SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 30 de janeiro de 2022

INDÍGENAS PAGAM COM SUAS VIDAS NOSSAS IGNORÂNCIAS E VIOLÊNCIAS. LOGO ELES QUE AMAM A NATUREZA TODOS OS DIAS ENQUANTO DESTRUÍMOS NOSSOS PRESENTE E FUTUROS.



A vitória do povo mapuche no Chile à Presidência da República se soma a vitória e constituição boliviana, assim como as conquistas dos povos indígenas no Canadá, EUA e México com o Zapatismo. Devemos contar a história e os projetos educacionais do Povo Pitaguary, à luz de lutas e conquistas nacionais como do Povo Baniwa e internacionais visando compreender o processo histórico e antropológico que remonta às origens da humanidade. No cenário de mudanças climáticas, importantes lições esses povos podem nos educar. Eles vivem à milhares de anos na Terra, seu aprendizado e relações com a natureza são a base de suas culturas. Eles que amam a natureza e agem como guardiões desse tesouro tão precioso pra humanidade, enquanto destruímos nossos presente e futuros dessa e das próximas gerações.  



Entre essas lições de vida podemos citar seus projetos com agricultura, os diálogos vivenciados com a figura espiritual da Caipora e os encantados como seres invisíveis que atuam na proteção das Matas (florestas), e outras práticas educacionais que vão além da razão ocidental, e nossas Escolas e Universidades baseadas no método científico. Necessitamos aprender a misturar saberes e práticas locais, ancestrais e científicas com uma formação mais complexa, diversa e dinâmica para os vários desafios e interações sociais que temos ao longo da vida. O Museu do Amanhã no Rio está organizando uma exposição sobre a Amazônia nesse sentido. A educação em campo e no campo é um lugar especial para que as catarses que nos transformam aconteçam ao mesmo tempo, transformando nosso corpo, psique, intelecto, emoções, valores, aprendizagem política e cultural. Afinal, a mente corporificada de Varella, o conatus de Spinoza, e os mil platôs de Deleuze tentam nos despertar do sofrimento e da educação letrada morta.  



A escolha do Povo Pitaguary é mágica na medida em que uma nova geração de jovens indígenas lutam, constroem e resistem ao contínuo extermínio de seu povo, da biodiversidade ambiental onde moram, dos seus espaços sagrados e sua cultura. Jovens indígenas que fundaram uma Organização Social Sem Fins Lucrativos, denominada Instituto Asas e Raízes, e estudam Administração Pública, Biologia, Gastronomia, Pedagogia e Mestrado em Educação na UNILAB, unindo saberes acadêmicos e indígenas. Porém a defesa da natureza, povo e cultura é feita ao mesmo tempo na agricultura, educação indígena, relação com a natureza, espiritualidade e outros. Devemos observar suas teorias e práticas não como algo isolado, departamentalizado e instrumental como faz a cultura ocidental , e sim orgânicos em suas práticas estão suas técnicas, cultura, espiritualidade, relações com a natureza e a comunidade indígena.



Portanto os projetos que vamos apresentar passam pela agricultura desde o cultivo da terra de frutos de seu ecossistema e a preservação das abelhas nativas sem ferrão que comunicam sua história, projetos e práticas educacionais. Tivemos a preocupação de escutar suas vozes e ler seus textos pois muitos de nossos conceitos invadem e negam suas realidades e compreensão da vida. Por exemplo, não existe agroecologia para eles apenas agricultura, a própria natureza dá sinais para o melhor dia de plantio e de colheita, a Caipora, ser espiritual sempre presente no imaginário e cotidiano nas Matas, dá sinais de  quando se pode praticar a caça de animais como fonte de alimento para as famílias, a cobra coral se apresenta não como a serpente do pecado, mas como um encantado que atua na defesa do território.



É importante frisar que eles estão abertos para o mundo em dialogar sobre suas tecnologias indígenas, incluindo educacionais, mas o espaço das disciplinas, nossos pré conceitos, escolas, e currículos enfraquecem nossas relações e diálogos com eles. Portanto esse trabalho é o primeiro passo de uma longa jornada de aprendizado que pode dialogar também com a disciplina de educação indígena, ambas do Educador e Professor da UFC Babi Fontele, pois ousamos realizar filmes juntos com as comunidades indígenas, realizar outros projetos e pesquisas que possam colaborar na missão social da Universidade pública em garantir os direitos e ampliar as vozes daqueles que pagam com as vidas às nossas ignorâncias e maldades. Que a Caipora e a Cobra Coral estejam sempre vivas no imaginário espiritual e defesa desse território, fortalecendo nossos guerreiros indígenas que se levantam geração após geração. Viva aos encantados. De um pequeno grão de terra à Terra da Sabedoria.



O que pensa com suas palavras o jovem estudante indígena Paulo Sergio do Instituto Asas e Raízes que atua com o Povo Pitaguary.

Sou Paulo Sérgio Pitaguary, um dos fundadores do Instituto Asas & Raízes, estudante de Administração Pública na UNILAB, me considero um ativista social pela visão que tento integrar às nossas práticas dentro do território indígena, bem como através das ações que realizamos e Projetos em fase de implementação dentro da Terra Indígena, viemos de uma família de pais agricultores que sempre nos diziam que nós precisávamos estudar para ter um futuro “melhor”, sempre ficava pensando que “futuro melhor” seria esse, na verdade hoje compreendo a visão dos meus pais, eles plantavam muitas vezes em regime de meia (regime onde a metade da produção ia pro posseiro), que até então se apresentava como “fazendeiro benevolente” para com o nosso Povo, “nos dando o direito de plantar em uma terra que sempre foi nossa”, o que nos restava muitas vezes se quer era suficiente para a nossa própria alimentação, então na visão deles nós deveríamos aprender uma profissão diferente que pudesse garantir nosso sustento, o engraçado é que fomos pra universidade e estamos voltando com a visão totalmente diferente da deles, temos consciência do nosso papel de continuar cultivando alimentos, mas agora com o conhecimento técnico necessário para implementar tecnologias que nos auxiliem na produção, para que possámos produzir alimentos tradicionais da cultura do nosso povo e pro nosso povo e continuemos a na luta pela defesa do território e manejo correto com a nossa mãe terra, principalmente na luta contra o uso de agrotóxicos e princípios do agronegócio, promovendo assim o desenvolvimento sustentável do Povo Pitaguary como um todo, com a visão de guardião dessa terra e saberes tradicionais.

Um comentário:

  1. Muito obrigado ao Egidio Guerra pela oportunidade de dar voz a essa luta, escrevendo com coerência e objetividade nossos relatos, nossa vivência.

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