SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 31 de dezembro de 2022

EDUCAR O SÉCULO 22!

 


Um educador não escolhe seus desafios, são os desafios da vida que nos escolhem. Mudanças climáticas, inovações tecnológicas, desigualdades, autoritarismos...Eles despertam em cada um de nós movimentos livres de consciência e sabedoria, muitas vezes a partir de nossas memórias, imaginações, e experiências de habitantes de um planeta em transição, somos escolhidos para sermos personagens de uma nova História. Já dizia o poeta “Uma pessoa não escolhe seus demônios nem seus anjos: acontecem-lhe certas coisas, algumas a ferem tanto que a levam, loucamente, a enfrentar a realidade dominada por ditadores, violências, miséria e destruição da natureza; e a buscar caminhos múltiplos para transformá-la. As origens dos anjos e demônios de nossas vocações também são importantes estímulos, fontes, e matérias a partir da qual vamos trabalhar as sementes do Século 22.



Nessa jornada nos depararmos com a história e a presença de nazistas, escravocratas, membros de máfias políticas ou crime organizado nos dias atuais, incluindo seus discursos e estratégias visando a manutenção de seus poderes e os diversos relatos da adesão de pessoas a esses regimes que visam educar para mentira e a morte, mas é simples qualificarmos os envolvidos nesses processos como perversos, sádicos, anormais, recalcados e monstruosos. Portanto buscamos descobrir as razões pelas quais aceitamos a instalação de atrocidades como essas em nosso cotidiano. Indo além da “banalidade do mal” de Hannah Arendt, outros autores nos lembram “que a verdadeira perversão é social e política, não porque o indivíduo encontra prazer no sofrimento alheio, mas porque, de modo burocrático, abdica de sua personalidade em nome da paixão pela instrumentalidade, isto é, exibe um fascínio por servir a um ditador, fascista, Coronel Oligarca e outros mesmo que sua tarefa seja propagar violências em nome do poder. Observamos desejos obscenos de curvar-se a líderes e regimes autoritário-totalitários. Os conceitos freudianos de “eu ideal” e de “ideal do eu” ajudam a destrinchar o mecanismo pelo qual se constrói a servidão voluntária ou o desejo em servir a um dever maior, como diriam os carrascos nazistas ou ainda os slogans totalizantes de teor “acima de tudo, acima de todos”. Existem várias semelhanças entre nazistas e cidadãos comuns, que estão mais distantes de serem patológicos, dada a repetição da história e a ascensão de regimes autoritários ao redor do mundo. E como educar nossas crianças e jovens diante dessas atrocidades? Em escolas militares? Educação virtual pela internet? Focar apenas em notas e provas? Até hoje a matemática, português e física não resolveram os desafios éticos, estéticos, injustiças sociais, brutalidades, e destruição econômica e ambiental nas várias guerras que vivemos.



 

É preciso mobilizar noções como finitude, irreversibilidade, mutabilidade, incerteza e caos para projetar futuros e educações em vários mundos que despertam criando novas formas de ser, viver, nos governar com sabedoria, coragem, amor e integração tecnológica, ambiental e espiritual. Buscamos captar estilos intelectuais que diante de desafios em outras rupturas históricas caminharam com a humanidade até aqui. Necessitamos compreender suas prosas, isto é, aquilo que escapa dos conceitos e das estruturas, correspondendo por isso mesmo à energia, às obsessões, à imprevisibilidade, à nuance e à singularidade de cada ser escrevendo a história ao criar novos conceitos éticos e estéticos como faz Rancière ou fez Diderot; e não apenas inovações tecnológicas! Sim ressuscitar nossa natureza artística, humana, ecológica e espiritual para despertar outras culturas no Século 22. AGORA! Afinal a estética não é política por acaso, mas por essência. Nasce na tensão insolúvel entre duas políticas opostas: transformar as formas de arte em formas de vida coletiva e preservar de qualquer compromisso militante ou comercial a autonomia que implica uma promessa de autodeterminação.  


 

"Hoje na educação infantil, as crianças passam mais tempo em atividades matemáticas do que com blocos de construção e giz de cera. O jardim de infância está se tornando mais parecido com o resto da escola. Quando o resto da escola (e o resto da vida) deve ser mais como o jardim de infância. Aprendizagens criativas nos conta como crianças estão programando seus próprios jogos, histórias e invenções, e mostra como, ao envolvê-las na criação de projetos desenvolvidos a partir de suas paixões, em um ambiente lúdico e colaborativo, podemos prepará-las para um mundo onde o pensamento criativo é mais importante do que nunca." Quando podemos transformar a Terra do Nunca na Terra da Sabedoria.




A arte sempre será autônoma das relações sociais, na medida em que as transcende. Nesta transcendência rompe com a consciência dominante e revoluciona a experiência, as matemáticas e físicas. Sim, a arte sempre será um enigma. Nela se revela e esconde a verdade daquilo que é. A reflexão estética constitui o lugar em que confluem e se entrecruzam todas as dimensões da reflexão sobre a sociedade contemporânea. É em torno da recusa de todo o tipo de fetichismos e autoritarismos que se articula a estratégia da preservação da integridade intelectual e a continuidade da personalidade, que encontra na arte o potencial crítico capaz de libertar o sujeito da fraude da subjetividade e consumo mórbidos.



É urgente nossa educação transpor as fronteiras entre as disciplinas, de questionar os pressupostos e de pôr em prática os métodos das mesmas para encontrar as espiritualidades e culturas que as unem. É preciso viajar pela diversidade e pelas místicas no tocante à história realizando pesquisas antropológicas, peregrinando ao redor do mundo para nos encontrar como um particular entre muitos outros, na diversidade de numerosos países, passados e presentes pela experiência espiritual que nos constitui como pós humanos. Tudo isso sem negar as tecnologias que carregamos em nossa alma e do planeta Terra, lembrando que somos feitos de poeira estrelar e imaginações de novos Universos de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.


 

É preciso também educar as pessoas para compreender as relações entre política, sociedade e indivíduo, demonstrando de forma clara as estratégias e efeitos do poder dominante, pois o resultado da opressão é raiva, dor e loucura. É preciso “descolonizar o ser”, melhor “é preciso mudar completamente, desenvolver um pensamento novo, tentar criar um homem novo.” Só assim é possível criar um mundo realmente humano, onde a massa deserdada de homens e mulheres sejam os inventores de sua própria vida e personagens de novas histórias, artes, ciências, tecnologias no Século 22.

 

    

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

NUNCA MAIS ! SOBRE AS DITADURAS E FACISMOS NA AMERICA LATINA HISTÓRICOS E ATUAIS!





 Señores jueces:

Se ha probado durante este juicio la existencia de un plan criminal que no concluyó cuando fueron reemplazados los procesados Galtieri, Anaya y Lami Dozo. La crisis interna que produjo entre las autoridades del Proceso de Reorganización Nacional la derrota militar sufrida en las Islas Malvinas, no importó ningún cambio en las directivas dadas a raíz de la lucha contra la subversión.

[...]

Este proceso ha significado, para quienes hemos tenido el doloroso privilegio de conocerlo íntimamente, una suerte de descenso a zonas tenebrosas del alma humana, donde la miseria, la abyección y el horror registran profundidades difíciles de imaginar antes y de comprender después.

Dante Alighieri –en "La Divina Comedia"– reservaba el séptimo círculo del infierno para los violentos: para todos aquellos que hicieran un daño a los demás mediante la fuerza. Y dentro de ese mismo recinto, sumergía en un río de sangre hirviente y nauseabunda a cierto género de condenados, así descriptos por el poeta: "Estos son los tiranos que vivieron de sangre y de rapiña. Aquí se lloran sus despiadadas faltas".

Yo no vengo ahora a propiciar tan tremenda condena para los procesados, si bien no puedo descartar que otro tribunal, de aún más elevada jerarquía que el presente, se haga oportunamente cargo de ello.

Me limitaré pues a fundamentar brevemente la humana conveniencia y necesidad del castigo. Sigo a Oliva Wondell Holmes, cuando afirma: "La ley amenaza con ciertos males si uno hace ciertas cosas. Si uno persiste en hacerlas, la ley debe infligir estos males con el objeto de que sus amenazas continúen siendo creídas".

El castigo –que según ciertas interpretaciones no es más que venganza institucionaliza- se opone, de esta manera, a la venganza incontrolada. Si esta posición nos vale ser tenidos como pertinaces retribucionistas, asumiremos el riesgo de la seguridad de que no estamos solos en la búsqueda de la deseada ecuanimidad. Aun los juristas que más escépticos se muestran respecto de la justificación de la pena, pese a relativizar la finalidad retributiva, terminan por rendirse ante la realidad.

page2image3281345936 page2image3281346240

2

Archivo histórico

http://archivohistorico.educ.ar

Podemos afirmar entonces con Gunther Stratenwerth que aun cuando la función retributiva de la pena resulte dudosa, tácticamente no es sino una realidad: "La necesidad de retribución, en el caso de delitos conmovedores de la opinión pública, no podrá eliminarse sin más. Si estas necesidades no son satisfechas, es decir, si fracasa aunque sólo sea supuestamente la administración de la justicia penal, estaremos siempre ante la amenaza de la recaída en el derecho de propia mano o en la justicia de Lynch".

Por todo ello, señor presidente, este juicio y esta condena son importantes y necesarios para la Nación argentina, que ha sido ofendida por crímenes atroces. Su propia atrocidad torna monstruosa la mera hipótesis de la impunidad. Salvo que la conciencia moral de los argentinos haya descendido a niveles tribales, nadie puede admitir que el secuestro, la tortura o el asesinato constituyan "hechos políticos" o "contingencias del combate". Ahora que el pueblo argentino ha recuperado el gobierno y control de sus instituciones, yo asumo la responsabilidad de declarar en su nombre que el sadismo no es una ideología política ni una estrategia bélica, sino una perversión moral. A partir de este juicio y esta condena, el pueblo argentino recuperará su autoestima, su fe en los valores sobre la base de los cuales se constituyó la Nación y su imagen internacional severamente dañada por los crímenes de la represión ilegal...

Los argentinos hemos tratado de obtener la paz fundándola en el olvido, y fracasamos: ya hemos hablado de pasadas y frustradas amnistías.

Hemos tratado de buscar la paz por la vía de la violencia y el exterminio del adversario, y fracasamos: me remito al período que acabamos de describir.

A partir de este juicio y de la condena que propugno, nos cabe la responsabilidad de fundar una paz basada no en el olvido sino en la memoria; no en la violencia sino en la justicia.

Esta es nuestra oportunidad: quizá sea la última. [...]

Señores jueces: quiero renunciar expresamente a toda pretensión de originalidad para cerrar esta requisitoria.

Quiero utilizar una frase que no me pertenece, porque pertenece ya a todo el pueblo argentino.

page3image3280566160 page3image3280569616

Señores jueces: “Nunca más".

CARTA AO PRESIDENTE LULA SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, A LUTA DE PAULO FREIRE E AS DIFERENÇAS PARA O CASE EDUCACIONAL CEARENSE PARA INGLÊS VER.


"A Escola de Santiniketan dava mais ênfase ao fomento da curiosidade do que à excelência competitiva ; na verdade, o interesse pelas notas e pelo desempenho na provas era bastante desestimulado. Eu adorava explorar a acolhedora biblioteca de Santiniketan, com suas prateleiras abertas e suas pilhas de livros sobre lugares do mundo, e adorava não ter que mostrar bom desempenho." Amartya Sen - Premio Nobel de Economia em sua biografia " Uma casa no mundo."


Presidente eu sei que o Brasil tem muitos problemas e desafios a serem enfrentados no Brasil e deve estar nos ajustes finais da equipe de governo e posse junto com Alckmim. Enquanto isso Bolsonaro foi lamber as botas do Trump e o Coronel Ciro Gomes depois de mais três décadas usando o Estado do Ceará e oito partidos para tentar ser Presidente, nos mostra todos os dias como as Oligarquias enricam pelo Estado as custas da miséria e mortes do povo cearense. O senhor faz parte do povo nordestino e sabe o que é ter que deixar sua terra para não morrer de fome e miséria enquanto as Casas grandes como os Ferreira Gomes e outras famílias e elites vivem do Estado.


 

Durante três décadas a politica denominada “Todos com Educação de qualidade para todos” exclui de um total de 9 milhões de cearenses, 6 milhões sem concluir o ensino médio, e o Ceará é o quinto pior estado em analfabetismo. Portanto apenas uma minoria tem acesso a escola e das escolas premiadas pelas notas em português e matemática, uma boa parte dos alunos não vem da pobreza e sim da classe média da cidade. Esse “case educacional cearense“ e a política da oligarquia há décadas coloca mais da metade do povo cearense na pobreza, incluindo as crianças, mata mais jovens que São Paulo, e silencia para vários casos de corrupção entre as famílias. A atual Governadora Izolda Arruda e o Camilo Santana viveram esse processo durante 16 anos com suas famílias com cargos no Governo.



Uma pergunta central que podemos fazer é porque esse case educacional é apoiado pela Fundação Lemann e Todos pela Educação? Quais os países dos melhores sistemas educacionais segundo o PISA separaram politica educacional da social? Posts na rede social Linked de membros do Todos pela educação valorizam a ideia de estados pobres e boa educação mas sabem em que condições socio econômicas vivem as crianças e suas famílias que estão nas escolas públicas? qual o referencial acadêmico de aprendizagem que defende que na miséria as crianças aprendem mais? Uma coisa nós sabemos num dos países mais injustos, desiguais e corruptos do mundo o Brasil, as elites não pagam impostos sobre fortunas, tem incentivos fiscais, Bancos vivem dos títulos da dívida pública, e outros privilégios junto com as oligarquias que vivem do Estado enquanto a maioria da população é excluída. De uma lado temos o que pensa e fez o Educador Paulo Freire e do outro temos Fundação Lemann e as Oligarquias . As Fundações Lemann e Todos pela Educação se calaram para o Golpe e depois ocuparam o Ministério da Educação para sem democracia e pouca escuta das escolas e professores empurrarem a BNCC. De um lado como frisamos mais uma vez Lemann, “TODOS “pela educação e do outro Dewey, Vigotsky, Malaguzzi, Wallon, Edgar Morin...É ridículo temos que lembrar no Brasil que as elites não apagam a história, nem a Ciência, e não esvaziam o conteúdo das palavras nem misturam agua e óleo. 



Qual o problema do dialogo e compartilhar poder de forma democrática dialogando sobre esse modelo educacional com os professores e outras pessoas de outros Estados? Não tem como detalhar aqui todas as questões como bilhões de dólares da cooperação internacional que foram gastos no Ceará durante décadas sem reduzir a pobreza, como Sobral por ser a cidade dos Ferreira Gomes foi privilegiada durante décadas com acesso a recursos e outros mais do que outras cidades cearenses.


 

O que sabemos é que as praticas politicas oligarcas continuam intactas no Ceara mantendo as mesmas estruturas e privilégios durante décadas ao lado da pobreza e o silêncio dos políticos. Ao mesmo tempo que essa mesma Oligarquia nega ao Governador eleito Elmano do PT, espaços para escolher outros quadros e compor seu governo no Ceara, a Oligarquia empurra os mesmos grupos para manter seus privilégios e poderes inviabilizando a Democracia. 


 

Afinal os cearenses não votaram no Coronel Ciro Gomes e sim em Lula para reduzir a pobreza, desigualdades, violências e outros. Camilo foi eleito para ser Senador não para deixar sua esposa na Secretaria de Proteção social só se for das Oligarquias? ou o irmão fotografo do Senador Camilo Santana acaba de receber 2 milhões de patrocínio do Governo do Ceara pense numa educação ética e estética ? enquanto milhares de cearenses sem acesso a escola. Qual a prioridade pública ou a família ? Claro a má educação das Oligarquias. O povo cearense está cansado e sendo morto enquanto pagas as despesas, erros e formação dos juniores no Estado. No MEC Camilo esta levando representantes das famílias para assumir postos chaves e os professores que vivem há décadas em sala de aula podem debater a politica educacional ?  


Esse Estado que tem em sus raízes culturais Barbara de Alencar, Padaria Espiritual, Patativa do Assaré, Rodolfo Teófilo e Libertação dos Escravos sempre lutara pela sua liberdade e contra as tragédias e silêncios sobre corrupções produzidas pela Oligarquias como Ferreira Gomes, Santana, Izolda e outras. A nossa educação sempre será o pão e não o circo, a luta de Barbara e não os espetáculos da Oligarquia, a poesia de Patativa contra as violências dos políticos, a Academia de letras de Raquel falando sobre a seca e a saúde de Rodolfo Teófilo curando o povo brasileiro.        

  







 

Doquinha quantos coxinhas

Que servem carniça e oligarquias

Manda o caminhão de madeira maciça

Para as autarquias e as monarquias

Rap no mic, põe as mãos pro ar

(O meu Ceará)

O verso livre como o Carcará

(O meu Ceará)

O Nordeste rima sem o seu alvará

(O meu Ceará)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

BEM VINDO 2023! A ERA DOS POLÍMATAS, DESENVOLVIMENTO DAS CAPACIDADES HUMANAS COM EXPANSÃO DO SER POR CAMINHOS MÚLTIPLOS E SINGULARES.


O ser humano quer chegar ao fim, ao início e ao centro do mundo mas não chega a lugar nenhum e se perde sem encontrar a razão de sua existência. A cultura ocidental se transformou em espetáculos do ter e do terror, fruto das injustiças sociais, e do desespero da solidão enquanto outras culturas como indígenas, africanas e Amazônia nos ensinam a diversidade e o respeito da vida de cada ser. 


Por exemplo as piores elites do Brasil, as oligarquias cearenses, resultado das desigualdades, corrupção, violências e espetáculos que destroem as vidas de milhões de pessoas e suas capacidades, tornam há décadas as existências de metade da população cearense miseráveis para manter privilégios das mesmas famílias que enricam pelo Estado fabricando cases para inglês ver e usufruir. Cases que muitas vezes são aberrações estatísticas se comparamos com outros Estados em relação ao acesso da população a Escola, no Ceará por exemplo se exclui mais de 60 % da população que não conclui o ensino médio, e as condições sócio econômicas de pobreza da maioria da população há décadas com o mesmo grupo no poder. O Estado no PISA que não muda vidas. O Ceará feudal que ate a Secretaria de Cultura é privilégio da Oligarquia. A filha da ex governadora que agora vai para o MEC. Ceará Cultura de Privilégios. Na Secretaria de Proteção social. A proteção de outro privilégio ! A esposa do Senador e ex governador que vai para o MEC. A Educação que não vale nada mas o privilegio das Oligarquias sim! No Ceará, onde quem mente com campanhas milionárias, rouba sem consequências e suas políticas matam mais pessoas durante décadas, se mantém no poder fraudando a democracia com seus privilégios. As avaliações educacionais deveriam ser feitas por um órgão nacional igual para todos, pois a estatística é uma ciência e faria uma pergunta simples: qual a probabilidade do sucesso educacional concentrado em um só estado? Algo a ser pesquisado com dados reais. 

A economia necessita do desenvolvimento das capacidades das pessoas, liberdades e que a renda circule para que gere mercado, trabalho e cidadania para todos. Nós não precisamos de Hitler, Stalin, nem de partidos sem democracia que seus dirigentes estão há décadas no poder negociando cargos ou oligarquias autodeclarados reis de feudalismos. 

Os poderes, as desigualdades, e as violências negam às pessoas a autoestima, autonomia e a capacidade de construir uma narrativa de si tendo consciência de sua história de vida, da sua família, e do lugar que nasceu. Ela nega a voz dos pobres por exemplo no Ceará escutamos muitas pessoas falarem “Eu posso falar Doutor" porque a vida toda foi exigida o silêncio e o voto para que sobreviva e tenha o que comer para que não tenha que morar nas periferias de outras capitais onde o crime organizado cresceu nas últimas décadas. 

O ideal de si precisa ser construído com os sonhos e objetivos da pessoa ao mesmo tempo na família, escola e comunidade onde mora mas é negado para virar moeda de troca com o voto ou com a nota. A educação castra desde que nasce no jardim da infância, onde de 0 a 6 anos deveria se descobrir e descobrir o mundo, ou a existência lhe é negada pela falta de política pública lhe impondo a miséria e as violências como modo de vida para manter as mesmas famílias no poder; incluindo sua propaganda pela mídia paga com dinheiro público e as trocas de moedas por cargos com o Governo Federal. 

Aprender outras palavras que não sejam de submissão para dar corpo e presença física a elas exige oportunidades de vida, expansão do ser por múltiplos caminhos, incluindo a ética e a estética que depende de justiça e equidade social para juntos com a natureza lidarmos com as mudanças climáticas com uma economia sustentável e circular. 

Novas palavras como Polímatas devem ampliar horizontes para existências na humanidade não ficando reféns de poderes, saberes, e políticas econômicas que destroem vidas visando ampliar seus seres com a arte, tecnologias, espiritualidade e relacionamento com a natureza tendo uma visão mais complexa, sistêmica e dinâmica dos desafios que enfrentamos. 

O despertar da imaginação e da consciência crítica nos convida a cantar na orquestra da humanidade e dançar juntos novos caminhos indo além de modelos políticos como oligarquias e gangues partidárias sem democracia que servem aos interesses de alguns às custas da humanidade e da maioria do povo; apesar de que eles falam há décadas que é em nome dos pobres estes que pagam com suas vidas essas mentiras e corrupções.

Diante da finitude de nossas vidas e da infinitude do Universo e do espírito temos que ir além dos conceitos e estruturas que nos formaram muitas vezes para cometermos os mesmos erros políticos, econômicos e ecológicos que nos levam a colapsos e destruição de milhões de vidas. Se abrir para incertezas, irreversibilidades, dinâmicas caóticas, e acasos espirituais expandir nosso ser e energias em direção a outras formas de ser, viver e nos auto governar de forma singular. De um pequeno grão de terra como habitantes de uma Terra da Sabedoria em 2023.     

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

PARADIGMAS E CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS.


 

Claro que causas e lutas nas trajetórias de vidas dos gestores públicos representam a vocação e são os fatores principais na seleção de bons gestores públicos. Na minha visão durante anos empreendendo e lutando por políticas públicas são tão importantes quanto técnicas e gestão. O compromisso pelas vidas são observados com muita frequência em projetos sociais do terceiro setor e comunidades, e muitas vezes geram mais impacto que as políticas públicas; isso proporcionalmente e apesar de grandes orçamentos e gestores públicos concursados e qualificados.  


 

Outra palavra chave além de causas na seleção de gestores públicos é o impacto gerado, a gestão é um meio e não um fim para transformar vidas e cidades. O que compreendemos sobre transformar vidas e comunidades? A qualidade do gestor e da política pública depende dos impactos positivos e negativos que geram mas principalmente da capacidade de integrar e não fragmentar políticas públicas; assim como da escuta da voz do cidadão.


 

Esse é outro paradigma de como gerar uma nova geração de políticas públicas e gestores que tenham pensamento complexo, transdisciplinar e sistêmico, atuando em rede com outros setores da sociedade, indo além da burocracia, mas sobretudo não ficando refém de políticos, e da noção de poder que muitas vezes é usado contra o cidadão, em resumo sem ética, estética e justiça social. O paradigma atual baseado em gestão de tecnocratas, tecnologia, e privatização do estado público revelam a podridão dos poderes incompetentes em seus impactos.


 

Por isso que muitos gestores públicos querem esquecer dos privilégios herdados e dados de presente, sem seleção,  assumem cargos e gerem orçamentos, mas eles estão a serviço de partidos, oligarquias e elites que estão preocupados com votos, corrupção e mais privilégios. Esses privilégios alimentam ciclos de desigualdades, pobreza, violências; facilitam e geram corrupção, compra de votos, e desperdício de dinheiro público em políticas ditas públicas sem impacto para inglês ver. A escravidão continua a mesma !


 

Pensar a mudança cultural a médio e longo prazo do paradigma de políticas públicas e de seleção de gestores públicos nos faz enxergar a profundeza do iceberg da nossa democracia.



Hoje máfias privatizaram o estado público e mantêm feudos eleitorais com compra de votos com dinheiro que é fruto da corrupção durante décadas. Oligarquias, partidos e elites dividem o Estado entre famílias, incluindo cargos, orçamentos, e feudos geográficos; onde as políticas públicas se tornam privadas sobre o controle das famílias. Nas eleições se discute os graves problemas sociais, desigualdades, violências e miséria e o Governo ganha a eleição para transformar essa realidade e a vida das pessoas. Porem ao assumir o governo os velhos interesses das oligarquias, partidos e elites se mantêm intactos há décadas, sem mudança e ruptura real com essas estruturas que produzem as desigualdades, pobreza e violências para enriquecer alguns com incentivos fiscais, corrupção, cargos, orçamentos públicos e privilégios. Dessa forma inviabiliza a Democracia com a ditadura das oligarquias e corrupção, pouco importa o impacto, a qualidade e a seleção dos gestores públicos. O critério é a violência e a mentira, e quem roubar e mentir mais ganha a eleição.


 

Mudar ou permanecer os mesmos titulares da Secretaria da Fazenda, Governador ou outro cargo tanto faz! Afinal não muda os incentivos fiscais, a distribuição de cargos, orçamentos e feudos entre famílias. 


Gestores públicos samambaias decoram salas e ficam reféns de Máfias, atuam no teatro político sem poder, sem leis e sem investigar corrupção, pois seus chefes controlam vários poderes. A nível federal essa lógica perversa levou ao impeachment de Dilma e o centrão poderia ter derrubado o Bolsonaro a qualquer momento se não tivesse dado o que eles pediram. As ameaças, a corrupção e as violências políticas são o  óleo do sistema “democrático” brasileiro. É assim no Ceará e em vários Estados do Nordeste que são os novos coronéis das Oligarquias de sempre, donos do poder de uma República inacabada. Eles não são punidos por corrupção há décadas, e com esse dinheiro inviabilizam a Democracia, pois não importa se as políticas públicas não tem impacto afinal os gestores vão ser os filhos, netos, bisnetos das mesmas famílias.


 

Se você acha que votar no Lula pode mudar muita coisa? Não esqueça que essa estrutura permanece intacta, políticos como Lula podem ter sido usados para eleger fantoches desse esquema que está sobre o controle das oligarquias, partidos e elites que enriquecem com incentivos fiscais e corrupção. Gestores públicos muitas vezes não mandam em nada, nem os Secretários, apenas tristes e mortas samambaias enfeitando os corredores da máfia sem Democracia. Outros se aproveitam dos incentivos fiscais, enquanto a maioria das empresas pagam os incentivos com seus impostos. Empresários juntos com políticos inviabilizam a Economia no feudalismo da nobreza sem capitalismo sem Revolução Francesa, Americana ou Russa. 

    


 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Sobre os mundos e conceitos paralelos que desumanizam a Escola! Em busca de uma educação integral capaz de construir outras sociedades e economias.


 

Muito se fala no mundo sobre a importância de educar a criança de 0 a 6 anos mas se ampliar um pouco até os 10 anos ou seja a quinta série? Da educação infantil, direitos e condições sócio econômicas de seus pais e da comunidade onde vive dessa criança pode surgir de verdade um novo Brasil!  Essas crianças vão se encontrar agora com uma nova geração de professores que passaram no concurso para Professor pedagogo da Rede de Educação infantil da PMF que vem das mesmas condições sócio econômicas que os alunos e que passaram pelo menos 4 anos estudando na Faculdade de Educação da UFC, incluindo os estágios, neste período de Pandemia onde crianças, Escolas e Universidades foram impactadas de diversas formas.




Essas são as primeiras impressões que estamos tendo pós pandemia desses reencontros onde as tecnologias avançaram sobre a sala de aula e as vidas das pessoas, as desigualdades, o crime entra na escola, e os efeitos das mudanças climáticas atingem o ensino fundamental. Nossas observações, participação e intervenções refletem esse momento histórico em condições singulares de cada escola. Não é possível tratar a rede de escolas com um padrão único, assim como as crianças e os professores. Não podemos lhe negar mais do que a história lhe negou. Sim temos que ver como a falta de equidade incluindo as questões da pobreza, raça, gênero tem impactado as vidas dessas crianças e de suas famílias e comunidades. 


  

Não podemos ter uma abordagem conteudista e avaliação via testes como se fossem suficientes para lidar com essa diversidade e apenas a imaginação e a criatividade são suficientes para lidar com questões estruturais. Torna-se urgente a Pedagogia Histórica crítica cumprir sua missão de gerar solidariedade e justiça na escola dialogando sobre questões éticas estéticas que são silenciadas pelo gerencialismo e desumanização da escola. A capacidade crítica, autonomia, e amorosidade são ingredientes freireanos necessários ao despertar das consciências em forma de atenção, memória, percepção e linguagem aprendidas pelo corpo e pela capacidade de compreender a realidade sócio econômica que vivemos. 


 

Sim, as crianças conhecem a geografia da fome e da miséria em suas casas, conhecem o abandono de seus pais e as violências nas comunidades em que vivem. Não podemos criar mundos paralelos negando a compreensão da vida de nossos alunos, temos que nos desafiar como professores a ir além da BNCC e dos sistemas de avaliação. 



 

Foi o início dessa jornada que percorri no estágio observando não só o conteúdo e as práticas dos professores com seus alunos, mas suas vidas, atitudes, e sofrimentos. Buscar saber onde vivem, quem são seus pais que muitas vezes os tiveram quando tinham 14 e 15 anos. Participei de vários espaços na escola incluindo a cozinha, o pátio e a biblioteca. Buscando gerar intervenções que dialogassem além dos conteúdos, mas que lidassem com afetos e outras práticas pedagógicas capazes de dialogar com seus cotidianos e contextos ou seja as atividades principais que realizamos carregam missões educadoras ao mesmo tempo para nós, os alunos e a comunidade escolar. Onde compartilhamos uma ética que visa construir outra sociedade que não continue a escravizar e excluir de diversas formas as pessoas e sim realizar outra economia que torne possível a plena realização do potencial humano das cem linguagens que cada criança carrega em seu ser e vida. De um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria. 

 

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Como os nordestinos 'inventaram' o Sul do Brasil

 

 


Luiz Antônio Araujo

De Porto Alegre para a BBC News Brasil

26 novembro 2022

 

Manifestações de desprezo e até ódio contra nordestinos marcaram algumas concentrações promovidas por eleitores inconformados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro no segundo turno do pleito presidencial, em 30 de outubro. Vídeos e áudios produzidos por estudantes de São Paulo e do Rio de Janeiro incluem, entre outros gestos, expressões degradantes contra brasileiros dos nove Estados do Nordeste.

 

Esse fenômeno expõe uma divisão política refletida em linhas mais ou menos geográficas: o Nordeste foi a única das cinco regiões brasileiras em que a votação de Luiz Inácio Lula da Silva superou a de Bolsonaro. 

 

Mas, na visão de historiadores ouvidos pela BBC News Brasil, essas manifestações expressam também, em uma perspectiva mais abrangente, os impasses e fraturas da formação do Estado nacional brasileiro.

 

Pesquisadores apontam a ironia de o ânimo antinordestino situar-se na contramão de uma evidência histórica: sem o protagonismo de indivíduos vindos do que é hoje a Região Nordeste, a existência das demais regiões não teria sido possível.

 

Entre os primeiros povoadores dessas regiões, especialmente do Sul, estavam sesmeiros, tropeiros, militares, comerciantes, artesãos, religiosos e sobretudo escravizados nascidos na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no Ceará e no Maranhão.

 

Essa realidade pode ser constatada não apenas pelo exame dos sobrenomes das famílias mais antigas, muitos dos quais são ramos de célebres clãs baianos e pernambucanos - Azevedo, Coelho, Silva, Freire, Furtado, Melo, Cunha, Borges, Costa, Vieira e outros - como pela observação de tipos físicos, economia, religiosidade e cultura.

 

Autor da trilogia A Fronteira (2002 e 2015), sobre a fixação dos limites entre Brasil, Uruguai e Argentina, o historiador Tau Golin recomenda cuidado àqueles que, no Rio Grande do Sul, fizerem referência a nordestinos como inferiores. "Ao fazer isso, grande parte dessas pessoas está possivelmente degradando os próprios antepassados. Muitos descendem desses nordestinos", adverte.

 

Segundo o historiador, os atuais Estados do Sul e, principalmente, o Rio Grande do Sul foram inicialmente territórios conquistados e ocupados por uma grande variedade de brasileiros vindos do Norte, entre os quais se sobressaem os oriundos da região que hoje corresponde ao Nordeste.

 

Aqueles que hoje se chamam nordestinos eram especialmente numerosos entre os engajados nas primeiras expedições marítimas à costa rio-grandense. 

 

"Nos períodos colonial e imperial, o Rio Grande do Sul foi povoado por políticas de Estado e por aventureiros. As políticas de Estado eram executadas por meio de projetos de povoamento territorial e, em época de guerra, pela concessão de lotes rurais e urbanos a soldados", descreve Golin, doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

 

A história do Rio Grande do Sul é permeada de personagens nascidos e criados na atual região Nordeste que, radicados ou de passagem pelo Sul, ajudaram a mudar a integrar o espaço ao Brasil.

 

Foi um militar nascido na Bahia, Domingos Alves Branco Muniz Barreto (1748-1831), o primeiro a incentivar a exploração do charque ("as carnes salgadas que devem ser exportadas a este reino em lugar das que vem da Irlanda") na região de Pelotas, destinada a Portugal pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777).

 

No século 19, outros militares deixaram sua marca na história local, como o marechal Deodoro da Fonseca (de Alagoas), o almirante Custódio José de Mello (da Bahia) e o capitão Tupy Caldas (do Maranhão), a quem muitas vezes é erroneamente atribuída origem gaúcha.

 

Para Golin, porém, é um erro limitar a contribuição do atual Nordeste a esses personagens ilustres.

 

"São nomes da elite colonial, do Império e da República, conhecidos na história oficial. O fenômeno é muito mais profundo, porque é preciso levar em conta o contingente populacional. Os nordestinos vão contribuir muito na formação gentílica, na mestiçagem", explica Golin.

 

A influência nordestina no charque

 

A indústria do charque (chamado de carne de sol no Nordeste), atividade econômica mais importante do Rio Grande do Sul no século 19, é um dos exemplos mais claros da influência nordestina. 

 

A implantação de charqueadas com vistas à comercialização é atribuída a José Pinto Martins, português que criou a primeira fábrica de charque às margens do Arroio Pelotas ou do Canal de São Gonçalo no último quartel do século.

 

Pinto Martins chegou ao Rio Grande do Sul vindo do Ceará, onde já produzia carne de sol. A mudança foi motivada pela seca de 1777, conhecida como "Seca dos Três Sete", que se estendeu até 1880 e provocou a morte de mais da metade da população da região atingida no Nordeste.

 

"Uma das razões mencionadas para a transferência de Pinto Martins para o Rio Grande é que as secas tinham deixado o gado nordestino em estado reduzido e mal nutrido", afirma Ester Gutierrez, autora de Negros, Charqueadas e Olarias: Um Estudo sobre o Espaço Pelotense (2001).

 

Em 1824, Pinto Martins sentiu-se mal e ditou seu testamento. Solteiro, reconheceu como herdeiro João Pinto Martins, filho que tivera com uma ex-escravizada, e deixou dinheiro para dois outros filhos de ex-cativas.

 

"Esses escravos, que trabalhavam nas embarcações que levavam o charque para o porto de Rio Grande, eram nordestinos. No testamento, Pinto Martins libertou-os", diz a doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

 

A ideia de identidades regionais 

 

Para Jocelito Zalla, autor de Simões Lopes Neto e a Fabricação do Rio Grande Gaúcho (2022), a ideia de influência do Nordeste na formação do Sul antes do século 20 deve ser vista com cautela. Foi só a partir dessa época que se firmaram as noções de identidade regional predominantes até hoje.

 

"A ideia de Nordeste é recente. Segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque, até os anos 1920 usava-se o termo mais geral 'Norte' para a região. Os traços culturais e sociais, além da definição da paisagem representativa, só se estabelecem nesse período", lembra.

 

Nos períodos colonial e imperial, diz Zalla, a própria população do que hoje é conhecido como Nordeste definia-se a partir de outros recortes de identidade política, geralmente locais. 

 

"Nem o Nordeste nem o nordestino existiam no período de formação do Rio Grande do Sul. Do ponto de vista da História, as pessoas que emigraram para cá (Sul) ainda não eram nordestinas", assinala.

 

No século 20, por outro lado, Zalla identifica não apenas trocas simbólicas entre as regiões mas uma verdadeira colaboração na construção das duas identidades, a do Sul e a do Nordeste.

 

"A visão de regionalismo de Gilberto Freyre confluiu com a dos modernistas do Rio Grande do Sul, como Moysés Vellinho, principalmente depois dos anos 1930. José Lins do Rego comentou literatura gaúcha em seus livros de crítica literária dos anos 1930 e articulou uma visita de Freyre ao Rio Grande do Sul", enumera o doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

No terreno da cultura, essa proximidade evoluiu muitas vezes para a produção de obras. A primeira edição crítica da coletânea Contos Gauchescos e Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto (1865-1916), em 1949, não foi organizada por nenhum pesquisador gaúcho, mas pelo alagoano Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989).

 

"Ele incluiu na obra um estudo formalista consagratório e um vocabulário que permitiu a compreensão do texto no restante do Brasil, além de mobilizar sua rede de sociabilidade intelectual no Rio de Janeiro para difundir o livro", explica Zalla.

 

 

Outro exemplo é o de Luiz Carlos Barbosa Lessa (1929-2002), um dos fundadores do movimento conhecido como tradicionalismo gaúcho, que, nos anos 1950, em São Paulo, produziu canções e programas regionalistas de TV em parceria com nordestinos e compôs um xote gravado por Luiz Gonzaga (1912-1989)

 

O preconceito

 

Isso não significa, de acordo com Zalla, que não existam estigmas relacionados à região que corresponde ao atual Nordeste. "No Rio Grande do Sul, por exemplo, no século 19 chamavam-se de forma pejorativa de 'baianos' todos os brasileiros dos atuais Norte e Nordeste. Isso pode ser mapeado no cancioneiro da Revolução Farroupilha", observa.

 

Para Golin, esse preconceito antibaiano e antinordestino, no Sul, está ligado a um aspecto central da formação nacional brasileira: a questão racial.

 

"Esse problema se manifesta pela questão do fenótipo, do tipo físico, que, por sua vez, se relaciona ao lugar social dos nordestinos. Essa base, que vai se associar à ignorância histórica, tem um lastro muito acentuado entre os descendentes de migrantes", afirma.

 

Golin define esses contingentes como "grandes cotistas". "São pessoas que vêm para o Brasil com grandes vantagens, num processo de migração que tinha por paradigmas o estímulo à pequena propriedade e à produção para o mercado interno e, principalmente, o processo de apagamento da história da escravidão e o branqueamento da população", explica.

 

O pano de fundo dessa política foi, na opinião do historiador, o desejo do Império do Brasil de participar do Concerto das Nações.

 

Os migrantes instalaram-se em espaços desprezados pelo latifúndio e pela grande empresa rural: os territórios indígenas. "Foi preciso convencer esses migrantes, com um discurso ideológico e racial, de que estavam vindo para o Brasil travar uma luta entre civilização e barbárie", argumenta.

 

O resultado foi que, nas regiões de predomínio de migrantes, a população assentada tende a situar tudo que não se assemelha a sua etnia "em um nível inferior", diz Golin.

 

"Seu discurso se expressa em chacotas, mas também em formulações políticas, como uma forma de diminuição do que não pertence à comunidade de origem migrante. Os 'estranhos' são os brasileiros, os negros", conclui.

 

Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63733197