SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 30 de abril de 2022

As raízes cabalísticas do conceito de Negatividade.

 


por J. C. Marçal*


RESUMO:O objetivo deste artigo é discutir o conceito de Negatividade assim como o mesmo aparece na tradição cabalística judaica, mas especificamente no texto do Sêfer Ietsirá. Este conceito é fundamental para se entender a ideia da negatividade de Deus ou do Uno em pensadores como Filon de Alexandria, Plotino, Proclo, Dionisius e Mestre Eckhart.


PALAVRAS CHAVES: Deus, Negatividade, Cabala.


A Cabala representa a suma judaica1. Trata-se de uma tradição judaica – que no decorrer dos séculos adentra a esfera do misticismo cristão e islâmico - que se debruça sobre as coisas divinas. Esta tradição caminha lado a lado com a Bíblia e funciona como “uma tradição destinada a capacitar certa classe de iniciados a explicar e compreender a Lei (Thorah)”2. Em termos da dogmática místico-filosófica da Cabala, esta pode ser estruturada a partir de duas obras essenciais: o Sêfer Ietsirá e o Zohar. As especulações místicas nesta área se dividem na obra do carro (maase mercaba – o Zohar) e na obra da criação (maasse bereschit – o Sêfer Ietsirá)3. O Sêfer Ietsirá trata da obra da criação estruturando uma diferença entre o Deus não manifesto entendido como pura negatividade, o Ain-Sof Or (rwa ws wya), e o mundo manifesto, ou seja, as dez Sephiroth e os vinte e dois caminhos da Árvore da Vida ( ). O Zohar, por seu turno, “é um comentário cabalístico do Pentateuco”4.


* Professor Doutor em Filosofia pela UFPE. Professor da Faculdade Joaquim Nabuco. E-mail: introitu@hotmail.com.


O Sêfer Ietsirá – texto provavelmente construído no século I d.C.5 – constitui uma das fontes principais para se entender a filosofia e a dogmática mística da Cabala. Entretanto, há uma controvérsia sobre a origem do conhecimento e da própria tradição cabalística. Adolphe Franck, por exemplo, sustenta a tese de que os principais conteúdos das doutrinas cabalísticas foram tomados emprestados dos teólogos persas6. Scholem cita a teoria de F. A Tholuk (Commentatio de vi, quam graeca philosophia in theologia Tum Muhammedanorum tum Judaeorum exercuerit. II. Particula: De ortu Cabbalae) que afirma que a Cabala é historicamente dependente do Sufismo Mulçumano7. Scholem, porém, acredita que estas teses não devem ser levadas academicamente a sério. Scholem parte da análise das teorias de Graetz e Neumark para delimitar a origem da Cabala. Para Graetz, a Cabala surge como uma resposta contra o racionalismo radical de Maimônides8. Neumark, ao contrário, assinala uma data anterior e propõe que a Cabala na verdade se trata de um desenvolvimento filosófico e místico do próprio judaísmo9.


Scholem defende a teoria de que a Cabala “como um fenômeno histórico no judaísmo medieval”10, nasceu em Provença, e mais ainda na parte ocidental, ou seja, em Languedoc. Todavia, o próprio Scholem reconhece a impossibilidade de datarmos acertadamente o Sêfer Ietsirá e cita um manuscrito do século dez do texto que não pode ser tomado como original, mas apenas como indicação da existência mais tardia desta mesma tradição11. É nesta direção que Kaplan pode afirmar a antiguidade do texto.


Os estudiosos da Cabala – independente desta controvérsia - afirmam que há três divisões categorias para a mesma: teórica, meditativa e mágica. A primeira divisão trata da dinâmica espiritual e se concentra, basicamente, no Zohar12. Neste tratado temos a análise cabalística para o mundo fenomênico – as dez Sephiroth13 – a estrutura da alma e dos anjos. A segunda categoria trata do uso dos nomes divinos através de meditação e que traz em seu lastro a maioria dos textos publicados sobre Cabala. A terceira categoria está estritamente ligada à segunda. Trata-se do uso de “sinais, encantamentos e nomes Divinos através dos quais se poderá influenciar ou alterar os eventos naturais”14.


Neste sentido, o Sêfer Ietsirá – de acordo com a tradição talmúdica – seria um texto meditativo. Entretanto, a despeito de sua essência prática, o texto possui como base uma metafísica própria necessária à compreensão da prática meditativa. Esta metafísica é a base mesma da estrutura filosófica da Cabala. Há, então, duas esferas de articulação: uma esfera que a linguagem representacional não alcança, já que sua natureza é de pura negatividade e outra cuja linguagem se debruça por um processo de surgimento desta esfera anterior. Em termos filosóficos, poderíamos estabelecer uma analogia com a esfera ontológica e a esfera ôntica.


Em termos cabalísticos do próprio Sêfer Ietsirá, como lemos no Capítulo 1, Deus (Yah) gravou com “32 caminhos místicos de Sabedoria” a estrutura de seu universo a fim de criá-lo. O verbo gravar (Chacac, qqh)) tem “usualmente a conotação de remover material”15. Mas este verbo só pode ser devidamente compreendido nesta fórmula quando possuímos a ideia exata de criação dada. 


Isto significa:

Antes de o universo ser criado, existia um espaço vazio no qual ele pudesse ser feito. Mas, inicialmente, só Deus existia, e toda a existência estava cheia da Essência Divina, a Luz do Infinito (Or Ên Sof). Nesta Essência indiferenciada, um espaço vago teve que ser gravado. O processo, conhecido pelos cabalistas como o TsimTsum (Constrição)16, está claramente descrito no Zohar: No princípio da autoridade do rei/ A Lâmpada da escuridão/ Gravou um

13 As dez Sephiroth (xwiiyps) – Sephirah (hriiyps) no singular - respondem pela estrutura manifesta de Deus a partir da negatividade, Ain-Sof Or (rwa ws wya) . Esta estrutura recebe o nome de Árvore da Vida (Etz Hachayym - como em Gênesis 2:9) – dez centros e vinte e dois caminhos (as 22 letras hebraicas) que os interligam. Segundo Fortune: “Cada Sephirah (forma singular do substantivo plural Sephiroth) representa uma fase de evolução e, na linguagem dos rabinos, as Dez Esferas recebem o nome das Dez Emanações Sagradas. Os Caminhos entre elas são fases da consciência subjetiva, os Caminhos ou graus [...] através dos quais a alma desenvolve a sua compreensão do cosmo. As Sephiroth são objetivas; os Caminhos são subjetivos”.


O vazio gravado na Luminescência Divina foi o espaço Vago, no qual toda a Criação subsequentemente ocorreu17.


Os cabalistas usam dois termos para falar deste espaço conceitual vazio que contém a possibilidade para a informação: o Caos (Tohu) e o Vazio (Bohu)18. Isto é retirado do próprio relato do Gênese 1:2 onde lemos que a terra antes era caos e vazio. O Caos é onde há a possibilidade da informação existir, mas “no qual esta possibilidade ainda não foi realizada”19 – os cabalistas determinam esta região como o Espaço Vago onde primeiro temos o uso do verbo “gravar” para depois surgir o verbo “criar”. A distinção aqui dada é importante: o Espaço Vago permite que o manifesto – os fenômenos – surjam. O mundo manifesto, fenomênico, é entendido na Cabala como a Árvore da Vida com suas dez Sephiroth e seus vinte e dois caminhos. As Sephiroth abrangem o mundo dos atributos divinos. Entretanto, para os místicos, as Sephiroth são a própria vida divina na medida em que esta se move em direção à Criação. Mesmo que possamos pensar numa diferença ontológica dada aqui pela própria Divindade em si e as Sephiroth, devemos entender que para os cabalistas esta vida não estava apartada da própria Divindade:


Mas essa vida não é separada da Divindade, nem lhe é subordinada, mas é, antes, a revelação da raiz oculta, a respeito da qual nada pode ser dito, nem mesmo através de símbolos, já que ela nunca é manifestada, raiz essa que os cabalistas chamam en-sof, o infinito. Mas esta raiz oculta e as emanações divinas são uma só coisa20.

É do Espaço Vago que advém aquilo que é enquanto fenômeno. No versículo 1:2 do Sêfer Ietsirá lemos: “Dez Sefirot do nada”21.


As Sephiroth, as emanações que manifestam mundo e que advêm da pura negatividade, Ain-Sof Or, originam-se do nada. Para falar do nada o Sêfer Ietsirá usa a palavra Beli-ma (hmylb) que pode também ser traduzida por absoluto, inefável, abstrato, fechado. De modo conciso, temos:


Esta palavra aparece uma só vez na Escritura, no versículo: “Ele estende o norte sobre o Caos, pendura a terra sobre um nada (Beli-ma)” (Jó 26:7). Segundo muitos comentários, a palavra Beli-ma deriva de duas palavras, Beli, que significa “sem”, e “Ma”, que significa “o que” ou “algo”. A palavra Beli-ma viria então a significar “sem absolutamente nada” ou “nada”22.


Todavia, o conceito de Beli-ma não deve ser apressadamente associado ao conceito de Deus. Na valoração cabalística para Beli-ma – o valor numérico que cada letra hebraica possui somado na palavra – teríamos a soma 87, enquanto que em relação ao nome divino Elohim teríamos a soma 86; o número anterior. Deste modo, os cabalistas parecem entender que Beli-ma se trata na verdade de um estágio posterior à pura essência do Divino. É este caráter incognoscível desta essência – sua compreensão – que permite a distinção entre a negatividade e o manifesto.


Porém, no solo próprio em que os conceitos da negatividade e do nada se articulam, parece haver uma co-pertença entre ambos, uma dinâmica muito própria – se é possível falar assim sobre o que é incognoscível – que é o fundamento daquilo que existe. Na dimensão própria do manifesto, os cabalistas se referem a Kether (rtk), a primeira Sephirah, como a Causa, enquanto que Malkuth (tiwblj), a última Sephirah, seria o Efeito. Mas como a Causa não pode existir sem o Efeito, há uma interdependência entre estas duas Sephiroth. Assim, em termos cabalísticos: “Como Causa não pode existir sem Efeito, o Efeito é também a causa da Causa. Neste sentido, o Efeito é a causa e a Causa é o efeito. Já que princípio e fim são inseparáveis, ‘seu fim está contido em seu princípio e seu princípio em seu fim’”23.


Entretanto, a Cabala não quer conquistar com isso uma definição do que possa ser Deus. Deus, para a Cabala, não pode ser entendido como causa, uma vez que a causa é, em algum grau, dependente de seu efeito. A causa é uma criação e, portanto, posterior a Deus e Este, em si mesmo, não depende de Seu efeito. Coloca-se, então, uma questão problemática sobre Deus e a Criação. 


Primeiramente devemos entender que para a Cabala – especialmente em seu sentido mais prático de aproximação com o Divino – todo e qualquer conhecimento religioso de Deus só pode ser obtido através “da contemplação do relacionamento de Deus com a criação”24. Faz-se necessário, portanto, estabelecer minimamente a possibilidade de entendermos não a Divindade em sua essência, mas sim o limite imposto entre aquilo que pensamos entender e o que não está sujeito a tal apreensão. Esta distinção é fundamental se quisermos tornar claro o que a Cabala pensa sobre Deus e sua negatividade. Em sua essencialidade divina, Deus não pode ser compreendido, ou seja:


Deus em Si, a Essência absoluta, está além de qualquer compreensão especulativa ou mesmo extática. A atitude da Cabala para com Deus pode ser definida como um agnosticismo místico, formulado de uma maneira mais ou menos extremada e perto da posição do neoplatonismo. A fim de expressar este irreconhecível aspecto do Divino os antigos cabalistas da Provença e da Espanha cunharam o termo Ain-Sof (“Infinito”). Esta expressão não pode ser remontada a uma tradução de um termo filosófico em latim ou árabe. É, antes, uma hipostatização que, em contextos que lidam com a infinitude de Deus ou com Seu pensamento que “se estende sem fim” (le-ein sof ou ad le-ein sof), trata a relação adverbial como se fosse um nome e a usa como um termo técnico25.


Scholem afirma que o termo Ain-Sof não remonta a uma tradição filosófica exterior à tradição judaica. Ele tem em mente a tese de David Ginsburg onde o termo é uma derivação e imitação do termo grego Apeiros (A2peirov) e, mais ainda, o sentido dado ao Ain-Sof – superior ao conhecimento, pensamento e ao ser atuais – é de origem neoplatônica26. O equívoco de Ginsburg, segundo Scholem, é entender que o documento mais antigo da tradição cabalística refere-se ao catecismo neoplatônico sobre as Sephiroth elaborado por Azriel que era discípulo de Isaac que em seus trabalhos já cita o Bahir como uma das bases para suas doutrinas cabalísticas. Para Scholem é possível falar em certos momentos em que o conceito de Ain-Sof trafega por influências neoplatônicas, mas jamais se pode afirmar que este trânsito delimita o todo

do conceito. A questão, posta por Scholem, e que é derivada deste contexto, é: em que termos podemos entender a origem do conceito Ain-Sof? Ele explica:


Ele (o conceito) não resulta de uma tradução deliberada, mas de uma interpretação mística dos textos que contém a composição do termo ́en-sof num sentido perfeitamente adverbial, e não como um conceito específico. A doutrina de Saadya Gaon, em particular, abunda em afirmações sobre a infinitude de Deus [...] Tobias bem Eliezer, que escreveu por volta de 1097, também acentua precisamente esta qualidade de Deus no contexto de uma referência aos escritos místicos de Hekhaloth27.


Neste sentido, parece plausível afirmar que Scholem corrobora a tese de Kaplan sobre a antiguidade das origens desta tradição. A negatividade não surge em sentido derivado, mas como um conceito muito próprio, já que responde por uma interpretação mística dos textos e, em especial, da própria Bíblia – o Velho Testamento.


Ain-Sof é a perfeição absoluta e há, mesmo nesta “definição”, a manutenção deste “mistério” que envolve Deus. Pode-se falar, em termos didáticos, de uma “causa infinita” – o que, para bem da verdade, não diz absolutamente nada, já que os cabalistas entendem que na negatividade nem mesmo há vontade. A direção apontada aqui é a de que com referência à negatividade Divina o pensamento não pode atingir uma compreensão. Trata-se de uma “luz” escondida28, de uma superfluidade (provavelmente uma tradução para o termo neoplatônico hyperousia)29.


Por mais díspares que sejam os termos dados pelos cabalistas, devemos entender que eles não estão atrás de uma conceituação do termo. Ao contrário, querem apenas indicar que Ain-Sof e “seus sinônimos estão acima ou além do pensamento”30. Isto é possível de entender quando a Cabala fala do ocultamento de Deus. Mesmo as especulações acerca de uma possível diferença entre o Deus oculto e o Deus manifesto não é legítima para esta tradição, já que a Criação possibilita, em si mesma, que a objetivo deste processo no Ain-Sof. Scholem entende que explicações desta natureza possuem função meramente simbólica e acrescenta:


A decisão de sair do ocultamento para a manifestação e criação não é em nenhum sentido um processo que é necessária consequência à essência do Ain-Sof; é uma livre decisão, que permanece um mistério constante e impenetrável (Cordovero, no início de Elimah). Portanto, na opinião da maioria dos cabalistas, a questão da motivação última da criação não é legítima, e a alegação encontrada em muitos livros de que Deus queria revelar a medida de Sua bondade está ali simplesmente como um expediente que nunca é sistematicamente desenvolvido. Esses primeiros passos para fora, em resultado dos quais a Divindade torna-se acessível para as investigações contemplativas dos cabalistas, acontecem dentro do Próprio Deus e não “saem da categoria do Divino” (Cordovero).35


O que divisamos até aqui é uma doutrina cabalística que trata da emanação e da criação. O problema surge quando se quer pensar as determinações capazes de indicar este primeiro movimento do Ain-Sof em direção à criação. A doutrina das etapas de manifestação contínua das Sephiroth parece, portanto, se confundir com esta primeira emanação. Porém, seguindo uma direção um pouco diferente, temos a doutrina da criação na Cabala luriânica. Ali, temos uma diferença radical (um abismo) entre o Ain- Sof e o mundo da emanação. Esta doutrina possui três pontos fundamentais de articulação: os conceitos de Tsimtsum (Contração), Shevirah (A Quebra dos Vasos) e Tikun (Reintegração Cósmica)36.


De modo sucinto, podemos delimitar o corpo conceitual destes termos do seguinte modo:


1.Tsimtsum: O primeiro ato do Ain-Sof não foi “de revelação e emanação, mas, pelo contrário, foi de ocultamento e limitação”37. Deus se contrai e permite que algo que não o Ain-Sof possa vir à existência. Este lugar é entendido como um ponto em Sua infinitude – mas, segundo os cabalistas, compreende todo o Universo de nosso ponto de vista. Todos os poderes de Deus estão ocultos no Ain-Sof, mas o tsimtsum foi a realização de um julgamento (Din) e autolimitação. O Ain-Sof continua o tsimtsum dando força formativa à criação, daí a compreensão cabalística acerca da distinção da luz do Ain-Sof (a vontade) e o próprio Ain-Sof incognoscível (é a primeira que permite que algo como a continuação ocorra). A diferenciação, o múltiplo da criação se dá não no Ain-Sof em si mesmo, mas no tsimtsum através da criação de vasos (kelim) onde a “essência divina que permaneceu no espaço primordial é precipitada para fora”38. Entretanto, devemos ter em mente que para os cabalistas toda esta descrição deve possuir caráter apenas figurativo já que baseada numa perspectiva humana.


2. Shevirah: trata-se da exigência de dá termo aos processos anteriores à estrutura complexa da criação e de uma diferenciação. Os vasos são as formas do manifesto que vão da primeira forma assumida depois do tsimtsum (o Adam Kadmon, ou seja, o homem primordial ou arquetípico) à Malkuth, a décima Sephirah. As luzes das Sephiroth recebiam vasos para se organizarem – as três primeiras Sephiroth conseguiram manter sua luz, mas a luz que se propagou para as outras Sephiroth foi derramada de uma só vez e os vasos de cada Sephiroth se quebraram. Parte desta luz retornou para sua fonte, “mas o resto foi arremessado junto com os próprios vasos”39 e das cascas surgiram tanto a matéria bruta quanto a essência do mal, as kiplot.


3. Tikun:, os vasos quebrados estavam sujeitos à restauração e é por isto que Tikun significa a “restauração do universo a seu desígnio original na mente do Criador”40; trata-se de recompor a luz emanada por Adam Kadmon, ou seja, um processo de redenção que só cabe ao homem realizar41.


Contudo, apesar destes desenvolvimentos posteriores à compreensão da distinção entre Ain-Sof e mundo emanado, ainda permanece a questão de sabermos se o conceito de negatividade é, na tradição judaica, anterior ao Sêfer Ietsirá como aponta Kaplan ou se o mesmo é plenamente devedor do neoplatonismo com alguns acréscimos originais como indica Scholem.


Como a primeira posição é inverificável, devido ao caráter mesmo das impossibilidades de verificação documental sobre o tema, deve-se partir das raízes neoplatônicas do conceito da negatividade que surgem com Filon de Alexandria quando este conjuga a filosofia grega com a metafísica mística dos judeus para conquistarmos uma visão mais abrangente do conceito e as implicações filosóficas de seus desenvolvimentos na História. Com Filon se abre, em definitivo, a compreensão desta negatividade do ser-Deus e que trará implicações fundamentais nos desenvolvimentos do Neoplatonismo e da mística cristã que seguirá aquilo que ficou conhecido como a via negativa. É anda controverso afirmar taxativamente a influência da tradição negativa cabalística no pensamento de Filon. Emile Bréhier, por exemplo, não acredita que Filon esteja devidamente assentado sobre raízes profundas no judaísmo por acreditar que a colônia judia alexandrina ficara esquecida pelos comentadores da Torah42. Wolfson, por outro lado, discorda plenamente de Bréhier por acreditar que o judaísmo no tempo de Filon pertencia ao mesmo tronco do judaísmo farisaico que dominava o Sinédrio e que prosperava na Palestina43. Além do mais, Filon é acusado de desconhecer o idioma hebraico e lançar mão da Septuaginta, a tradução grega da Bíblia. Seja como for, o próprio Filon não encarava tal questão como problemática, uma vez que era crença pessoal sua de que se Deus havia inspirado os homens na composição da Bíblia em hebraico, Ele deveria ter inspirado os tradutores a escolherem os melhores termos em grego para sua tradução e manter, deste modo, viva a mensagem surgida originalmente em hebraico.


No seu De Vita Mosis é atestado essa sua compreensão, já que se trata especialmente de manter ativa uma aproximação, através da linguagem, com esse Deus vivo que surge para Moisés e que deve ser conhecido por todos. O que se opera, então, é o choque entre uma tradição criacionista, a hebraica, e a tradição grega, centrada num imanente perene e que, mesmo tendo elaborado a figura do primeiro motor, não o pensava como um Deus criador separado do mundo criado por Ele mesmo. A separação entre aquele que cria e a obra de sua criação é um privilégio da tradição hebraica e que penetra o mundo helênico exatamente através da figura de Filon. Deste modo, entender- se-á, diferentemente do modo grego, que o cosmo não pode ser compreendido como o primeiro Deus, como o Criador em si, mas sim como sua obra, sendo um Deus sem forma, mas que torna todas as coisas visíveis, construindo a natureza. Este Deus, para Filon, que “ama a virtude, a piedade e a excelência”44, é “Pai e Criador do Universo”45 e possuidor de um abismo em que Ele mesmo é invisível, sem forma, sendo um mundo incorporal, a essência, que é o modelo de todas as coisas existentes46.


Mas esta negatividade divina frente ao mundo não define uma diferença ontológica insuperável. Ao contrário – assim como o processo de tikun cabalístico – o homem pode se voltar para esta realidade e relacionar-se com ela. Esta é a estância ontológica do divino que estabelece o modelo de tudo o que pode ser visitado pelo homem que se dedica à virtude e à excelência, pois em sua alma será possível realizar esta união, já que a própria origem é fonte e pela imitação de suas virtudes no mundo manifesto a alma pode inserir-se num estado de relação com a mesma. Escreve Filon:

E felizes são eles que foram capazes de tomar, ou que trabalham diligentemente para tomar uma cópia fiel desta excelência em suas almas; por deixar a mente, acima de todas as outras partes, tomar a perfeita aparência da virtude e, se isso não se realizar, então é preciso deixar que um sentimento decidido e constante surja para alcançar esta aparência; pois, de fato, não há ninguém que não saiba que um homem numa condição inferior é imitador do homem de alta reputação e estes últimos, como vemos, desejam principalmente em direção àquilo que aponta para suas próprias inclinações e esforços47.


A lei divina, portanto, aqui parece indicar um modo pelo qual o próprio Deus pode indicar um caminho para que a alma se direcione a Ele e realize esta união. Filon levava em alta conta a figura de Moisés que lhe parecia “o maior e mais perfeito homem que já existiu”48. Esta perfeição indica um modo de viver exatamente esta virtude, piedade e excelência exigidas por esta esfera originária. Tal compreensão é importante por permitir que os primeiros cristãos usassem as idéias de Filon saltando de Moisés para Jesus Cristo. Apesar de Filon não ter nada a ver com as igrejas cristãs em seus estágios iniciais, é interessante notar que os trabalhos de Filon só sobreviveram “porque eles foram tomados pela tradição cristã”49.


Seja como for, o que é inegável é a dimensão dessa mesma negatividade no pensamento teúrgico neoplatônico inaugurado por Ammonius Saccas e que teve como discípulo Plotino e que parece ter como fonte as doutrinas de Filon. A negatividade cabalística parece surgir, então, como o fundamento e a origem das visões posteriores que pensaram Deus à luz da sua negatividade. Esse conceito salta do ciclo restrito dos cabalistas primevos ao pensamento filosófico de Filon, Plotino, Proclo, Dionisius e, por fim, na mais alta tradição mística cristã com Mestre Eckhart.



REFERÊNCIAS


BREHIER, Emile. Les idées philosophiques et religieuses de Philon d’Alexandrie. Paris: J. Vrin, 1950.
FILON.
The Works of Philo judaeus. Vol. I. Londres: George Bell & Sons, 1800. FORTUNE, Dion. A Cabala Mística. São Paulo: Pensamento, 1999.

FRANCK, Adolphe. La Kabbale ou la philosophie religieuse des Hébreux. 3a ed. Paris. GINSBURG, David Christian. The Kabbalah. Londres, 1865.
GREEN, Arthur.
A Guide to the Zohar. Standford: Standford University Press, 2003. JONES, John. The Ontological Difference for St Thomas and Pseudo- Dionysius, Dionysius 4, 1980

KAPLAN, Arieh. Sêfer Ietsirá. O Livro da Criação. São Paulo: Sêfer, 2002. ______. The Bahir Illumination. Nova York: Samuel Weiser, 1979.
PAPUS.
A Cabala. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ROSENROTH, Knorr von. Kabbalah.
The Kabbalah Unveiled. 6a Ed. York Beach: Weiser, 2002.

ROTENBERG, Mordechai. Existência à Luz da Cabala. Teoria e prática do Tzimtzum (Contração) e Psicologia. Rio de Janeiro: Imago, 1999.
RUNIA, David T. Philo of Alexandria and the Beginnigs of Christian Thought, Alexandrian and Jew.
Studia Philonica Annual 7, 1995.

SCHOLEM, Gershom. A Cabala e seu simbolismo. 2a Ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. ______. Cabala. Judaica, Vol. 9. Rio de Janeiro: Koogan, 1989.
______.
Origins of the Kabbalah. Princenton: Princenton University Press, 1987 ______. Zohar – The Book of Splendour. EUA: Schocken Books, 1995.

WOLFSON, Harry Austryn. Philo: foundations of religious philosophy in Judaism, Christianity, and Islam. Vol. I. Cambridge: Harvard University Press, 1982.


sexta-feira, 22 de abril de 2022

As raízes, os jardins e a floresta chamada Terra e os personagens de uma nova História.



Plantar diversas raízes e expandir seu ser em diversas direções! Esse é melhor equilíbrio de uma vida em movimento, onde gastamos nosso tempo em uma existência bela, boa, justa e economicamente sustentável. Os processos vivos são caóticos e sistêmicos, incluindo a biologia quântica, o clima e a vida em nosso planeta. 



A guerra, o crime, e o poder são processos caóticos, sistêmicos e instáveis que buscam se manter ampliando suas violências até que mesmo os governos mais poderosos perdem ou caem. Vietnã e EUA é um exemplo, assim como a Ucrânia e a Rússia Soviética, ou grandes bancos, empresas e outros dinossauros extintos pela história.



A vaidade é delirante e ignorante em sua natureza que corrompe primeiro a alma e depois o cérebro. O sonho e as causas são os únicos antídotos para curar as patologias da violência e do poder. Porém de onde eles nascem ? Quais raízes plantamos em nossa vida e servem para colher essas sementes e frutos ?



As raízes que formam fios se entrelaçam entre si misturando-se com outras raízes de seres diferentes para juntas semear o plantio dos jardins. A respectiva multiplicação dessas raízes conectam ecossistemas ambientais e sociais distintos numa única floresta chamada Terra. É hora destituir o cimento e o aço do ódio, violências, e crimes dos poderes destruidores da natureza e da humanidade



O neoliberalismo está sendo despedaçado pela cidadania. A dança dos excluídos canta uma poética da rebelião. As raízes da diversidade e de uma inteligência plural começaram pela Revolta dos Pinguins, onde Pinochet mesmo anos fora do poder mandava pela constituição e outros violentos poderes. Assim como no Brasil, Bolsonaro representa os mesmos poderes de sempre violentos, ignorantes e corruptos. Os poderes buscam sempre dessocializar, evitar o associativismo solidário, endividar, controlar socialmente, distribuir esmolas sem direitos, incentivar o masoquismo do mérito e manter a delinquência normalizada dos ricos pelos privilégios e corrupção. Os poderes não gostam de jardins, nem de florestas, não respiram ar puro, não são democráticos, nem vivem uma vida bela, boa, justa, solidária, e economicamente sustentável. 



Nos jardins imperam a economia do cuidado, a recriação do comunitário, e ambas dispensam as formas hierárquicas pelas horizontais que apostam na pluralidade de vozes anônimas e desconfiam dos poderes individuais que fazem pactos com o sistema. Novos laços sociais e históricos emergem entre os derrotados de muitas gerações massacradas pelos poderes. Emergem as raízes, os jardins e a floresta chamada Terra e os personagens de uma nova História de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.




terça-feira, 19 de abril de 2022

Vale Brasil ! O primeiro desafio de inovar em políticas públicas com impacto social.



Durante milhares de dias, pais e mães acordam cedo para cuidar de suas crianças com deficiências. A sua missão é todos os dias conquistar seus sorrisos e dias melhores, reduzindo seus sofrimentos por falta de políticas públicas. 


Quinta feira, dia 21 de abril de 2022, depois décadas de lutas diárias sem políticas públicas efetivas, a Associação Viver e Brilhar, comemorando seu primeiro ano enquanto organização da sociedade civil, conquista um terreno em comodato numa solenidade com a Prefeita Ariana Aquino, gestora do município de Paraipaba, território localizado a 100km de Fortaleza no Ceará. Agora o objetivo, a partir de sua conquista, é o de  construir o Núcleo de Atendimento Educacional Especializado, Tratamento e Estimulação Precoce (NAETEP). O NAETEP se constitui como uma outra luta e desafio, mas agora em rede. 


 

Durante essa jornada tiveram que lutar contra burocracias partidárias e políticos que, por incrível que pareça, buscam punir lideranças locais que defendem causas públicas há décadas, por outros interesses, ou pela velha forma de fazer política no Brasil. Essas famílias  não possuem a premissa de serem candidatos, ou sequer foram eleitos para gerir prioridades e recursos públicos. São agentes de transformação social que integram grupos sociais de base. 


Todavia, à luz do orçamento público, como se definem as prioridades públicas ou mesmo o planejamento das cidades no Ceará e no Brasil? Qual a participação das pessoas e será que as suas vidas importam de verdade? O que nos discursos chamam de "democracia" e Estado público? Grupos chegam ao poder por meio de campanhas milionárias e, destes, grande parte acabam sendo sem vínculo nenhum com os territórios onde atuam. 


As cidades, nessa ótica, acabam ficando reféns de negócios e interesses outros que nada tem a ver com as políticas públicas, as vidas e as necessidades das pessoas. Há décadas matamos milhões de vidas e geramos profundas desigualdades por ausência de políticas públicas de impacto social, isso acontece  enquanto outros enriquecem às custas do dinheiro público.



Nesse sentido, a criação de coalizões e redes de diversos atores da sociedade, dividindo tarefas com transparência, pode ser um caminho para superar este desafio que é o de atender as reais necessidades das pessoas. Para isso, temos que tornar públicas as "palhaçadas" desses podres poderes com dinheiro público. 


A opinião pública nacional e internacional, a arte e a educação são fortes aliados, assim como deve ser a justiça, a mídia, os políticos e a cooperação internacional nessa guerra histórica brasileira: de um lado os que roubam o Estado e do outro os que pagam com a vida a ausência de políticas públicas. O exemplo das pessoas com deficiência é apenas um diante de milhares, em apenas em uma cidade, imaginem no Ceará e no Brasil. 



Recentemente o Deputado Renato Roseno (PSOL) fez uma declaração pública, expondo que no Ceará há cerca de 2 bilhões de reais em isenção fiscal, ou seja, existe dinheiro para empresas, mas isso se dá ao custo da exclusão da população cearense de acesso às políticas públicas, pagando assim com suas vidas às profundas desigualdades e violências. 



De outro campo político, o Deputado Heitor Ferrer (da União Brasil) denuncia há décadas a absurda corrupção no Ceará com várias matérias na imprensa nacional, atuação do Ministério Público e outros órgãos, tais como a Polícia Federal. Nos seus cálculos, são mais de um bilhão em corrupção no Ceará. Enquanto isso, as oligarquias vivem do Estado como o Coronel Ciro Gomes. 


Em outra fala Heitor Férrer apresenta os números da pobreza no Estado do Ceará, um dos piores do Brasil, incluindo a morte de pessoas por violência. Na educação, acaba por ser o quinto pior índice em analfabetismo, cerca de 6 milhões de cearenses, de um total de 9 milhões, não concluíram sequer o ensino médio. Ao invés de apenas criticar, é necessário construir caminhos.



A nossa missão é inovar em políticas públicas com mais ações e melhores impactos sociais, criando nessa jornada uma verdadeira "Rede de NAETEP". As Universidades possuem um papel essencial nessa jornada. Por exemplo, o IFCE através de seu reitor, Prof. Dr. Wally e do Prof. Dr. Igor Paim, criaram o projeto do Centro de Referência em Educação Especial, incluindo a conquista de um terreno para esse objetivo ao lado da Reitoria. 



O objetivo desse centro vai além de ser uma referência em educação especial e inclusiva, visa também desenvolver tecnologias assistivas e fabricar equipamentos educativos para as crianças e jovens com necessidade educacionais especializadas, buscando levar acesso a instrumentos que facilitem os seus processos de aprendizagem. 



A Profa. Dra. Robéria da FACED/UFC, que já colaborou com políticas públicas nessa área, pode colaborar com a integração dessas práticas pedagógicas em rede, somando à nossa jornada com as escolas que já atuam com esse público nos municípios cearenses de Maracanaú e do Eusébio. O grande desafio dessa jornada é a Maestria dessa orquestra, que é a missão da Prefeita Ariana de Paraipaba que também coordena o consórcio de saúde da região. 



A respectiva prefeita quer, com os demais parceiros supracitados, ativar o Centro que atende crianças com deficiência do município de São Gonçalo do Amarante, localizado ao lado de Paraipaba, junto com o Prefeito do mesmo município. Dessa forma geram-se sinergias em rede, otimizando recursos, somando competências podemos ampliar o impacto e atender mais crianças e jovens de várias cidades nessa Rede. 


Outra missão especial é a da Associação Viver e Brilhar, que trabalha ajudando outras famílias a se organizarem para construir políticas públicas que respeitem os direitos das pessoas com deficiência em completude. Além disso, agora buscam a construção de Núcleos como esse em outras cidades e regiões, contando com apoio dessa Rede que contaria com Prefeituras, Governos, Universidades, Empresas, ONGs, Cooperação Internacional e Comunidades de Base. 



Esse é um importante caminho de como podemos inovar em políticas públicas em rede ampliando o impacto social. Esse mesmo processo estamos realizando com outras Universidades, ONGs, Empresas, Governos, Prefeituras e Cidades do Ceará, Brasil e do Mundo para formar, por exemplo: 1) programadores do futuro; 2) pesquisas sobre uma educação integral para a vida; 3) complexos culturais e digitais; 4) hubs sociais em comunidades; 5) ciência de dados para aprimorar o impacto das políticas públicas; 6) transformar crianças e jovens apaixonados por futebol em cidadãos; 7) integrar ecossistemas ambientais; 8) difundir círculos de mulheres que se apoiam mutuamente em seus desafios; 9) criar associações internacionais indígenas na luta pelos seus direitos; 10) enfrentar o racismo estrutural; 11) pensar uma pedagogia comunitária; 12) ampliar o turismo acadêmico; 13) levar energia solar e eólica para comunidades pobres; 14) ampliar negócios de impacto social; 15) ampliar a oferta de hidrogênio verde; 16) criar parques temáticos de ciência e 17) cidades digitais e outras. 


Em cada uma dessas áreas há milhares de pessoas trabalhando e vários passos foram dados durante anos, mas é preciso empreender em redes nacionais e internacionais, gerar sinergias, inovar as políticas públicas e ampliar o impacto de um pequeno grão de terra à Terra da Sabedoria. Não temos mais tempo, temos que aprender a ser velozes e sábios diante das mudanças climáticas, disrupções tecnológicas, avanço das desigualdades, concentração de renda, brutalismos e enfraquecimento da Democracia com seus Putins, Oligarcas, gangues partidárias e elites que vivem do Estado.



domingo, 17 de abril de 2022

O Brasil precisa de Capitalismo e Social Democracia de verdade agora!



Como nós brasileiros preferimos ser chicoteados pelos nossos políticos pela mentira ou corrupção ? Mas se não quisermos ser punidos por eles ? Se afinal existe outro caminho na política que não seja a mentira, a corrupção, a troca de moedas entre poderes, o uso do Estado para manter os mesmos políticos e elites sempre vivendo do Estado? O que faríamos além das críticas e denúncias ? Seremos capazes de lutar contra as chicotadas mudando a Democracia, nossa economia, vidas e os lugares onde moramos ? A riqueza sempre esteve nos pobres, na liberdade e no mercado. 



A política no Brasil não faliu ela foi perfeitamente exitosa naquilo que se propôs que sempre foi roubar o povo, deixar impunes os corruptos, manter os privilégios das elites que vivem do Estado e dos juros, sufocar ou destruir qualquer mudança, matar milhões de pessoas pela miséria e violências, enquanto as elites, oligarcas e gangues partidárias mentem para o mundo. O desenvolvimento requer a liberdade do povo brasileiro.



O futuro da maioria dos delinquentes no Brasil é continuar sendo delinquentes nas prisões ou no crime organizado e da mesma forma o futuro de corruptos é continuar sendo político, sem nenhuma lei na selva que irracionais chamam de Democracia. O futuro da grande maioria dos nossos pobres há décadas e séculos é continuar a ser pobre sem oportunidades de ascensão social pelo trabalho diante de salários escravocratas, sem educação e morrer. Vivem de trabalhos idiotas, escravos, embrutecedor, humilhantes que são a única coisa que o Brasil oferece para não morrerem de fome e sustentar suas famílias em comunidades dominadas pelo tráfico. Nossas elites são ignorantes e não valorizam o conhecimento e a imaginação como outros países.  



Antes os sermões para os pobres vinham dos senhores de engenhos, igreja, e do exército em forma de violências. Depois vem dos políticos, gangues partidárias, elites empresariais, justiça, mídia, outras igrejas, e exércitos sem escutar o povo ou mesmo ter conhecimento da realidade brasileira e das principais prioridades públicas do Brasil pobre. Eles continuam a usar o Estado dito público para enriquecer e manter seus privilégios feudais sem Capitalismo nem Democracia. 



O povo se torna assim gestor de sua própria punição, ora rezando, ora votando, ora acreditando em falsas mídias, ou falsos líderes demagogos para que aceite a sua culpa e condição de nascer e morrer pobre sem oportunidades ou políticas públicas. Autopunição como princípio de correção escravocrata que nega a voz dos brutalmente excluídos. Esse tecido canceroso antes restrito às prisões agora invade as comunidades pobres com a presença do crime organizado, milícias, falsas igrejas, políticos corruptos comprando votos com dinheiro roubado, justiça e mídia caladas para controlar, vigiar, punir e destruir qualquer ameaça contra uma das piores elites do mundo; não à toa uma das maiores desigualdades, miséria, violências e taxas de juros do mundo. 



Quem vai salvar agora essa elite Lula ou Bolsonaro ? não será as politicas públicas ? Ou vamos ter que matar mais milhões de brasileiros nos próximos Governos ? Quantas ilegalidades o sistema aceita para proteger suas elites ? Finge que pune alguns, depois libera outros, enquanto a maioria do eleitorado paga com a vida as brutais ilegalidades da elite rica vivendo do Estado? Mas o crime, a corrupção, e os mais altos juros do mundo geram riquezas e porque não proteger alguns e seus negócios com o Estado que inviabiliza a Democracia? E os Direitos humanos, a Amazônia, os jovens negros que morrem nem estudam, as crianças vivendo na miséria, a realidade das comunidades pobres ? Não importa o que a Constituição diz! Os políticos, as elites e a justiça se calam! O Brasil só funciona na ilegalidade da violência e da corrupção? E adotam novos discursos para milionários visando trapacear a sociedade.



Sempre foi preciso calar os movimentos populares na marra ou fraudando a própria lei. O Brasil opta por profissionalizar o crime organizado, a corrupção, os privilégios, o uso do Estado pelas elites gerando disputas entre elas. O problema não é um político ou um criminoso mas o sistema que os protege e os favorece. A prostituição, destruir a Amazônia, o tráfico, as milícias, um dos mais altos juros do mundo, e a corrupção favorecem os lucros no Brasil ! Uma maioria excluída favorece trabalhos mal pagos ou escravos, contratar pessoas para criar falsos movimentos populares com dinheiro corrupto ou de privilégios, incluindo fura greves, agentes provocadores, ou futuros líderes de máfias. Uma sociedade que vive do crime! O que for favorável economicamente e politicamente para elites, gangues partidárias e oligarquias elas se calam! O melhor será respeitar cada cidadão e suas capacidades de gerar conhecimentos, riquezas e inovações em rede.


Hoje querem calar a voz de quem pensa diferente e quem denúncia os absurdos como o caso do Banco do Nordeste, a corrupção no Brasil e no Ceará, e outros. Controlar, ameaçar ou prender os que pensam diferente mas o nome disso é Democracia? Mas porque tratam os amigos do poder de forma diferente ?  O nome disso é Máfia só que do Estado ? Isso aconteceu em outras épocas da História de Holocausto, Gulag e outras Ditaduras. O que nos sobra é a revolta e transformar nossas vidas e cidades de baixo para cima pois só existe liberdade ou igualdade com solidariedade. O Brasil precisa de Capitalismo e Social Democracia de verdade agora!  








domingo, 10 de abril de 2022

A verdade não reside nos pronunciamentos pomposos dos políticos cearenses e brasileiros.

 


Prefiro ser ao invés de uma metamorfose ambulante uma  inteligência livre odiada por todas gangues políticas fedorentas que agora disputam nossos votos ou melhor nossa alma. Busco com as palavras e atitudes expressar sublimes vinganças refinadas com altíssima sensibilidade contra políticos corruptos que matam milhares de pessoas. Muito mais do que cientistas ou analistas da sociedade e da política precisamos de artistas que ajudem as pessoas a pensar e sentir os verdadeiros dramas de  nossa sociedade e aprendam a se revoltar e lutar por causas e sonhos. 



No Brasil sobram milhares de políticos assustadores e desajustados que em nome de seu poder cometem crimes todos os dias no Brasil sem lei, nem ordem, nem progresso. Quantos Reis Lear existem na Casa grande & Senzala à espera de Shakespeare para contar sua tragédia e educar nosso povo ? Quantos brasileiros foram horrivelmente desfigurados por uma educação que treina o intelecto e esquece o coração ? Quantos brasileiros querem apagar a nossa historia de brutal escravidão, golpes militares, injustiça e desigualdades ? Eles que quanto mais falam mais revelam suas ignorâncias e maldades.



Eu gostaria de falar aos desejos de bondade e justiça de milhões de brasileiros e, lembrar aos ignorantes os estragos causados por sublevações sociais entre elas o crescimento do crime organizado e milícias no Brasil incluindo as Máfias políticas. É preciso lembrar Tolstoi que os grandes homens são brinquedos nas mãos de forças históricas que não conseguem reconhecer, e que não podem ser superadas mesmo que reconheçam. O que ocorreu no Chile recentemente é um exemplo, assim como a reação do povo Ucraniano a invasão russa. Assim como o Levante de 44 polonês durante a segunda guerra mundial nos lembra que a verdade não reside nos pronunciamentos pomposos das celebridades, mas nos ditos de pessoas humildes ou na conduta sábia de soldados grosseiros e honestos que deixam o espírito de sua terra e povo falar por meio deles. 



O que sabem da política aqueles que conhecem apenas a politica corrupta de gangues partidárias e oligarquias ? As fontes psicológicas e sociais dos indivíduos onde desejos e sonhos se misturam com resistências e revoltas na sociedade podem aguardar anos e décadas para vingar os massacres que sofreram. A revolta dos “ bárbaros “ realizada pelos índios no Ceará fez com que a antiga capital Aquiraz fosse abandonada por suas elites, depois Fortaleza passou a ser a capital. Diante de tantos sofrimentos, brutalidades e desigualdades, o caráter humano muda e com ele as religiões, condutas, políticas e arte. A realidade para os poderosos já não satisfaz os excluídos e seus políticos menos ainda. 



A história não tem medo, quem tem medo é a justiça e os poderosos. Nesses momentos seus poderes entram em combustão espontânea como vimos no Chile. A rigidez irracional presente hoje no Brasil se mistura com o obscurantismo proposital e se espalha como uma praga. A lei no Brasil se torna vilã e idiota. Eu sei que criaturas puras e honestas só existem na fantasia de homens mas a nossa justiça e política brasileira “há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade “ mas lembra “Disseste que se tua voz tivesse força igual, à imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa mas a vizinhança inteira. “