele não sabe se teve uma nova ideia ou se está simplesmente pensando como Bergson! Em um sentido semelhante a Klee, Kandinsky, tanto em suas pinturas como em seus escritos, também vão ser importantes para Ingold.

E as linhas nos remetem ao rizoma, termo, aliás retirado por Deleuze e Guattari do livro Naven, de Gregory Bateson. Essa é uma das críticas mais interessantes de Ingold. Ele vai dizer que o empréstimo do conceito feito na biologia é indevido! Explicando: o que é, afinal, o rizoma na botânica? De fato, o rizoma é um entrelaçamento de raízes. No entanto, ele é uma espécie de clonagem da natureza. Um rizoma reproduz-se, criando uma rede de semelhanças. E pior: se uma parte do rizoma é atacada, toda a rede se desmonta! A bananeira é um típico rizoma. E o maior problema das bananeiras, o que se pegar em uma alastra para todo o rizoma são… os fungos! Curiosamente, é justamente no micélio fúngico em que Ingold vai encontrar o melhor exemplo na biologia do rizoma filosófico. Baseado no biólogo Alan Rayner, Ingold diz que o micélio fúngico  – o que seria a “malha” de fungos – possuem as características que ressoam de forma mais precisa com o conceito filosófico de rizoma, pois o micélio fúngico não possui centro. Algumas outras características peculiares que ajudam a ilustrar os fungos enquanto rizomáticos são que eles transmitem informações ao longo da floresta, sendo considerado hoje em dia até mesmo o cérebro do floresta; se parte do micélio for destruído, diferente dos rizomas como os da bananeira, ele se reconstitui em grande parte das ocorrências, dado ao seu funcionamento descentrado! Finalmente, o fungo Armillaria, em Oregon, EUA,  é considerado o maior ser vivo da Terra! Há uma espécie de “revolução fúngica” acontecendo hoje na biologia, graças aos estudos de vários autores, entre eles, Paul Stamets.

É preciso deixar claro que o conceito filosófico de Deleuze e Guattari de rizoma, enquanto conceituação filosófica, está intacto. A crítica aqui é da imagem tomada de empréstimo da botânica, que foi, por assim dizer, infeliz. O estudo dos fungos gera uma compreensão mais eficaz e precisa desse conceito filosófico.

Uma outra problematização de Ingold é em relação aos conceitos de liso e estriado em Mil Platôs. Para Deleuze e Guattari, há uma correspondência entre a distinção háptica (tátil)/óptica com o liso/estriado. Para Ingold, a distinção do tátil e do ótico se dá apenas no estriado, ou seja, o agricultor, por mais que aproxime a visão da terra e o pegar na enxada e o pedreiro gótico opere no nível do chão, eles não são nômades! Dito em outras palavras, o fato de tátil e ótico serem transversais no agricultor e no pedreiro, não necessariamente ressoa em uma transversalidade entre o liso e o estriado. Essa transversalidade se opera apenas no estriado. Isso vai ser importante para Ingold, pois ele vai tecer toda uma conceituação do que é atmosfera, que ele desenvolve a partir do filósofo Gernot Böhme, em detrimento da “paisagem”, no sentido que “paisagem” é algo intocado e atmosfera é eminentemente relacional.

Um outro detalhe, de âmbito mais geral, seria a questão da ontologia e epistemologia, outro item presente ao longo da obra de Ingold. Em suas provocações da ordem de uma anti-disciplina, ao seguir linhas imanentes e vivas, Ingold critica essa separação e diz que não dá para pensar uma sem a outra. Mais uma vez, se Deleuze e Guattari ainda falam eventualmente em “ontologia”, sua obra é exemplo de imanência ao longo de ontologia e epistemologia, ainda que isso não esteja explícito. Se formos, de forma consistente, partir de uma imanência, é preciso apreender a imanência ao longo de epistemologia e ontologia, ou seja, sem mais o dualismo de ser e pensar. A partir de uma imanência, “ser” se converteria em devir, como iniciamos este artigo e “pensar” se converteria em saber, ou melhor, “conhecimento” se converte em sabedoria. Esse é o tema do livro Anthropology and/as education de Ingold, que orbita em torno da ideia de que educação, no sentido ingoldiano em que ela ressoa com a antropologia, está muito mais ligada à atenção do que à “transmissão”! A atenção aqui não é um processo cognitivo e sim, ecológico, no sentido de juntar (togethering). Esse “juntar” é, para Ingold, o que faz a diferença da interação (que nos referimos anteriormente) para a correspondência, tema do seu novo livro. A “interação” é uma alternância de ações e a correspondência é o  juntar. Ingold dá o exemplo do jogo de xadrez. Interação seria a alternância individual de resposta ao movimento do outro. Correspondência, por sua vez, seria a itinerância de ambos no amor pelo xadrez. Isso culmina em uma crítica de Ingold ao conceito de “alteridade”. Não seria uma questão do ‘outro”, mas de, mais uma vez, juntar. Nada mais spinozista e deleuziano. Não é uma questão de “eu e você”, mas de nós! E, quem sabe, nós não apenas no sentido da correspondência ao longo de sujeito e objeto, mas também dos nós que emaranham as linhas ingoldianas…

Nesse citado Correspondences, Ingold traz os desdobramentos de seu projeto Knowing from Inside, em que, entre outras propostas, ele é convidado por diversos artistas para comentar suas obras. Se Deleuze fez inúmeras contribuições ao conceituar a partir do cinema, das artes plásticas e da literatura, e Guattari escreve uma espécie de romance, Ritornelos,  baseado em suas memórias e até um roteiro para de filme de ficção científica, Uiq, em Correpondences, essa verve é tecida por Ingold junto aos artistas, cuja atmosfera permite que ele publique no livro alguns de seus poemas, além do fato dele tocar cielo.

Deleuze diz em seus cursos sobre Spinoza que o terceiro gênero do conhecimento conceituado pelo filósofo polidor de lentes, ou seja, a intuição, é “misteriosa”. Por sua vez, com Ingold, nesse seu Correspondences, apreendemos a intuição com uma maturidade rara nos pensadores “ocidentais” – observada em poucos, como Spinoza e Bergson -, evidenciando como ninguém a diferença entre conceituar “sobre” a imanência e conceituar na imanência!

 

Autor

  • Criador do campo conceitual e experimental transaberes, psicólogo, doutor pelo HCTE/UFRJ e autor do livro Vórtex: modulações na Unidade Dinâmica.


quinta-feira, 24 de agosto de 2023

La conjura de los imbéciles: ¿hace falta ser un perfecto cretino para triunfar en la vida?

 


RATA INMUNDA, ANIMAL RASTRERO

La conjura de los imbéciles: ¿hace falta ser un perfecto cretino para triunfar en la vida?

Los expertos tienden a opinar que no, pero el mito del triunfador narcisista sigue mostrando una sorprendente vigencia


En 1985, según cuenta el más ilustre de sus biógrafos, Walter Issacson, Steve Jobs tocó fondo. Acababa de cumplir 30 años y ya había concebido objetos tan singulares como Apple Lisa, el primer ordenador personal con interfaz gráfica de usuario, pero sus creaciones no parecían interesar al mundo. Deprimido por las paupérrimas ventas y arrinconado en un despacho junto al cuarto de las escobas, al que se refería como “mi Siberia”, el multimillonario más joven de Estados Unidos presentó su dimisión al consejo directivo de Apple, la compañía que él mismo había fundado 11 años antes, y esta fue aceptada.

En años posteriores, John Sculley, el hombre que tomó la decisión de prescindir de sus servicios, diría que Jobs nunca estuvo “completamente fuera”, que lo que hizo fue dar un paso al costado y tomarse “unos cuantos años sabáticos”. Pero lo cierto es que el gran gurú tecnológico contemporáneo no recuperaría el control de su propia empresa hasta 1997. Justin Wm. Moyer, redactor de The Washington Post, considera que la cura de humildad sufrida por Jobs en ese meandro decisivo de su biografía sirvió para “atemperar su narcisismo” y convertirle en un líder más sensato, más equilibrado y, en definitiva, mucho más eficaz. Así, su “éxito” postrero habría sido consecuencia directa tanto de su talento (y de las dimensiones de su ego) como de su capacidad para procesar y digerir el “fracaso”.

Moyer cita un trabajo académico del Journal of Applied Psychology en el que se afirma que una cierta dosis de narcisismo atenuado o matizado puede resultar “muy saludable” y suponer una ventaja competitiva tanto en entornos laborales como en la vida en general. En el citado estudio se postula la existencia de un auténtico unicornio azul de las interacciones sociales, el “narcisista humilde”. Un individuo dotado de ambición, asertividad, autoconfianza, carisma y visión estratégica, pero con capacidad para reconocer sus propios límites y aprender de sus errores. En términos similares se expresa Sean Coughlan, redactor de la BBC, en un artículo en que se afirma que los narcisistas, pese a lo “insoportables” que resultan por “su afán de llamar la atención”, disponen de una cualidad mágica, la “fortaleza mental” derivada de su “sentimiento de superioridad”, que les resulta muy útil a la hora de obtener el éxito “en los estudios, el trabajo o el amor”. Es decir, en (casi) todo lo que implica reconocimiento y prestigio.

¿Personalidades patológicas o el próximo peldaño evolutivo?

Aunque el narcisismo es uno de los rasgos de personalidad que, junto a la psicopatía y el maquiavelismo, forma parte de la llamada tríada oscura, los que disponen de él, en opinión de Konstantinos Papagiorgiou, profesor asociado de la Universidad de Belfast, “suelen ser socialmente exitosos, porque no se dejan disuadir por el rechazo y su necesidad de atención puede hacer que resulten encantadores y muy motivados”. Un narcisista se siente “mejor” que el común de los mortales y considera que debe ser “premiado” por ello. Para Papagiorgiou, resulta evidente que, en entornos competitivos, “si prescindimos de consideraciones morales y nos centramos solo en el éxito”, el narcisismo (equilibrado o no) es una cualidad muy positiva.

¿Hace falta ser un perfecto imbécil para tener éxito en la vida? La pregunta no es en absoluto retórica. Forma parte de las conversaciones cotidianas y son muchos los expertos en liderazgo, piscología o incluso ciencia política que la han planteado en estos o similares términos. Por supuesto, la respuesta dependerá, en gran medida, de qué entendamos por “perfecto imbécil” y hasta qué punto consideremos que los narcisistas, incluidos los narcisistas matizados o “humildes”, encajan en la definición.

Steve Fishman, periodista de The New York Mag, incluye en la escurridiza categoría de “imbéciles” (jerks) a un muy amplio espectro de ególatras, vanidosos, individualistas, presuntuosos, petulantes e insolidarios. Concede que individuos así predominan de manera muy acusada en puestos de responsabilidad y liderazgo en las sociedades democráticas de libre mercado, pero exhorta a sus lectores a “no convertirse en uno de ellos” y les invita a explorar, como alternativa, rutas más constructivas y empáticas hacia el éxito. Intenta resistirse así a la “alta prevalencia del narcisismo” en la cultura popular, exacerbada en entornos como los reality shows, las redes sociales, la política o cierto tipo de empresas. En cierto sentido, describir a los infatigables promotores de sí mismos como perfectos imbéciles ya resulta, para Fishman, un acto de resistencia contra el narcisismo ambiente.

Sobre toxicidad, culturas y contextos

Para Margarita Mayo, doctora en Psicología y Comportamiento Organizacional y profesora de la IE University, el éxito individual “no existe fuera de un determinado contexto”, sino que depende de cómo está organizado un grupo humano y cuáles son la cultura y los valores que predominan en él. En consecuencia, “ser una persona con características narcisistas puede ser una ventaja en entornos en los que predomina una cultura competitiva y tóxica”. Mayo define como tales “a las organizaciones que promueven la competitividad, la falta de transparencia y la imagen por encima de los resultados”. Es en estos reductos de la imbecilidad sistemática donde de verdad triunfan y proliferan los imbéciles: “Los narcisistas acceden a la cúspide de este tipo de organizaciones porque encajan en sus valores: la apariencia de grandiosidad y la falta de empatía”.

En opinión de Fernando Botella, experto en formación y desarrollo de altos ejecutivos y autor de ensayos como Salta contigo: ¿Y si eliges ser valiente?, la percepción social de que son los imbéciles los que copan la cima de la pirámide está muy extendida porque “por desgracia, tiene algo de real”. Botella asegura que, entre la gran cantidad de directivos de empresa que ha tenido la oportunidad de conocer, predominan “los de perfil amable, asertivo y empático, mientras que los imbéciles empiezan a ser una minoría menguante”.

El formador y divulgador cita un “gran estudio conjunto de las universidades de Hong Kong y Iowa que muestra cómo la jerarquía de la imbecilidad, por llamarla de alguna manera, retrocede en las empresas más competitivas del mundo, sustituida de manera gradual por la jerarquía amable, los liderazgos democráticos y habilitadores, basados en el sentido común”. Ocurre incluso en Estados Unidos, “gran reducto del narcisismo empresarial”, e incluso en mayor medida en la más “social” y cooperativa Unión Europea.

Cameron Anderson, al que Botella considera, “uno de los grandes referentes internacionales en el estudio del funcionamiento de las organizaciones”, ha teorizado sobre este “cambio de paradigma” que supone el ocaso de “los hombres (y mujeres, pero sobre todo hombres) providenciales en beneficio de una gestión rigurosa pero flexible y amable de los grupos humanos”. El problema, desde la óptica de Botella, “es que todavía no hemos afinado del todo nuestros mecanismos de detección de líderes asertivos y amables, aún tendemos a confundir asertividad con narcisismo y autoconfianza agresivas”. Son cualidades muy distintas, pero, en un examen superficial, “un narcisista puede hacerse pasar por un líder asertivo y empático, que es el verdadero líder del presente y el futuro y el tipo de perfil que las organizaciones más avanzadas buscan”.

Competir o cooperar

Para Moisés Ruiz, profesor de la Universidad Europea y autor de varios libros sobre gestión y liderazgo, “hay imbéciles que tienen éxito, sin duda, y muchos de ellos encajan en la patología que ya Sigmund Freud definió como narcisismo”. Ruiz se muestra dispuesto a admitir que “en sociedades orientadas a la competición a ultranza, a la guerra de todos contra todos como combustible de la movilidad social, un cierto grado de narcisismo bien encauzado puede resultar incluso necesario”.

Los narcisistas “leves” sacan partido a cualidades, como la seguridad en sí mismos o la autoconfianza, que les permiten “hacer pie con mayor facilidad en un mundo asquerosamente competitivo en el que otras personas, tal vez más instruidas y capaces, tienden a ahogarse”. Eso explica que predominen “en las empresas que apuestan por políticas de expansión agresiva y, más aún, en el mundo de la política, donde el carisma, la gran cualidad de los narcisistas, sigue cotizando muy al alza”.

Botella insiste, pese a todo, “en que el éxito del ególatra con agenda propia y carente de empatía tiene las alas muy cortas”. Cuando acceden a posiciones de auténtico poder y responsabilidad y, sobre todo, se ven en la tesitura de gestionar grupos humanos, “sus límites y carencias se hacen evidentes”. El narcisista “puede navegar bien con viento a favor”, pero tiende a “hacer tierra quemada” con su egoísmo y falta de madurez y perspectiva. A la larga, “los individuos de este tipo resultan tóxicos tanto para las personas que se asocian con ellos como para sí mismos”. Si el narcisismo se considera una patología es porque “no suele ser compatible con una vida saludable, rica y feliz”.

Mayo coincide en la “toxicidad fundamental de los narcisistas”. En general, son pésimos líderes porque crean “un ambiente enrarecido y de desconfianza entre los miembros de los equipos que lideran”. Padecer a un líder narcisista suele implicar para los trabajadores “altos niveles de estrés que pueden convertirse en crónicos, dado que el cerebro se sitúa en un estado de alarma permanente que genera altos niveles de cortisol”. A medio plazo, esa cultura de la toxicidad sistemática hará que “los mejores empleados se marchen”, con la consiguiente pérdida de capital humano.

Promover y cultivar el narcisismo cuesta caro. Por desgracia, según admite Mayo, los estudios siguen demostrando que “las personas narcisistas tienen más posibilidades de llegar a posiciones directivas que otras personas con similar nivel técnico”. El narcisismo es, pues, la cualidad diferencial que sirve para desempatar entre candidatos de una capacidad equiparable. El arma secreta que permite llevarse el gato al agua en la prórroga. O en los penaltis.

Mayo cree que eso se debe, como también sugería Botella, a que los narcisistas resultan en un primer momento “personas atractivas, carismáticas e inteligentes”, además de con capacidad para proyectar una falsa imagen de cordialidad y cercanía que hace que sus interlocutores se sientan “especiales”. Otro detalle que juega a su favor es que “los seres humanos estamos programados para evitar la incertidumbre y, en momentos de crisis, cuando somos más vulnerables, tendemos a confiar en personas con características narcisistas, porque parecen ofrecernos soluciones fáciles en el corto plazo”.

Ruiz coincide en que tenemos tendencia a atribuir a “líderes mesiánicos y providenciales, que suelen ser grandes narcisistas” la responsabilidad de “pilotar la nave en tiempos convulsos”. Cree que ha ocurrido en la política contemporánea, con el auge de liderazgos de una egolatría tóxica, como los de “Trump,Bolsonaro, Putin y compañía”, pero también en la empresa privada: “El ejemplo más paradigmático me parece Elon Musk,que gracias a su carisma, intuición y empuje consiguió triunfar con iniciativas como Tesla, pero ahora está fracasando estrepitosamente en X/Twitter, porque sus éxitos iniciales han acabado potenciando su egolatría y le han hecho perder de vista el mundo”.

Ruiz aventura que “el líder lince” está en crisis. La “extraña década” que nos ha tocado vivir, con acontecimientos tan desconcertantes y disruptivos como la crisis del coronavirus, nos ha hecho comprender que “no podemos ponernos en manos de falsos profetas, como Donald Trump, que viven inmersos en su propio relato y se creen sus propias fantasías”. El académico cita a Yuval Noah Harari, gran impulsor de una tesis con la que él coincide: “En contra de lo que lleva predicando el neoliberalismo más agresivo desde hace décadas, la historia evolutiva demuestra más bien que los seres humanos progresamos de verdad cuando cooperamos, no cuando competimos. El individualismo y la competencia feroz son recetas para el desastre. Es mucho más fértil competir desde el respeto mutuo, los marcos de cooperación y una actitud generosa que acepte que la actividad económica y social no tienen por qué ser juegos de suma cero, que podemos organizarnos de manera que casi todos ganemos o casi nadie pierda”.

Es en ese contexto en el que encajan “los nuevos líderes”. Perfiles, remata Ruiz, como los que propone Simon Sinek en su libro Los líderes comen al final, “un antídoto elocuente contra espejismos destructivos en el que se afirma, de manera muy acertada, que un verdadero líder, un buen jefe, es el que te escucha y te protege”. Botella reivindica también la “inteligencia conectiva”, el talento de un buen líder capaz de hacer que “la comunicación fluya y la colaboración libre dé sus frutos, todo lo contrario que hacen los narcisistas, con su tendencia a aplicar un embudo, crear un clima de terror, desincentivar la discrepancia y el pensamiento libre, así como perseguir siempre una agenda propia, egoísta y mezquina”. Para él, Trump y compañía son “competidores absolutos abocados, en última instancia, al fracaso”. Ruiz aventura incluso que es muy probable que se sienten infelices y fracasados: “Detrás de un narcisista suele haber casi siempre una persona infeliz, incapaz de conciliar la realidad con la imagen desmesurada que tiene de sí mismo”.

Mayo precisa, pese a todo, que ese narcisista “humilde” en que, según Moyer, se convirtió Steve Jobs en su madurez, después de conocer el fracaso, sí podría ser un modelo de éxito y liderazgo viable: “A veces se confunde el narcisismo con un grado sano de confianza en sí mismo. Yo diría que los rasgos narcisistas corresponden a personalidades de baja calidad. Pero una dosis alta de autoestima y confianza en uno mismo sí me parece necesaria para obtener éxitos en la vida”. Más que venenos, tal vez convenga hablar de dosis: “En mis charlas pongo mucho énfasis en la necesidad de un cambio de paradigma que nos haga pasar del líder narcisista que lo sabe todo al líder auténtico, con una percepción más equilibrada de sí mismo”.

Issacson y Moyer parecen creer que Jobs acabó resistiéndose a su tendencia a la tríada oscura, al reverso maligno de la Fuerza, para convertirse en un triunfador del segundo tipo, un líder ponderado y maduro. Tal vez Steve Fishman estaría de acuerdo con esta paradójica idea: los imbéciles triunfan de verdad cuando encuentran la manera de dejar de serlo. Aunque Ruiz discrepa: “Si algo he aprendido a lo largo de los años es que el narcisismo no se cura”.

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SOBRE LA FIRMA

Miquel Echarri

Periodista especializado en cultura, ocio y tendencias. Empezó a colaborar con EL PAÍS en 2004. Ha sido director de las revistas Primera Línea, Cinevisión y PC Juegos y jugadores y coordinador de la edición española de PORT Magazine. También es profesor de Historia del cine y análisis fílmico.