Eu acompanho a vivência de uma Professora Waldorf, Nicolle Mehrere, nos últimos anos. Ela se formou em pedagogia na escola, escreveu seu TCC sobre o tempo e o brincar, é apaixonada por conta do fadas. Gostaria de fazer reflexões sobre o vídeo de Tizuko Morchida - O brincar na educação infantil em diálogo com Nicolle.
Uma das conclusões do trabalho de Nicolle é que as brincadeiras em muitas periferias de Fortaleza permanecem as mesmas, relacionados é claro também a perpetuação da pobreza. Já na classe média e alta, as crianças têm medo de brincar na rua, vivem isoladas com acesso aos games, muitas cuidadas por babás e outros que tem como função evitar que as crianças se machuquem, protegem de diversas maneiras, inibindo muitas vezes as atitudes das crianças, suas brincadeiras e outras. Mas o que significa brincar ?
A brincadeira é uma forma da criança pensar e descobrir o universo dela. A brincadeira é um direito da criança. Ela interage com brinquedos, tendo liberdade e sendo protagonista de suas descobertas. Ela interage com brinquedos de formas diferentes ou mesmo objetos da vida doméstica, ela vai explorar, relacionar, descobrir diferenças e outros. Quando ela começa a andar, toma decisões em movimento, aprende a se colocar numa postura, tirando e colocando coisas em seu carrinho, lidando com seu corpo e outras formas de brincar.
As crianças pela imitação aprendem o mundo dos adultos, cada cultura tem também uma forma de lidar com os brinquedos. Uma criança quando interage com objetos do mundo doméstico vai aprender a falar, simulará um personagem como médico que gostaria de ser, imaginar e outros. Portanto o brinquedo e a brincadeira tem haver com o corpo, movimento, afetividade, fala, imaginar, e representatividade como o espelho, onde vai ver quem é e o outro. Um dos objetos essenciais para brincar.
Como disse cada cultura com suas formas de brincar gera diversos tipos de brincadeira, brincam com jogos de regras, aprendem a ganhar e perder, conviver em grupo, e outros. Existem diferentes formas de brincar que desenvolvem uma cultura lúdica.Ela passa a ter um arsenal de informações, liderança, flexibilidade, criar, capacidade de escolha, contato com diferentes crianças, desenvolvimento raciocínio, aprendizado sobre seu mundo e ao seu redor. Depois que as crianças passam pelo desenvolvimento motor, elas começam a imitar, mas ainda não está assumindo papéis. Já aos três anos ela brinca, como dar de comer, ser médico, experimentando, explorando…No faz de contas ela assume um papel, lidando com o raciocínio e expressão, ela pensa longe da realidade, exercendo uma importante função simbólica como prescreve Piaget e Vigotski.
É importante que as creches tenham espaços, objetos e brinquedos, mas hoje falta o equipamento básico para que a brincadeira do faz de contas possa ocorrer. A mediação da Professora é fundamental que observe a brincadeira, interaja com a criança, e observe o que está faltando na estrutura. As crianças para brincar são essenciais para que cada criança assuma um papel na brincadeira e possam brincar com outras crianças usando pedras, pulando cordas, cantando, dançando, correndo, e outros. Portanto o brincar de qualidade envolve a diversidade de experiências com acompanhamento do adulto e de outras crianças.
Porém esse caminho tem que ter uma política pública que oferte os recursos, espaços diferenciados, e adultos para observar e brincar. Hoje no Brasil são muitas crianças para poucos professores. Nós temos professores formados, mas a formação hoje está distante das práticas. As crianças precisam ser diferenciadas de acordo com a idade e demanda espaços e tempo distintos. Os cursos discutem a teoria mas deixam de lado as práticas, temos que aprender as razões mas também as formas de aplicá-las. É necessário espaços e ambientes nas creches para receber famílias, descanso, formação e planejamento, entre outros.
Já no plano de documentos oficiais no Brasil avançamos com normas mas sem recursos, vivemos descompassados e as políticas municipais não respeitam as crianças, nem os profissionais. A brincadeira é um eixo da educação infantil, ela não é apenas a brinquedoteca mas todos os espaços, mediações, brinquedos, objetos diversos, e claro outras crianças. Hoje infelizmente a criança não escolhe a brincadeira, isso é um princípio, portanto não é uma sala que resolve, mas autonomia, material pedagógico, bons professores, pois tudo isso serve para brincar . Mas temos que entender que a criança tem que ter seu projeto de brincadeira compartilhado com outras crianças.Subir em arvores é importante o nosso playground natural é incrível. Infelizmente o Brasil está 20 anos atrasados.
Concluindo em diálogo com Nicolle, a professora da Escola Waldorf, aprendi que quando unimos as brincadeiras com os contos de fadas a mágica da educação expande por caminhos ilimitados, singulares e infinitos nos diversos universos de cada criança. Esse é matéria de outro artigo.
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