SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O ARTISTA EM CADA UM DE NÓS - Por uma Educação de Sentimentos! ( parte 1 )

Busco encontrar pessoas capazes de manifestar seus desejos, sonhos, paixões sem ter medo de contar as suas tragédias. Encontrar a beleza das coisas e ter á coragem de transgredir a razão e as dores pelo amor. A capacidade de educar os sentimentos, o artista em cada um de nós.

Transformando sofrimentos em impulsos para vida. Devemos apreender a construir para si mesmo limites ; antes impostos pela natureza. “ Esse era o sentido da palavra liberdade na Grécia. Os gregos não suportavam a perda da liberdade com relação a outros grupos, mas, antes de tudo, temiam se tornar escravos de sua proporia natureza. Primavam, assim, pela contenção, pela sofisticação dos gestos, pelo autocontrole. Sua grande liberdade é dizer não a si mesmo.” Desta forma começamos a enxergar o mundo através de novas perspectivas ; esta é a meta. Tendo consciência do limitado , ganha a percepção do que é ilimitado, do sublime , da arte.

Este é o jogo entre satisfação e a privação com relação aos nossos desejos no desenho da arte de nossa vida que vai construindo esta humanidade da qual nos orgulhamos. Porem a arte, a alegria, a dança, a sexualidade, o erotismo interferem nos gestos e se impõe, desmontando a seriedade, trazendo vida , intensidade, força. Por isso “ as leis, a moral, não podem ter como função impedir a participação do homem na vida. O objetivo da lei é permitir os afetos e os transbordamentos das paixões, ao invés de impedi-los; por isso lei e transgressão são faces da mesma moeda. A vida esta a disposição da expansão humana, de sua auto-superação, que surge da imposição dos limites.

Porem corremos um risco de viver de nossos limites gerados por nossos sofrimentos.“A maior é mais perigosa de todas as doenças, é o homem doente de si mesmo. A ira, a crueldade, à-vontade de perseguir se voltam contra ele mesmo“. Quando uma força , uma expansão do ser , é privada de suas condições de exercício, ou seja, quando ela é impossibilitada de materializar-se em sua atividade artística , torna-se reativa.

A consciência e sua capacidade de lembrar os sentimentos que vivemos, fixa as impressões , produzindo uma camada de sentidos. As novas impressões, acontecimentos, que chegam já não são sentidas, mas reconhecidas pela memória, o que termina por produzir uma repetição, um ressentimento. Porem temos a capacidade de fechar as portas e janelas da consciência , possuímos a faculdade do esquecimento e a consciência não é capaz de controlar os instintos da vida. Felizmente, a consciência não é capaz de atingir a complexidade múltipla da vida, que se encontra em todas as suas manifestações, predomina a vida e seu jogo de forças sobre os passados esquecidos.

Felizmente o pensamento que se torna consciente é a menor parte do que vivemos. “ Todo organismo pensa, todas as formas orgânicas tomam parte no pensar, no sentir, no querer” Ele é a complexidade das coisas se atraindo, e se afastando, se interpretando, e o homem faz parte deste processo incessante e infinito. O que significa que o pensamento , mesmo aquele que chamamos de racional , responde a força artística, criadora, presente em todas as coisas.

Porem o Universo conceitual humano , na medida em que se tornou cada vez mais a fixação de valores e de verdades, se sustentou não na manifestação, mas na negação da comunicabilidade transbordante própria da vida. “ O que o homem nega, em sua antinatureza, é a própria vida, o que ele quer é silenciar os afetos, as paixões,as pulsões; em outras palavras, o desconhecido, a pluralidade, a mudança, o tempo, a necessidade de criar novos caminhos,em nome de um corolário de conceitos, de uma lógica de identidade, que se traduz num esquema moral de interpretação do mundo. Em vez da vida, os signos, os conceitos, os valores,as palavras.

Nesta hora, temos que nos tornar heróis , artistas de nossos destinos. O que reina não é mais um instinto de conservação; e sim a honra, a liberdade, a coragem, a força, a ética, o amor. O artista em cada um de nós capaz de criar e sentir novas histórias. O Belo é a aparência equilibrada que nos faz esquecer as dores da vida, seus desequilíbrios e excessos. A tragédia grega é a encenação da reconciliação necessária do homem com a vida. A luta humana contra o destino é , na mitologia grega , uma luta contra as determinações do jogo de forças exteriores. É na tragédia que surge pela primeira vez , a vontade humana como princípio ativo, como ação. Agora o herói tenta desesperadamente agir , ele se revolta contra as determinações, os impedimentos, dos deuses e dos homens, e quer fazer valer sua vontade. Mas esta vontade é sempre causadora de sofrimentos maiores, por isso é sempre castigada pelos Deuses. Corremos o risco do excesso de si, que tenta não apenas ser semelhante, mas superior aos Deuses. O maior perigo humano, nos ensina a tragédia , é perder a noção do limite. A função da tragédia é , enfim , por meio da ficção confrontar o homem com o sofrimento, para que possa viver e se fortalecer com a dor inevitável, própria de tudo que vive.

“Na encenação trágica, quem sofre é o personagem, não o publico, mas o público sofre quando entra em contato com o sofrimento em si mesmo, que define a tragicidade da existência. Então ele sofre, mas mediado pela força viva e intensa da arte, que não traz apenas um desenrolar das ações, mas antes de tudo música, a dança, as cores, a beleza. Ao relacionar o sofrimento a um acontecimento próprio da vida, o homem individual se liberta,porque se vê vinculado a um fenômeno que atinge a todos , ele não se sente mais só, nem mesmo quando esta sozinho.

A tragicidade da existência não é nada que possa ser resolvido ou superado; é, ao contrário o caráter próprio da existência humana: um ser mortal , que sabe que é mortal, que tem consciência da finitude e do limite. Mas, se por um lado o homem sabe porque vai morrer, ele também possui, como contraponto, o sentido estético, a arte, que é capaz de transfigurar este sofrimento em alegria. Negar o caminho estético da existência é o mesmo que impossibilitar a vida afirmativa, marcada pela alegria de viver.”

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