SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 26 de março de 2021

UM PROJETO E PESQUISA DE EDUCAÇÃO PARA VIDA: Metodologia, objetivos e justificativa. 1455 dias.


Um projeto e uma pesquisa podem durar mais de 25 anos ? Sim! esse durou como um fio que carrego em minha trajetória de vida desde os 15 anos quando comecei a planejar minha vida. Nessa mesma época eu tinha escrito um romance “ Quando amar é proibido “ onde criei 7 personagens, cada um vivia em um mundo separado dedicando sua vida a ele, quer seja na Empresa, Política, Universidade, Arte, Projeto social e Religião. O último personagem, Isaac, visitava cada um dos amigos para compreender o mundo e as regras sobre as quais cada um deles vivia, mas ele Isaac não encontrava sentido para sua vida em nenhum deles. Não é o caso aqui de apresentar o romance mas algumas ideias que nasceram nele, e acompanham toda minha vida, como se escrevesse meu próprio romance de formação como Emílio de Rousseau e outros. 


 

Um das ideias é que ao pesquisar a história das civilizações, sociedades e culturas aprendi que desde a Mesopotâmia, Egito, Grécia, Roma, Idade média, Modernidade ou outras culturas estudadas pela Antropologia temos sempre a presença de vários mundos como a economia, política, educação, espiritualidade e outros; claro com os formatos daquela época ou seja a Educação era feita nos “Jardins” e Escola na Grécia, virou Mosteiro na Idade média e Universidade hoje, mas sempre a dimensão da educação esteve presente nesses lugares e épocas. Assim como a Economia era escravidão durante muito tempo, virou feudos e depois fábricas e trabalhadores, talvez agora o trabalho será feito por robôs e inteligência artificial. Resumindo estas dimensões como educação, trabalho, e outras como espiritualidade, arte, políticas e outras sempre estiveram presentes em vários formatos históricos mas que não são na verdade dimensões ou valores humanos que transcendem as formas históricas organizadas e transformadas em poderes. 



Nesse raciocínio eu era o Isaac que gostaria de conhecer todos esses “mundos” mas sem me render a eles. Até porque o valor da utilidade econômica não pertence as empresas, nem a busca pelo saber e a verdade as Universidades, nem a luta por justiça aos políticos, nem a arte pertence aos artistas ou seja cada pessoa tem as possibilidades de desenvolver suas capacidades econômicas, educacionais, artísticas, espirituais e outras sem se render aos padres, professores, políticos, empresários e outros que buscam mais controlar e submeter as pessoas do que desenvolver o potencial de cada uma delas em várias áreas e saberes como Polímatas . 




Então, eu planejei minha vida desde os 15 e fui viver cada mundo desses: atuei em Empresas, Governos, ONGs, Escolas, Universidades, Igrejas, Artes e outros buscando ter vivências e experiências, mas ao mesmo tempo procurando estudar em Universidades e ler livros de ciências diferentes, relacionadas a estes mundos para responder perguntas que emergiam do meu ser, em relação por exemplo as diversas linguagens e valores que imperam nesses mundos, assim como suas práticas e regras para poder criticá-las e criar novas formas de ser, viver e me governar diante dos desafios que emergiram no decorrer da vida, criando projetos como alternativas a esses caminhos oferecidos pela sociedade.



Talvez, esse processo tenha sido a minha metodologia neste projeto e pesquisa de uma educação para vida. Metodologia como ter várias experiências mas de forma crítica e reflexiva na medida em que lia vários livros de forma interdisciplinar, muitas biografias, assistia vários filmes que despertava minha imaginação para entender realidades em movimentos onde vários saberes, setores da sociedade e personagens constrói a história e a realidade, onde tudo se mistura e se encontra de formas complexas, dinâmicas e diversas. É preciso aprender a dançar com a vida e seus desafios em movimento.



Nesta jornada fui encontrando os objetivos do meu projeto e pesquisa de uma educação para vida. O primeiro objetivo é que o currículo fosse a própria vida e suas várias dimensões, mundos e desafios. O segundo objetivo é que a sala de aula fosse o mundo, e que nessa jornada ia encontrar outros instrumentos e processos pedagógicos para vida, entre eles os livros, os filmes, e transformar o celular numa bússola para vida. Criando um aplicativo game que apoia, conecta e realiza projetos e pesquisas de uma educação para vida de outras pessoas, conectando as várias oportunidades no mundo real em várias setores da sociedade e dimensões da vida como trabalho, educação, arte, projetos sociais, política, aprender novas tecnologias, saúde, esporte, espiritualidade, habitação, interação com a natureza, relacionamentos familiares, e amigos. 



Essa jornada, claro tem uma justificativa.


Numa Sociedade disciplinar e linear, como linhas de produção, foram divididos os espaços para educar, trabalhar, rezar, governar, se divertir, cuidar das doenças, e outras. Porém se esses espaços fossem todos para nuvens e podemos realizá-los de casa ou de qualquer outro lugar pelos celulares ? Se a memória, os documentos, a mídia, as artes, o trabalho, conteúdos educacionais, e agora a inteligência for digital e artificial. Numa sociedade em redes como definiu Manuel Castells que luta por democracia direta, renda básica, tempo livre e contra os controles tecnológicos, destruição da natureza e a financeirização da vida. Qual a missão da educação diante destes desafios históricos de um lado e entre o que a educação não deve ser ? Entre esses polos temos a justificativa deste projeto e pesquisa de uma educação para vida buscando caminhos e instrumentos para torná-la possível. 



Algo temos certeza essa missão não é anular seres humanos, padronizá-los em sistema de ensino, fortalecer as burocracias e tecnologias que buscam nos controlar, ou transformar pessoas em robôs, nos render e submeter as brutais desigualdades e violências que vivemos, sermos instrumentos da destruição da natureza e mudanças climáticas entre outros. Necessitamos de mais autonomia, outras perspectivas e olhares sobre a educação em rede, complexa, diversa, sistêmica, decolonial, mas também tecnológica, científica que desenhe futuros a luz da antropologia e da humanidade. Porém esses caminhos não se revelam apenas através de teorias e conceitos mas de práticas e linhas de pesquisa que transformem o mundo numa sala de aula e a vida no currículo, não em mortes, brutalismos, e pandemia como temos feito atualmente, acelerada pela política, finanças mas também pelas ciências e tecnologias. 


A melhor síntese que li recentemente foi o livro Brutalismos de Mbembe que unifica as violências econômicas, tecnológicas, ambientais, sociais para mostrar como já tratamos com profunda insensibilidade e falta de humanismo as várias tragédias que vivenciamos de mortes na pandemia, refugiados, racismos, crimes e outras. Mbembe clama urgência para agir agora, e não apenas criar e justificar conceitos resíduos que se calam no cotidiano da ausência de atitudes e lutas.    




Nós podemos aprender por outros caminhos em redes com a arte, com a cidade, tecnologias, espiritualidade, com a política, a natureza, pelo amor e claro pela educação que hoje reduzimos em disciplinas e currículos, mas por diversos e múltiplos caminhos que a vida nos oferece. Múltiplos caminhos como tem proposto Emilia Romana, Finlândia, Canadá, Japão; e comunidades indígenas, quilombolas, projetos sociais que há tempos tem nos ensinado outras formas de ser, viver e nos governar. Essas jornadas nos transforma e nós transformamos elas, despertando novos métodos, inovando, integrando, gerando sinergias, ampliando a sustentabilidade orgânica da vida e dos saberes. Estas habilidades são muito mais que adquirir conteúdos e sim escolher entre várias fontes, criticá-las, criar, compreender a história de forma interdisciplinar que nos trouxe até aqui, e avaliar que caminhos seguir individualmente e coletivamente. A necessidade de criar outros instrumentos e processos pedagógicos que anime essa jornada capaz de transformar o mundo numa sala de aula e o currículo na vida.



Essa jornada sempre foi feita pela humanidade desde que partiu da África vivemos de imigrações, guerras e refugiados mas nesta jornada  aprendemos muito. O que podemos aprender pelas biografias de cientistas, líderes políticos e espirituais, artistas, empreendedores, educadores que nos mostram que as grandes ideias, inovações, conhecimentos, instituições, tecnologias, lutas políticas, causas espirituais e outras não foram produzidas de forma linear nem apenas reféns do método científico, mas muitas vezes contra o método e sem método. As perguntas e os desafios impactam o método que escolhemos em busca de respostas e elas nunca dançam sozinhas. É nessa dinâmica múltipla, diversa e complexa que aprendemos a imaginar, enxergar e construir novos horizontes e metamorfoses para nossas vidas e o mundo que vivemos.


   

Outro passo é com a nossa própria vida, trajetória, como aprendemos? Vivemos? Amamos ? Como despertamos novos horizontes, metamorfoses, evoluções, acasos ? interagimos e nos dividimos? Somos capazes de compreender essa sinfonia entre a teoria e prática, entre conhecimentos populares e científicos, no diálogo entre nossas capacidades crítica e criativa, entre razões, valores, visões, vivências e experiências, podemos compreender as músicas que a vida toca em sinfonia ou ruídos com as nossa vidas, sociedades e a Terra que vivemos? Essa é nossa missão e justificativa desta jornada, ao mesmo tempo projeto e pesquisa de uma educação para vida.





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