SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 15 de julho de 2023

SOBRE A JORNADA DE ESTUDOS E PESQUISAS DE COMO ELAS MUDAM A EDUCAÇÃO, A VIDA DE BILHÕES DE PESSOAS E O PLANETA TERRA.



A USP fará uma nova revisão curricular visando acabar com o conceito de disciplinas e integrar o conteúdo em processos de aprendizagem mais transdisciplinares, complexos e sistêmicos. Essa aproximação de conteúdos por pesquisas, extensão e ensino tem muito mais a ver com o que aprendemos. Não aprendemos em caixinhas, como os produtos são produzidos em fábricas e encaixotados. A percepção nem a curiosidade são lineares, nem a vida, nem a realidade. A imaginação explode as caixinhas dessas disciplinas. Quando um conhecimento é descoberto por um cientista ele muda várias ciências como no caso da física, biologia e química. Muitas dessas descobertas mudam o passado, o futuro, as relações políticas, econômicas e sociais, as tecnologias e com ela a economia e sociedade como estamos vendo sem aprender. Vendo, sentindo, tocando, ouvindo de formas distintas do que as escolas e as Universidades buscam ensinar. Há tempos minha jornada de pesquisa e estudos se dá por outros caminhos. 

 

Um professor perguntava aos alunos de História da Universidade como eles ensinavam História sem saber política, economia,e sociologia? A Universidade está mais preocupada com o método do que com o conhecimento, quando a ideia de método, conceitos e disciplinas isolam o que a vida e a realidade não separam. As ciências e os conhecimentos não nasceram em pacotes, ambientes controlados, e visando um Doutorado. Elas nascem pelo prazer de uma criança aprender mas principalmente como os conhecimentos mudaram nossas vidas e o mundo em que vivemos. Mas muitos dos conhecimentos que produzimos destruíram vidas e o planeta.


  

Minha vida é uma pesquisa transformada em jornada de aprendizagem baseados em desafios e acasos espirituais. Muitos vivem achando que a História e suas vidas não mudam lendo ela pelos livros sem associar com a própria vida. Eles são programados por conhecimentos que os aprisionam e não libertam. Outros vivem para mudar suas vidas e a História, eles se agarram ao anjo da história que foi escrito por Walter Benjamin enquanto caminhava e aprendia em suas passagens pelo mundo. Ele soube com sua capacidade crítica interpretar a história e a sociedade em transição em que vivia. Vivemos hoje como na época dele, uma época facista, estados de exceção que exclui a maioria da população de tudo, incluindo suas terras, comida, famílias...Soma-se a isso de forma complexa as inovações tecnológicas, incluindo o avanço da inteligência artificial e fake news em ditar verdades, o impacto das mudanças climáticas, e o avanço do crime organizado e guerras que impactam juntas de diversas formas nossas vidas. Agora é urgente. E o que estamos fazendo diante disso? Estamos educando pessoas para transformar suas vidas e o mundo que vivemos? ou estamos mentindo para elas com uma educação da mentira e da morte? Como educar sensibilidade e ética em sala de aula? Por isso a extensão integrada à pesquisa e ensino se torna urgente por questões epistemológicas sobre o saber. O Ser humano vive várias histórias em sua vida antes e depois da escola e Universidade, ele precisa ter capacidade de decifrá-las em seus aspectos sociais, econômicos, políticos e científicos, para libertar-se de suas dores e demônios com arte, e de como ele foi produzido por vários saberes e poderes negando sua existência boa, bela, justa e economicamente sustentável.



Mas nossos Prometeus cientistas abriram a caixa de pandora com a energia nuclear, a inteligência artificial, a engenharia genética e outros. Nossos imperadores declararam guerras econômicas, culturais e fascistas de todos contra todos num individualismo cada vez mais delirante em benefício de um 1% da população. As mudanças climáticas provocadas pelo homem mataram bilhões de pessoas e o planeta sobre nosso silêncio e omissão? Transformar a educação é urgente não podemos nos render a educação neoliberal, ao entretenimento vazio sem estética, nem aos fascismos da ignorância e maldades, nem omissos as injustiças sociais, mudanças climáticas, e as consequências das tecnologias e ciências. Esse é o currículo que não cabe mais na sala de aula nem em modelos burocráticos e refém de notas e disciplinas que castram a inteligência e a vida.  



A História, a mãe das ciências, tem sido escrita por conceitos e negada sua alma de processos históricos que são frutos de contextos singulares que enfrentam, infelizmente, de forma isolada as grandes forças econômicas e políticas. Nos atuais modelos educacionais a matemática crítica e as cem linguagens das crianças tem sido negada às suas potências e realizações na vida. As mini-histórias que permitem observar como uma educação interativa possibilita às crianças e jovens participação ativa em seu próprio aprendizado e mostram como os professores podem provocá-las nesse processo, construindo experiências significativas com tempo, espaço e materiais aparentemente simples, porém envolventes. Infelizmente também temos negado o potencial da imaginação! Nunca foi tão difícil encarar o amanhã sem sentir medo, desesperança e pessimismo. Como organizar nossas vidas quando parece impossível prever o estado do planeta na semana que vem, que dirá daqui a um ano ou uma década? O que precisamos agora são práticas e didáticas pedagógicas que nos ajudem a recuperar a confiança e estimulem a criatividade ao lidar com futuros incertos. Ao aprender a pensar no impensável e imaginar o inimaginável, e ao prever as mudanças com mais rapidez, será capaz de se adaptar a desafios, controlar a ansiedade e aumentar sua esperança e resiliência cotidianas. 




Sim, podemos multiplicar os pães da ciência com ética sem negar nossa espiritualidade. A biologia sintética revolucionará o jeito como definimos famílias, como identificamos doenças e tratamos o envelhecimento, onde construímos nossas casas e como nos alimentamos. Esse campo em rápido crescimento ― que utiliza computadores para modificar ou reescrever o código genético ― criou soluções revolucionárias e inovadoras, como as vacinas de mRNA para a Covid-19, fertilização in vitro e hambúrguer cultivado em laboratório que tem gosto de hambúrguer normal. A biologia sintética nos oferece opções para lidar com ameaças existenciais: mudança climática, insegurança alimentar e acesso a combustível. Mas para isso temos que lidar com a percepção do que não conhecemos nem nomeamos ainda. Afinal, como reconhecemos um gato? Como o diferenciamos de um cachorro? Por que não confundimos um elefante com um tatu ou não chamamos uma mulher de chapéu? Esse problema formidável vem obcecando os pensadores desde Platão até os filósofos contemporâneos, e nem mesmo Kant soube solucioná-lo de forma satisfatória. 



Por isso Umberto escreveu Kant e o ornitorrinco, um livro sobre Ciências cognitivas e Educação! De Kant ― de quem dependem os rumos das ciências cognitivas deste século, a partir de seus dilemas e axiomas ―, Eco retira os conceitos empíricos que admitem um primeiro núcleo a partir do qual se organizarão sucessivas definições. Já o ornitorrinco, mamífero que por mais de um século não conseguiu ser incluído em qualquer categoria de ordem e espécie, serve como exemplo primário para as dificuldades de classificação. Serve, portanto, para testar o sistema kantiano, ou a ordem do conhecimento segundo Kant; e ainda para que imaginemos a reação do filósofo diante desse animal que nunca chegou a conhecer.



“Neste livro explico por que o ornitorrinco não é horrível, mas prodigioso e providencial por pôr à prova uma teoria do conhecimento. A propósito, pela sua aparição muito remota no desenvolvimento das espécies, insinuou que não seja feito com pedaços de outros animais, mas que os outros animais é que são feitos dos seus pedaços. [...]




Assim talvez nosso desafio educacional seja viver uma jornada de estudos e pesquisas que encontrem pelo caminho vários ornitorrincos que possamos compreender como eles mudam a educação, nossas vidas e o planeta Terra. Compreendermos que não somos educados com pedaços de disciplinas, mas que as disciplinas são feitas dos pedaços de nossas vidas e que sim podemos viver como a Terra e a vida de forma orgânica, complexa e sempre em mutação diante dos desafios do mundo.



 



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