SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Quem foi Benjamin Lay, a 'pessoa mais radical' do radical século 18

 

Pintura mostra Lay com livro em frente a uma árvore

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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Uma peça teatral recente, intitulada The Return of Benjamin Lay, foi inspirada em sua vida e mente revolucionária. Aqui, ele foi retratado pelo pintor Williams Williams (por volta de 1750-1758)

  • Author, Redação
  • Role, BBC News Mundo

Benjamin Lay tinha cerca de 1,2 metro de altura, mas sua estatura moral era muito elevada.

Ele foi militante vegetariano, feminista, abolicionista e se opunha à pena de morte — uma combinação de valores que o colocava séculos à frente dos seus contemporâneos.

Lay era quaker. Ele era corcunda e sua educação formal foi limitada. Mas ele estudou e chegou a imaginar um mundo mais justo para todas as criaturas que nele habitam, humanos e animais. Todos eram seus semelhantes.

Lay viveu no século 18 — o Século das Luzes, que presenciou a transformação radical de todo o pensamento do mundo ocidental. Ele nasceu na Inglaterra e passou anos navegando pelos mares, até assentar-se por algum tempo nas plantações de açúcar de Barbados, terminando finalmente no território britânico que passaria a formar os Estados Unidos.Onde quer que estivesse, Lay defendia suas crenças, com atos e palavras.

Seus métodos de confrontação fizeram as pessoas falarem sobre ele, suas ideias, sobre a natureza do quakerismo, do cristianismo e, sobretudo, da escravidão, considerada na época tão natural quanto a água e o vento.

No que talvez tenha sido seu protesto mais famoso, Lay compareceu à reunião anual de quakers da Filadélfia (hoje, nos Estados Unidos) em 1738, com um livro oco, no qual havia colocado uma bexiga animal amarrada, cheia de suco de frutas vermelhas.

Ele afirmou aos presentes, que incluíam ricos quakers que mantinham pessoas escravizadas: “Assim Deus derramará o sangue das pessoas que escravizarem seus semelhantes”.

Ilustração de Benjamin Lay

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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Almanaque antiescravagista de 1836-1844 descreve Benjamin Lay como 'o primeiro manifestante contra a escravidão de que se tem notícia'

Lay então cravou uma espada no livro, que parecia uma Bíblia, e o “sangue” jorrou sobre as cabeças e os corpos dos escravagistas horrorizados.

“Ele não se importava o que pensavam dele; o que queria era atrair as pessoas para sua causa”, segundo seu biógrafo Marcus Rediker, historiador da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. “Ele perdeu a batalha contra os anciãos da igreja, mas ganhou com a geração seguinte.”

Uma resenha da biografia, intitulada The Fearless Benjamin Lay (“O destemido Benjamin Lay”, em tradução livre), afirma que “na sua época, Benjamin Lay talvez fosse a pessoa mais radical do planeta”.

A radicalização

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Fim do Podcast

Lay nasceu em 1682 e formou-se como fabricante de luvas em Colchester, na Inglaterra. A cidade abrigava uma importante indústria têxtil e era um polo gerador de pensamentos radicais.

“Ele era um quaker de terceira geração, de uma região com forte histórico de radicalismo religioso”, segundo Rediker.

Posteriormente, Lay se tornou marinheiro e esta experiência moldaria suas opiniões.

“Lay aprendeu pela primeira vez sobre a escravidão ao ouvir histórias dos seus amigos marinheiros sobre o comércio de pessoas escravizadas”, afirma o historiador. “Havia também uma tradição marinheira radical, uma ética marinheira solidária, que complementou a tradição radical de Lay.”

Depois de regressar à sua casa na região de Colchester, Lay enfrentou problemas com a comunidade quaker porque sentiu necessidade de falar contra as pessoas que não estavam à altura dos seus padrões morais.

“Ele foi encrenqueiro em todos os momentos da sua vida”, segundo Rediker. “Tinha um sentido poderoso das suas convicções e dizia a verdade aos poderosos.”

Estátua de homem escravizado, com algemas rompidas

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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A escravidão foi abolida em Barbados em 1834, mas isso não significou o fim imediato da exploração de seres humanos

O pesadelo

De Colchester, Benjamin Lay viajou para Barbados com sua esposa — uma pregadora popular e admirada na sua comunidade quaker, chamada Sarah Smith. Ela também era quaker e anã.

A intenção era abrir uma loja, mas a experiência “foi um pesadelo”.

Durante sua estada de 18 meses como comerciante, ele observou como um homem escravizado se suicidava antes de submeter-se a outra surra. Esta e uma infinidade de outras barbaridades na colônia britânica deixaram Lay traumatizado e impulsionaram sua paixão pela luta contra a escravidão.

“[Barbados] era a principal sociedade escravagista do mundo”, segundo seu biógrafo. “Ele viu pessoas escravizadas mortas de fome, espancadas até a morte, torturadas até a morte e estava horrorizado.”

Ele se pronunciou contra os donos das plantações que, indignados, expulsaram-no dali.

A odisseia de Lay o levou à Filadélfia — na época, a maior cidade da América do Norte, que abrigava a segunda maior comunidade quaker do mundo.

Por ter vivido na Inglaterra, onde era raro ver evidências da escravidão, ele ficou surpreso ao constatar que a maioria dos líderes daquela comunidade quaker e seus membros mantinham pessoas escravizadas.

Lay começou a organizar protestos públicos para sensibilizar a comunidade quaker dos Amigos da Filadélfia e conscientizá-los de suas próprias faltas morais a respeito da escravidão.

Certo domingo de manhã, depois de uma forte nevasca, ele parou na entrada do centro de reuniões dos quakers com uma perna à mostra.

Quando alguém insistia para que ele não se expusesse ao frio intenso para evitar ficar doente, ele respondia: “Ah, você finge ter compaixão por mim, mas não sente nada pelos pobres escravos dos seus campos, que passam todo o inverno seminus”.

Com este tipo de ação e muitas palavras, Lay protestou com tanta frequência que os ministros e anciões acabaram fazendo com que ele não pudesse mais comparecer a nenhuma reunião.

Ele acabou deixando a Filadélfia para estabelecer-se em Abington (hoje, no Estado americano de Massachusetts). Foi ali que, no ano seguinte (1735), morreu sua esposa.

Ilustração de Benjamin Franklin

CRÉDITO, GETTY IMAGES

Legenda da foto, 

O livro de Benjamin Lay foi publicado por seu amigo Benjamin Franklin

A morte de Sarah Smith e um processo conduzido contra ele, questionando sua filiação à comunidade quaker, fizeram com que ele afundasse na amargura. Lay então se dedicou a escrever um tratado pedindo o fim imediato e incondicional da escravidão em todo o mundo.

O trabalho intitulava-se All Slave-Keepers that Keep the Innocent in Bondage, Apostates (“Todos os mantenedores de escravos que mantêm os inocentes em cativeiro, apóstatas”, em tradução livre). E Lay pediu a um de seus amigos que o publicasse — ninguém menos que o editor e erudito Benjamin Franklin (1706-1790), que viria a ser um dos pais fundadores dos Estados Unidos.

Era um livro estranho, mas se tornou um texto fundamental na luta contra a escravidão no Atlântico e um avanço importante do pensamento abolicionista.

Na época, já havia outros abolicionistas, mas ninguém havia assumido uma posição tão intransigente e universal contra a escravidão. E, nos Estados Unidos, Lay continuou desafiando os conceitos convencionalmente aceitos, transformando-se no que foi, provavelmente, o radical mais visionário da América pré-revolucionária.

Certeza moral

Benjamin Lay construiu sua própria casa em Abington. Para isso, ele selecionou um local “perto de um manancial de água limpa” e ergueu uma pequena cabana em uma “escavação natural na terra” — uma cova.

Aparentemente, a casa era ampla, pois tinha espaço para uma grande biblioteca. No lado de fora, ele plantou uma macieira e cultivou batatas, abóboras, rabanetes e melões.

Seu prato preferido era “nabos cozidos e, depois, assados” e sua bebida preferida era “água pura”.

Vegetariano, ele confeccionava suas próprias roupas de linho, para evitar a exploração dos animais. Não usava nem mesmo lã de ovelha. E não consumia nenhum produto que pudesse ter sido produzido por mãos escravizadas.

Em 1758 — o ano anterior à morte de Lay, com 77 anos de idade —, a reunião anual dos quakers na Filadélfia, depois de muita agitação desde o princípio, formou um processo para disciplinar e, por fim, repudiar os quakers que comerciavam pessoas escravizadas.

A escravidão propriamente dita continuaria sendo permitida por mais 18 anos, mas “Lay entendeu que era o princípio do fim”, segundo Rediker. E, quando recebeu a notícia, ele exclamou: “Agora posso morrer em paz”.

Os quakers ficariam à frente da campanha contra a escravidão, que seria finalmente abolida nos Estados Unidos em 1865.

Capa do livro de Benjamin Lay contra a escravidão, publicado em 1737

CRÉDITO, REPRODUÇÃO

Legenda da foto, 

Capa do livro de Benjamin Lay contra a escravidão, publicado em 1737

Um mundo melhor

Durante sua longa vida, Benjamin Lay foi repudiado tanto pelos quakers de Abington e da Filadélfia, nos Estados Unidos, quanto por grupos em Colchester e em Londres, no Reino Unido.

Sua certeza moral significava que ele não poderia permitir que os traficantes de pessoas escravizadas no seu meio deixassem de ser questionados, mas suas denúncias os deixavam furiosos.

“Eles o ridicularizavam, interrompiam... muitos o desprezaram como deficiente mental e transtornado de alguma forma, já que ele se opunha ao sentido comum da época”, afirma seu biógrafo.

Depois de quase 300 anos, quatro grupos vinculados aos que o repudiaram reconheceram seu erro. Um deles — os quakers do norte de Londres — reconheceu, em 2017, que o grupo “não havia percorrido o caminho que, mais tarde, perceberíamos como sendo justo”.

“Foi corrigida uma injustiça histórica”, segundo o escritor Tim Gee, quaker de Londres.

Para Gee, o legado duradouro de Lay é que ele teve “uma visão de um mundo melhor. Ele conseguiu ver as injustiças básicas da sociedade que eram consideradas normais e as trouxe para a luz.”

domingo, 30 de julho de 2023

Toda Luz que Não Podemos Ver

 


[Resenha] Toda luz que não podemos ver

capaluzSinopse:

Marie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu.

Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial.

Fonte: Intrínseca

“Ah”, você diz, lendo a sinopse do livro. “Sei o que você está fazendo, autor. Já conheço a receita. Segunda Guerra Mundial. Uma menina cega e curiosa. Um menino inteligente e gentil. Você vai fazer coisas horríveis acontecerem com eles. Você vai fazer com que eles se encontrem, possivelmente se apaixonem.” Você dá um sorriso irônico, balança a cabeça. “Você quer que eu sinta emoções, mas eu conheço seus truques sujos e não vou cair nessa.” Você está errado. Três dias depois, se encontra em posição fetal numa poça de suas próprias lágrimas, alheio ao mundo e murmurando nomes de personagens para si mesmo.

Vou me abster de contar a sinopse do livro – a da editora, que copiei acima, é um resumo bom, embora deixe de fora muita coisa que torna o livro interessante. O cerne da trama é o ataque aéreo aliado que destruiu a cidade francesa de Saint-Malo em 1944, liberando-a dos alemães. Marie-Laure mora lá com o tio-avô; Werner está lá com o exército alemão. O livro já começa com o ataque, então volta para anos antes e começa a narrar desde a infância dos dois protagonistas até o início da guerra, recorrentemente voltando ao dia do bombardeio em 1944, só pra você se lembrar de que deveria estar muito, muito preocupado com os dois. Os capítulos são curtíssimos: a maioria tem entre 1 e 3 páginas, de modo que você fica naquela de “ler apenas mais um”, e quando vê está na página 250 e não pode mais parar.

Embora o livro se foque nas histórias paralelas de Marie-Laure e Werner, apresenta um elenco impressionante de personagens secundários. São personagens que te conquistam lentamente – o pai da garota, o tio-avó, a senhora que mora com ele, a irmã de Werner… Pra não mencionar dois amigos de Werner que são meus preferidos: Frederick, um garoto gentil que ama pássaros e não se encaixa em um regime que valoriza a superioridade física, mas possui uma força moral inabalável; e Volkheimer, um gigante em termos físicos que comete atos de violência durante a guerra, mas tem um lado sensível, e é eterna, e ternamente, leal a Werner. (Se alguém aí leu o livro, vamos tomar um café e conversar sobre esses dois por umas 3 horas, por favor.)

Em certo ponto você percebe que está tão envolvido pelo destino de todos eles quanto pelo dos protagonistas – o que não é pouca coisa, pois tanto Marie-Laure como Werner são muito bem desenvolvidos, e sozinhos valeriam as mais de 500 páginas do livro.

A garota, que perde a vista aos 6 anos, ama ler Júlio Verne e conhecer coisas no museu onde trabalha o pai. Ao longo de todo o livro, apresenta uma coragem inspiradora – que ela resume como o fato de suportar tudo o que a vida lhe lança do melhor jeito que pode. Marie-Laure é uma presença iluminada na vida dos que estão ao seu redor; uma fonte de esperança, que desperta ternura em corações arrasados.

Mas Werner, em minha opinião, é o destaque. Sua trajetória é realmente “arrebatadora”, para roubar uma palavra da quarta capa da edição. Sua angústia à medida que percebe o horror e a desumanidade do nazismo, e à medida que percebe que não tem escolha senão obedecer, nem saída desse mundo de violência e disciplina cega, são de cortar o coração. O leitor dificilmente se esquecerá dele após terminar a última página.

No quesito História, o livro faz um trabalho excelente ao mostrar o desenvolvimento da máquina estatal nazista (incluindo cartas censuradas e o dia a dia da academia a que Werner é enviado) e a realidade da Ocupação da França. Além disso, aborda a Resistência (dando destaque ao papel das mulheres!) e um dos braços da trama se relaciona com o roubo de obras de arte cometido pelos nazistas naquele período. A questão do rádio também é importantíssima: tanto como instrumento bélico e de propaganda ideológica como de esperança e resistência.

Não quero dizer que o livro é perfeito. O autor peca um pouco na voz das crianças, que têm alguns diálogos adultos demais; força a barra com uma das coincidências da trama (aceitamos as principais, mas um episódio em especial foi improvável demais pra mim); e se alonga um pouco em certas partes, estendendo a tensão de tal modo que realmente obriga o leitor a continuar virando as páginas (o que é meio difícil num livro desse tamanho!). A narrativa é em terceira pessoa, geralmente focada em um personagem de cada vez, mas às vezes com alguns momentos de onisciência. A prosa é bem lírica – às vezes um pouquinho demais, mas em geral me apaixonei pelo tom poético do autor, especialmente quando descreve sons, cheiros e sensações sentidos por Marie-Laure, ou o modo como Werner percebe o mundo através das ondas invisíveis ao nosso redor.


Geralmente não dou notas para os livros porque sempre fico em dúvida, mas quero dar 9 de 10 para este, e o recomendaria fortemente, sem ressalvas, para fãs de ficção deste período histórico – e também para fãs de romances em geral. Doerr consegue construir e manter uma história interessante do começo ao fim, assim como iluminar os recônditos da alma de seus personagens e tocar o leitor profundamente. Histórias que humanizam a guerra são sempre importantes, e aquela pontada de melancolia que despertam em nós também.  “Algumas tristezas nunca deixam de existir”, diz o livro em certo momento. E não deveriam.

*

Toda luz que não podemos ver
Autor: Anthony Doerr
Tradutora: Maria Carmelita Dias
Editora: Intrínseca
Ano desta edição: 2015
528 páginas

Livro cedido em parceria com a editora Intrínseca.

Citações preferidas

Tocar alguma coisa de verdade, ela está aprendendo – seja a casca do tronco de um plátano nos jardins; ou um besouro preso em um alfinete no Departamento de Entomologia; ou o interior primorosamente lustroso de uma concha de vieira no laboratório do dr. Geffard –, significa amá-la.

*

– Você já sonhou alguma vez – murmura Werner – que não tem a obrigação de voltar?

[…]

– Seu problema, Werner – diz Frederick –, é que você ainda acredita que sua vida lhe pertence.

*

Werner fica impressionado ao perceber exatamente naquele momento como é extraordinariamente frívolo construir prédios esplêndidos, compor música, cantar canções, imprimir livros colossais repletos de pássaros coloridos diante da indiferença sísmica e controladora do mundo – quanta pretensão têm os seres humanos! Por que alguém vai se dar ao luxo de compor uma música se o silêncio e o vento são tão mais amplos? Por que alguém vai acender as luzes se as trevas vão inevitavelmente apagá-las? Se os prisioneiros russos são acorrentados a cercas, em grupos de três ou quatro, enquanto os soldados alemães enfiam granadas destravadas em seus bolsos e fogem?


BJORK ORKESTRAL: LIVE


 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

A MATEMÁTICA E A CIÊNCIA DO EU QUERO, NÓS QUEREMOS, NÓS PODEMOS.



Eu não quero educar a próxima geração de serventes, lixeiros, cozinheiros, porteiros, vigilantes, e outros que sempre vem das comunidades pobres. Eu quero que nossos alunos das escolas públicas possam usar a imaginação para pensar novas profissões, usando tecnologia e matemática, inovando nos fins sociais e ambientais como bons economistas capazes de implantar uma boa renda mínima para todos ou projetos que minimizem os impactos das mudanças climáticas. Eu quero educar ricos e pobres para acabar com a pobreza e ampliar nossas relações como cidadãos do mesmo Brasil. Eu quero que eles imaginem como Einstein novas teorias científicas e consiga prová-las usando a matemática e a física. Eu quero que eles aprendam Biologia sintética e possam resgatar o amor à natureza que perdemos.  



Hoje as escolhas que nossos estudantes fazem para suas vidas são reféns da falta de mobilidade, vivências, referências, e informações que amplie seus horizontes, dinâmicas e trajetórias de vidas. Ousadias que reduzem visões míopes da realidade, intensifica relações entre o eu e os outros, de preferência que saiba respeitar e valorizar a vida do outro na busca de igualdade de oportunidades, vivendo em ecossistemas educacionais de trocas múltiplas. Novas narrativas e cartografias emergem dessa construção conjunta da educação, sonhos e realidades. Porém é preciso paz na vida individual e coletiva para que novas melodias surjam dessas interações sociais entre saberes e teoria dos jogos, complexidade e outras. Educar para matemática da incerteza, do caos, da irreversibilidade já provadas pela ciência, assim como a teoria da incompletude, nos leva a outro nível de amor pela vida e a educação, muito além de relações apenas mecânicas e exatas que nos reduzimos e as realidades, isso nos ajuda a explorar outros universos macro e micro que vivemos. Outras possibilidades sociais e econômicas que não cabem mais em dogmas.  

            

 

Moby Dick como literatura na época não fez sucesso, a sua linguagem antecipava os tempos, assim como outras inovações que produziam as diferenças não reguladas, nem medidas pelas métricas da época. Mas antes que surjam inovações as nossas escolas tendem a matar a diferença e a curiosidade, ou melhor as vidas, mas principalmente nega os motivos que movem a aprendizagem que não podem ser reduzidas as provas. Afinal, como se calcula o destino que a ciência ignora? Enquanto o mundo é destruído por vidas mal educadas e planejadas! Se não fizermos nossa parte como educadores, atuando nos destinos programados de miséria e violência de grande parte de nossos alunos é o mesmo que matá-los? Não precisa responder, a realidade nos mostra respostas todos os dias. A que matemática, ciência, educação está a serviço sua vida? 



Algumas forças invisíveis regem nossas mentes e corações, conectadas às forças da natureza mais do que às forças econômicas e sociais que regem o mundo, por isso a História ainda não está escrita muito menos no fim. Os destinos de vida de uns estão ligados uns aos outros, e devemos resolver essa equação não linear com sabedoria e atitudes que mudam nossos futuros. A sobrevivência demanda coragem e escolhas. Conhecimento é um espelho que pode nos mostrar quem somos e quem podemos nos tornar. Cada um de nós tem que fazer o que deve ser feito, isso é a essência da educação. Saciar nossa fome por sempre querer mais é entender os limites da ciência e da matemática, e evitar novas bombas atômicas em forma de inteligência artificial, inserir no cálculo as teorias da incerteza, incompletude, complexidade. A fé, o medo, o amor são forças a serem entendidas e calculado seu poder como a energia nuclear, ambas são forças que determinam nossas vidas e futuros. Forças que moldam tempos e espaços e podem remodelar quem somos, fazer coisas que não planejamos nem imaginamos; isso acontece desde que nascemos e vai continuar quando morremos. Nossas vidas e nossas escolhas como trajetórias quânticas alteram o passado e o futuro. Elas devem ser entendidas momento a momento, cada ponto de intersecção, cada encontro, sugere uma nova direção potencial, um novo destino. 


 

Cada um tem o poder de mudar o mundo com conhecimento, não com ignorância maléfica. Um poder, todos podemos, existem lugares para quem busca a transição de uma sociedade que nunca está em paz. Todos os limites são convicções a ponto de serem transgredidos em mundo melhores, mais integrados e orgânicos a serviço da vida e do amor. A separação é uma ilusão! O eu, se estende para o infinito sempre em expansão. Mas porque sempre cometemos os mesmos erros na vida? não existe uma lógica ou prova? O ódio atacará, o processo de massificar pessoas, negar suas existências, e guerra mas a ideia de educação, amor, vida, verdade sempre sobreviverá nessa e outras eras. Ser é ser percebido pelos olhos do outro com inteligência não com violências. As consequências de nossas palavras e feitos se reverberam pelo Universo, através do tempo. O amor é um fato científico e matemático, sem paraíso nem inferno, vidas que se renovam sempre em novos desafios e destinos a serem estudados e aprendidos. O mundo continuará a mudar de milhões de pequenas gotas de coragem e de pequenos grãos de terra para a Terra da Sabedoria.