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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Polilaminina, fruto de mais de duas décadas de pesquisa brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).



A REGENERAÇÃO INESPERADA


Em um país onde a ciência muitas vezes é vista como um luxo, a notícia de um medicamento capaz de reverter lesões medulares agudas soa como esperança.

Não se trata de ficção científica, mas de Polilaminina, fruto de mais de duas décadas de pesquisa brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Um trauma, a interrupção súbita dos movimentos, o diagnóstico de tetraplegia.

Agora, imagine que, em poucas horas após o acidente, uma única injeção desta proteína, isolada da placenta humana, pode reorganizar o caos.

Ela age como um guia, uma "malha" que orienta os axônios (as extensões dos neurônios) a se reconectarem, restabelecendo a comunicação vital entre cérebro e corpo.

Os resultados preliminares são mais que animadores: pacientes que já haviam recebido a sentença da cadeira de rodas surpreenderam a equipe médica ao recuperar, em maior ou menor grau, sua mobilidade.

O caso mais emblemático, de um jovem que recuperou praticamente todos os movimentos, transforma a pesquisa em uma poderosa narrativa de superação.

Este é o poder da ciência quando ela imita a natureza.

A boa nova, divulgada recentemente, é que o Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabeleceram prioridade absoluta para acelerar o estudo clínico da Polilaminina, em parceria com o laboratório Cristália.

A intenção é que, devido à raridade e gravidade da lesão, sem alternativa terapêutica eficaz hoje, o medicamento possa ser disponibilizado antes mesmo de todos os ritos da fase 3 estarem concluídos.

É justo comemorar o reconhecimento oficial, mas a alma crítica questiona: por que a "prioridade absoluta" se faz necessária para algo que já se provou tão promissor e urgente?

A ciência caminha em ritmo de inovação, enquanto a aprovação parece arrastar-se na cadência da rotina.

Cada dia de espera significa a perda da janela de tempo ideal para aplicação, que é de até quatro dias após a lesão.

Essa história não é apenas sobre o desenvolvimento de um remédio; é sobre o valor da pesquisa nacional e a necessidade de desburocratizar o caminho entre o laboratório e o paciente.

É sobre a vida de milhares que aguardam uma oportunidade de recomeçar a andar.

Que a urgência burocrática finalmente espelhe a urgência humana.

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