SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Filme Triângulo da tristeza! Cinema: Quando naufraga a ordem social.


Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

 

"Triângulo da Tristeza" é mais um petardo de Rubens Östlund para dinamitar as estruturas de uma sociedade bem-pensante e bem-vivente, calcada em privilégios

 

Ruben Östlund é um cineasta com uma missão: dinamitar as estruturas de uma sociedade bem-pensante e bem-vivente, calcada em privilégios. E ninguém dinamita com flores ou sutilezas. Östlund usa explosivos pesados.

 

Em Força Maior, a unidade de uma família em férias nos Alpes franceses é abalada após uma avalanche, e o marido vê comprometido seu lugar de patriarca. Em The Square - A Arte da Discórdia, um curador de arte contemporânea se encontra às voltas com uma série de percalços demolidores.

 

Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness) é mais um de seus petardos, desta vez botando na roda arrogâncias de classe, guerra de gêneros, dissensões ideológicas e futilidades do mundo da moda e da auto-exposicão. O filme, tal como The Square, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, mas a crítica internacional não poupou restrições à mão pesada do diretor sueco.

 

De fato, mais que em seus dois filmes aqui citados, Östlund lida agora com estereótipos ainda mais ostensivos. O casal de modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean, belíssima atriz falecida em agosto do ano passado), nos é apresentado numa interminavel discussão sobre dinheiro e convenções de gênero. Convidados para um cruzeiro de luxo junto a zilionários de nacionalidades diversas, eles logo dividirão o protagonismo com uma fauna exótica de passageiros e empregados.

 

O capitão (Woody Harrelson), estadunidense, se diz um "shit socialist" e trava duelo de citações com um magnata russo (Zlatko Buric), autêntico porco capitalista. Os ricaços são fabricantes de armas, fertilizantes, códigos para aplicativos e por aí afora. Quando o navio começa a sacolejar demais e o caos escatológico se instala, mesmo assim o jantar continua a ser servido e ninguém abre mão de seus privilégios e exclusividades.

 

A explosão östlundiana acaba se materializando, e o terceiro ato terá lugar numa ilha deserta com os poucos sobreviventes. A nova situação acarreta uma inversão de papéis sociais e a instalação de um matriarcado para que o grupo permaneça vivo. Como valor e poder, as posses dão lugar às habilidades práticas de cada um. O slogan "Todos Somos Iguais", apregoado na demagógica campanha fashion, ganha uma releitura ácida em termos de classe e de gêneros.

 

Como se vê, não é nada muito original. Triângulo da Tristeza investe numa caricatura social relativamente fácil. O roteiro avança aos trancos, sem uma costura dramatúrgica bem cuidada. Mas é inegável que diverte de maneira catártica com o inferno dos superricos e suas tentativas de comprar o mundo e as pessoas. Não que sobrem virtudes para os mais pobres. Afinal, conforme a cartilha implacável de Ruben Östlund, a natureza humana fala mais alto quando caem por terra as leis que separam servos e servidos.

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Sinônimos



Zé Ramalho.

  

Quanto o tempo o coração leva pra saber

Que o sinônimo de amar é sofrer

No aroma de amores pode haver espinhos

É como ter mulheres e milhões e ser sozinho

Na solidão de casa, descansar

O sentido da vida encontrar

Quem pode dizer onde a felicidade está

 

O amor é feito de paixões

E quando perde a razão

Não sabe quem vai machucar

Quem ama nunca sente medo

De contar o seu segredo

Sinônimo de amor é amar

 

Quem revelará o mistério que tem a fé

E quantos segredos traz o coração de uma mulher

Como é triste a tristeza mendigando um sorriso

Um cego procurando a luz na imensidão do paraíso

Quem tem amor na vida, tem sorte

Quem na fraqueza sabe ser bem mais forte

Ninguém sabe dizer onde a felicidade está

 

O amor é feito de paixões

E quando perde a razão

Não sabe quem vai machucar

Quem ama nunca sente medo

De contar o seu segredo

Sinônimo de amor é amar

 

Blues da Piedade


Cazuza

 

Agora eu vou cantar pros miseráveis

Que vagam pelo mundo derrotados

Pra essas sementes mal plantadas

Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena

Remoendo pequenos problemas

Querendo sempre aquilo que não têm

 

Pra quem vê a luz

Mas não ilumina suas minicertezas

Vive contando dinheiro

E não muda quando é Lua cheia

Pra quem não sabe amar

Fica esperando

Alguém que caiba no seu sonho

Como varizes que vão aumentando

Como insetos em volta da lâmpada

 

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

 

Quero cantar só pras pessoas fracas

Que tão no mundo e perderam a viagem

Quero cantar o blues

Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade

Pois há um incêndio sob a chuva rala

Somos iguais em desgraça

Vamos cantar o blues da piedade

 

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade

Senhor, piedade

Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

 

Ah, ah, um pouco de coragem

Ah, ah, lhes dê grandeza e um pouco de coragem

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Domínio de sala de aula: Conhecendo cada aluno com princípios e práticas pedagógicas.


A igualdade das inteligências pode surpreender a todos colocando em suspenso a hierarquia dos títulos, nas Universidades ou nas Escolas. A educação é uma aventura na "floresta de coisas e signos” onde os números, as palavras, as artes, os poderes, nosso corpo, a natureza, as tecnologias, a espiritualidade nos desafiam a explicá-los e construir sentidos em nossas vidas. 



A curiosidade e as diversas formas de aprender de cada pessoa sempre será o caminho do despertar das inteligências, e da mesma forma que aprendemos a falar podemos aprender diversas ciências e linguagens para conhecer o mundo e expressar quem somos. Necessitamos tomar a palavra e expressar com igualdade, revelando nosso processo de aprendizado e conhecimentos. Claro que o tempo livre, não confundir com o tempo de descanso, é essencial para brincar com a vida e os saberes, dialogarmos com o mundo e com os outros, atuando como pequenas máquinas de destruir hierarquias e produzir igualdade de inteligências em um mundo desigual.



“No fundo, o que eu tentei fazer por meio da escrita foi romper as barreiras entre as disciplinas e entre palavras de cima para baixo, para constituir o que hoje gosto de chamar de planos de igualdade, esses pequenos tecidos de um mundo da palavra igualitária.” Hoje infelizmente a palavra liberada é das redes sociais, carregadas de ódio, uma palavra que é desigual e violenta que tem invadido a sala de aula por comportamentos “tik tok” e mimetismos múltiplos. Muitas vezes também queremos que os alunos aprendam de forma autoritária repetindo as palavras ou buscando decifrar nossas explicações de sábios. Quando devemos todos aprender e ensinar com a circulação das palavras, os cruzamentos de palavras, todas as formas de apropriação de palavras do outro, a cultura do outro sempre está no cerne de processos de emancipação, e pela fala e escuta do outro. Não existe a palavra dos intelectuais e a do povo. Somos todos intelectuais aprendendo com a igualdade das inteligências. Abrir disciplinas e buscar diálogo entre palavras e pensamentos que compartilham um ecossistema educacional, uma floresta de coisas e signos, onde todos partilham essa sensibilidade e aprendizagem uns com os outros.



Escrever e falar é pensar, carrega em si uma certa política, formas de compreender a si e sua relação com o outro e com o mundo. A igualdade não é algo que se acredita é algo que se vive e verifica em nossas relações. A igualdade rompe com métodos estabelecidos, exige o ato livre de criação e compartilhar ideias, é contrário ao ethos pedagógico sempre de disciplinar e determinar regras. Mudar o mundo necessita mudar a escola e para mudar a escola é preciso mudar o mundo. Por isso a conquista do tempo livre na escola e no mundo é central para a emancipação do ser. O tempo livre é uma prática autodidata quando as pessoas decidem dispor do tempo que não tinham.


 

A escola com 20 minutos de recreio sem espaços e brinquedos para brincar, focada apenas no conteúdo sem diversos princípios e práticas pedagógicas para educar, sem conhecer e compreender a singularidade de cada ser e como os processos econômicos e sociais impactam sua aprendizagem. Essa escola do século XXI é a mesma tecnologia social que foi inventada há mais de 200 anos quando a sala de aula era o único lugar para transmissão dos conhecimentos, isso era baseado nos mosteiros e os professores como padres. Não existiam livros, televisão, carros para viajar, computadores e agora celulares e inteligência artificial, tudo isso impacta a educação. Da mesma forma que a pobreza, o crime, a destruição de famílias e lares, o consumo, as redes sociais, a política das desigualdades e os fascismos. Hoje por onde andamos, o que falamos, ouvimos, vemos, e sentimos, produzem várias sínteses sensíveis que impactam a formação do nosso ser que não se resume à escola e seus conteúdos.


A educação não é um processo de aprendizagem das condições em que se deve obedecer e reconhecer inferioridades pelo domínio, grito e adestramento de conteúdos para avaliações. A oposição entre um saber útil e um considerado como não útil como vemos agora no novo ensino médio é a imposição de um modelo de servidão quando devemos preparar modelos e vidas de igualdade e liberdade. A escola hoje trabalha como um modelo de progresso do saber na marcha do tempo afirmando as desigualdades como seu processo de organização. A escola se torna uma espécie de modelo da sociedade, ou a sociedade, um modelo para escola. Há apenas a marcha do tempo, das coisas, o progresso, o desenvolvimento – e aqueles que acompanham e aqueles que não acompanham, aqueles que têm sucesso e aqueles que não tem sucesso. Há algo de terrível nisso aprendemos a obedecer e servir a quem desprezamos, a quem usa as violências e desigualdades para manter seus poderes, depois passamos a nos desprezar no sistema que legitima e impõe as desigualdades, passamos a nos considerar impotentes e incapazes, e nos acostumamos no lugar onde os poderes nos coloca. Isso não é educar! Usar esses poderes para ter domínio em sala de aula não é educar. Educar passa pela jornada de construção do domínio e autonomia de cada um em seus processos de aprender e expressar seu ser, necessitamos para isso ter princípios e práticas pedagógicas que aprendam a lidar com as diferenças em planos de igualdade de inteligências e sensibilidades.     



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CARTA AOS GESTORES DA EDUCAÇÃO MUNICIPAIS, ESTADUAIS, E AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.





CARTA AOS GESTORES DA EDUCAÇÃO MUNICIPAIS, ESTADUAIS, E AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SOBRE AS DIVERSAS BRUTALIDADES E DESIGUALDADES NAS ESCOLAS PARA QUE GOVERNOS, UNIVERSIDADES, TERCEIRO SETOR, EMPRESAS, COMUNIDADES, COOPERAÇÃO INTERNACIONAL POSSAM ATUAR JUNTOS PARA ENFRENTAR AS TRAGÉDIAS QUE MILHÕES DE ALUNOS, FAMÍLIAS E PROFESSORES ENFRENTAM TODOS OS DIAS NAS ESCOLAS E COMUNIDADES. VÁRIOS FATORES SOCIAIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS E EDUCACIONAIS IMPACTAM DIRETAMENTE A EDUCAÇÃO; INCLUSIVE COM DESPERDÍCIO DE RECURSOS E TEMPO QUANDO NÃO OLHAMOS DE FRENTE COM RESPEITO A DIGNIDADE DAS PESSOAS DE FORMA SISTÊMICA, TRANSDISCIPLINAR E COMPLEXA A REALIDADE DAS ESCOLAS E VIDAS QUE LUTAM PARA APRENDER E ENSINAR.

 

Nós temos dialogado com Professores da Rede pública de educação que atuam há bastante tempo nas escolas e os relatos coincidem com professores recentemente concursados ou substitutos. Nós estamos atuando em dezenas de escolas onde faltam jogos, brinquedos e espaços para brincar, faltam livros das séries que não chegam a tempo, aumento da desatenção e indisciplina, muitos ocasionados pela Pandemia, pobreza e violências que invadem a escola. Como todos sabem, há décadas vários níveis de aprendizagem convivem na mesma série, muitos sem saber ler, escrever e fazer algumas operações matemáticas mas avançam de série e o problema se agrava a cada ano. É preciso enfrentar esses problemas numa rede de colaboração entre nós Professores, Governos, Secretarias de Educação, Universidades, ONGs e outros que conquistaram bons resultados em situações semelhantes. Como sabemos a verdade está nas escolas e em seus processos de ensino e aprendizagem que necessitam de algumas condições básicas para serem realizados. Não podemos como professores e povo cearense e brasileiro fazer de conta que não existem, pois dinheiro público e tempo das pessoas estão sendo gastos com baixo impacto nas vidas das crianças e famílias que continuam há décadas na pobreza em processos que mantêm os mesmos erros e outras prioridades. 



Nenhum país dos melhores sistemas educacionais do mundo segundo o PISA, separou política educacional da social. Nenhum dos principais teóricos educacionais como Freire, Vygotsky, Malaguzzi, Walon, Morin e outros defenderam crianças com fome na escola e sofrendo brutais desigualdades pelos avanços das desigualdades e violências. Portanto não podemos como Bolsonaros fazem viver de mentiras, fake news e violências contra o povo brasileiro e suas escolas. Necessitamos olhar de frente as condições reais das escolas, escutar as vozes dos professores, alunos e famílias e construir juntos de baixo para cima diagnósticos que revelem por mais dura que seja a realidade que os professores estão enfrentando. Secretarias de Educação não podem se resumir a serem Empresas de Engenharias pois apenas paredes não realizam educação, nem cultura nem economia como mostram os países que tiraram milhões de pessoas da pobreza. O Brasil continua a colocar as pessoas na pobreza. Não podemos tornar a educação refém de engenharias e cases políticos, quando milhões de crianças e jovens não têm acesso ao direito da educação. Temos que valorizar várias ideias e iniciativas de professores e escolas sem nenhum apoio e dialogar em rede com outros setores da sociedade na missão de educar o povo brasileiro. Por isso, organizações como Fundação Lemann, Todos pela educação, Itaú e outras não podem viver de querer ocupar os Ministérios e atropelar a democracia, e sim respeitar os diversos processos coletivos de educadores que constroem de verdade a educação brasileira nas escolas. Se as grandes Empresas e Bancos com a maior taxa de juros do mundo querem de verdade ajudar a educação brasileira ? Como sabem, há décadas as escolas precisam de brinquedos, espaços para brincar, comida, livros, banheiros, apoio aos professores. Os Governos, Universidades, ONGs, Empresas, Cooperação internacional, Comunidades podem colaborar muito mas a partir das vozes, dores e sofrimentos da Escola.  Por isso os Gestores Municipais, Estaduais e o MEC não podem fazer de conta que nada disso está acontecendo e precisamos agir em redes e juntos.



São Paulo - Enquanto houver crianças pobres frequentando as escolas brasileiras, o sistema educacional do país não irá atingir um nível de excelência. A afirmação é de Martin Carnoy, professor da Escola de Educação de Stanford, que é categórico ao afirmar que todo o dinheiro do mundo não será suficiente para melhorar o sistema educacional a menos que haja uma mudança profunda na sociedade brasileira.

 

Com base em suas pesquisas, o professor afirmou que o país não poderá ter um bom sistema educacional público antes de que o problema da pobreza seja resolvido.

 

"Quanto mais crianças pobres, pior o sistema", disse Carnoy. Ele explica que a educação é puxada pela parte inferior, e não pelos exemplos de sucesso, isto é, ela nivelada por baixo. Além disso, ao contrário do que é comumente defendido, Carnoy acredita que a pobreza não vai ser resolvida pela educação, porque esse é o caminho mais caro.

 

"Não é barato resolver o problema da pobreza de um país pela educação, é preciso começar logo na educação infantil, quando a criança tem 3 anos de idade, com um ensino estimulante e de extrema qualidade", explica.

Ele defende que o melhor caminho é o das mudanças na sociedade como um todo, oferecendo melhores condições de saúde, nutrição e segurança, por exemplo.

 

"Os sistemas educacionais estão profundamente mergulhados e conectados com as sociedades em que estão inseridos. Se a sociedade vai mal, a educação vai também", afirma o professor.Para ele, mudanças fundamentais na educação precisam ser puxadas por mudanças profundas na sociedade.

 

O uso da tecnologia, tão aclamado como a solução para todos os problemas, também é colocado em uma posição secundária por Carnoy. "Não há tecnologia que substitua um bom professor e não há um bom sistema educacional sem bons professores", encerra.

 


domingo, 12 de fevereiro de 2023

ChatGPT e DALL-E: quem é o empreendedor que quer transformar o mundo da inteligência artificial

 

Sam Altman

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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Sam Altman tem uma grande capacidade de atrair investidores para promover projetos que moldam o mundo

A primeira coisa que fizemos para saber sobre a vida de Sam Altman foi perguntar ao ChatGPT, o revolucionário sistema de inteligência artificial que ele mesmo idealizou por meio da empresa que fundou em 2015, a OpenAI.

"Sam Altman é um empresário e tecnólogo americano, conhecido por ser o presidente da OpenAI e ex-CEO da Loopt", nos informou o robô virtual de que muito se fala desde que foi lançado em 30 de novembro.

Também em sua resposta, o robô fez referência ao fato de ser considerado um líder influente na comunidade tecnológica e de ministrar palestras sobre temas relacionados à inteligência artificial.

Uma carta de apresentação confiável baseada em fatos ou generalizações, mas que, como o próprio sistema reconhece, "não faz declarações subjetivas sobre a personalidade ou o caráter de um indivíduo".

Por isso, decidimos consultar fontes um pouco mais tradicionais para conhecer o homem que começa a moldar nosso presente com uma série de inovações tecnológicas como o já citado ChatGPT e o gerador de imagens DALL-E.

Primeiro o não artificial

Samuel H. Altman aprendeu a programar e desmontar um dos primeiros computadores da Apple, o Macintosh, quando tinha 8 anos, segundo entrevista ao The New Yorker.

Altman disse na mesma entrevista que ter um computador o ajudou com sua sexualidade, graças às conversas e grupos dos quais pôde participar na adolescência.

Aos 16 anos, ele contou aos pais que é gay e depois falou sobre isso abertamente na escola onde estudava.

Ilustração

CRÉDITO, GETTY IMAGES

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Âmbito acadêmico e criativo são setores nos quais sistemas como o DALL-E e o ChatGPT causam preocupação

Ingressou na Universidade Stanford (na Califórnia, EUA) para estudar ciência da computação, mas não concluiu o curso.

Juntamente com alguns amigos decidiram dedicar-se totalmente a desenvolver a sua primeira ideia , o Loopt , um aplicativo para compartilhar a localização com outras pessoas.

Estamos falando do ano de 2005, muito antes do WhatsApp existir e quase na mesma época do surgimento do Facebook.

O Loopt não teve muita importância, mas serviu de trampolim para lançar a carreira de empresário de Altman e abriu as portas para o mundo dos grandes investimentos em tecnologia.

Uma das empresas que apoiou a Loopt em seus primórdios foi a Y Combinator (YC) , uma das mais prestigiadas e bem-sucedidas aceleradoras de startups, que investiu em inovações como AirBNB e Dropbox.

Altman vendeu seu primeiro projeto por mais de US$ 40 milhões, o que lhe permitiu expandir suas áreas de interesse e investir em várias das ideias sob o guarda-chuva YC, que chegou a presidir entre 2014 e 2019.

Foi neste período que, juntamente com Elon Musk, criou a OpenAI , uma empresa que lhe permitiu mergulhar num mundo que despertava nele, ao mesmo tempo, fascinação e temor: o da inteligência artificial.

Lado humano

Elon Musk e Altman

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Embora Elon Musk tenha se separado da empresa que fundou com Altman, a OpenAI, ele continua investindo em iniciativas de inteligência artificial

A OpenAI é uma empresa de pesquisa cuja missão, diz em seu site, é garantir que "a inteligência artificial beneficie toda a humanidade " e não a elimine.

Uma ideia em parte impulsionada pelo medo expresso por Altman de que a inteligência artificial pudesse se tornar uma arma letal contra os humanos.

Na extensa reportagem que Tad Friend escreveu para a revista The New Yorker em 2016, Altman fala sobre a necessidade de uma fusão como o melhor cenário possível para o futuro.

"Ou escravizamos a inteligência artificial ou ela nos escravizará", disse ele.

Uma ideia partilhada por Musk, que, embora se tenha dissociado da OpenAI em 2018 devido ao que chamou de conflitos de interesses com a sua principal empresa, a Tesla, continua a investir nela e a financiar outros projetos que vão na mesma linha de conseguir o controle de sistemas artificiais inteligência. 

Um deles é o NeuraLink, que quer tentar conectar nosso cérebro a computadores.

O agora dono do Twitter acredita que só assim o ser humano conseguirá acompanhar a inteligência artificial e não ser substituído por ela quando esses sistemas se retroalimentarem.

"Nossa maneira de falar vai soar muito lenta para os computadores", disse ele, "uma espécie de som de baleia", aludindo claramente à capacidade dos computadores de processar informações em terabytes.

No presente

Essa visão fatalista do futuro que levou Musk e Altman a se envolverem com a inteligência artificial também foi o que determinou a estratégia da OpenAI em relação ao ChatGPT e ao DALL-E.

"Uma das coisas em que realmente acreditamos é que a forma mais responsável de introduzir esses sistemas na sociedade é gradualmente", disse Altman há algumas semanas em uma conversa com a StrictlyVC, empresa que mostra o que está acontecendo no Vale do Silício e no mundo tecnológico.

"É assim que podemos levar pessoas, instituições e os reguladores se familiarizarem com ele, pense nas implicações, sinta a tecnologia e tenha uma ideia do que ela pode e não pode fazer, em vez de largar um sistema superpoderoso de uma só vez."

Ilustração ChatGPT

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'O ChatGPT é incrivelmente limitado', reconheceu Altman

Uma estratégia que, segundo o canal Dot CSV no YouTube, especializado em informar e explicar a inteligência artificial, marca uma virada no que tem sido a tendência das grandes empresas de tecnologia nos últimos 20 anos.

"Há uma tendência de as empresas que estão na vanguarda da inteligência artificial agirem sob o lema do Vale do Silício de mover rápido e quebrar as coisas", comentam, analisando as palavras de Altman.

"Essa filosofia de ser ágil e lançar produtos sem pensar em suas implicações."

Eles enfatizam que "no caso de Sam não se trata de agir rápido, mas de trazer à tona produtos ainda imperfeitos para que pouco a pouco a sociedade se adapte a eles".

De certa forma, é isso que está acontecendo com o ChatGPT e o DALL-E, que já estão recebendo muitas críticas de vários setores.

"O ChatGPT é incrivelmente limitado", reconheceu Altman em um tópico que postou no Twitter em dezembro.

"Mas bom o suficiente em algumas coisas para criar uma falsa impressão de grandeza. É um erro confiar nele para qualquer coisa importante agora."

Jovens estudando em sala de aula

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Existe preocupação sobre o potencial que os sistemas de inteligência artificial podem ter

Altman finalizou dizendo que isso é apenas uma prévia do que será o progresso e que ainda há muito trabalho a ser feito quanto à sua solidez e veracidade.

Algo parecido com o que ele escreveu naquela mesma rede social em referência às perguntas que o chat está recebendo sobre os preconceitos ou preconceitos que ele tem em suas respostas.

"Sabemos que o ChatGPT tem fragilidades em termos de viés e estamos trabalhando para melhorá-lo", reconheceu.

"Estamos trabalhando para melhorar as configurações padrão e torná-las mais neutras , e também para que os usuários possam fazer com que nossos sistemas se comportem de acordo com suas preferências individuais dentro de amplos limites."

"Isto é mais difícil do que parece e vamos demorar algum tempo a conseguir", justificou no final do seu tópico.

No futuro

Altman completará 38 anos em abril e recentemente relembrou uma mensagem de três anos atrás, na qual previa os "grandes desenvolvimentos tecnológicos a serem alcançados até 2025".

Fazendo a fusão nuclear funcionar em escala de protótipo de forma sustentável, fazendo com que a inteligência artificial ficasse ao alcance de muitas pessoas na indústria e tornando a edição de genes uma cura para pelo menos uma das doenças mais importantes que nos afetam.

Ilustração DNA

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Altman acredita que o crescimento depende do investimento em pesquisa

Nesse tweet ele menciona a fusão nuclear, sua outra grande preocupação.

Altman passou anos investindo pesadamente para impulsionar os esforços de pesquisa e desenvolvimento da empresa Helion Energy, que busca produzir eletricidade limpa e de baixo custo usando um combustível derivado exclusivamente da água.

Ainda faltam dois anos para vermos se uma ou mais das previsões de Altman se tornarão realidade.

Mas destes, o que já está se tornando mais tangível é o da inteligência artificial, cujos primeiros passos estamos testemunhando graças ao OpenAI.

A empresa que Altman idealizou dentro de um conceito mais global do que acredita ser o futuro e para a qual passou anos focando seus investimentos em avanços tecnológicos e científicos.

Um futuro que, segundo suas palavras no artigo da The New Yorker, pode-se imaginar que terá valores semelhantes ao presente que o cerca.

"Amo este país, o melhor país do mundo", disse referindo-se aos Estados Unidos, assegurando ainda que a democracia só sobrevive numa economia baseada no crescimento. 

"Sem os benefícios do crescimento econômico, o experimento da democracia fracassará", disse ele.

Vai dar certo? 

Ao longo de sua carreira, Altman conseguiu atrair o capital de fortes investidores para financiar projetos que aprovou durante sua passagem pela Y Combinator e nos quais investiu posteriormente.

Sam Altman

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Pouco se sobre a fortuna exata de Sam Altman

Pouco se sabe exatamente quanto Altman tem em termos de riqueza, mas recentemente houve vários anúncios projetando seu crescimento para o seleto grupo de bilionários.

A OpenAI, que nasceu como um projeto sem fins lucrativos, tornou-se uma empresa híbrida com benefícios limitados.

Há algumas semanas, o Wall Street Journal mencionou em um artigo que a OpenAI estava a caminho de se tornar uma das startups mais prósperas dos Estados Unidos, com um valor de US$ 29 bilhões, apesar dos poucos benefícios que gera.

Pouco depois, ficou conhecido o acordo plurianual e multibilionário que a empresa alcançou com a Microsoft com a promessa de ter um forte impacto em um futuro não muito distante "na computação pessoal, na Internet, nos dispositivos inteligentes e na nuvem".

E esta semana passamos a conhecer a versão plus do ChatGPT , um serviço de assinatura que está sendo testado nos EUA e que paga 20 dólares por mês.

As mudanças que eles garantem não afetarão seu compromisso de criar sistemas e produtos de inteligência artificial confiáveis ​​e seguros.

Vai dar certo? Isso pode ser algo que podemos perguntar ao ChatGPT no futuro.