
- Luiz Fernando Toledo
- Da BBC News Brasil, em Londres
- Michelle Roberts
- Editora digital de saúde da BBC News
Ao menos nove casos de intoxicação por metanol foram registrados em São Paulo no último mês, todos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.
Também segundo autoridades, ao menos três mortes suspeitas de terem sido causadas pela substância estão sob investigação — duas em São Bernardo do Campo e uma na capital paulista.
A Prefeitura de São Paulo divulgou um alerta sobre a possível presença de metanol em bebidas adulteradas. "A intoxicação por Metanol é grave e os sintomas iniciais podem passar despercebidos", diz o texto. "O tratamento precoce evita a acidose grave e a insuficiência renal."
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), do Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou que o volume de ocorrências recebido foi classificado pelas autoridades como "fora do padrão".
Outro ponto chamou a atenção: segundo o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Campinas (Ciatox-SP), os episódios de intoxicação por metanol que vinham sendo notificados até então estavam ligados, em sua maioria, à ingestão deliberada em contextos de abuso de substâncias — frequentemente envolvendo população em situação de rua.
Desta vez, porém, os casos ocorreram em bares e envolveram diferentes tipos de bebida, como gim, uísque, vodca e outros destilados.
Em resposta, o MJSP emitiu uma recomendação, no último sábado (27/09), aos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas no Estado.
A nota reforça a necessidade de que as empresas façam compras seguras, confiram os produtos e fortaleçam a rastreabilidade dos produtos.
E diz que preços muito baixos, lacres tortos, erros grosseiros de impressão, odor semelhante a solvente e relatos de consumidores com sintomas como visão turna, dor de cabeça intensa, náusea ou rebaixamento da consciência "devem ser tratados como suspeita de adulteração".
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) emitiu nota em que diz que acompanhou diversas operações de combate ao comércio de produtos ilícitos e que, só em 2025, houve mais de 160 mil produtos falsificados apreendidos.
A recomendação é encaminhar esses clientes para atendimento médico urgente e acionar o Disque-Intoxicação (0800 722 6001), serviço da Anvisa.
Entenda a seguir o que é o metanol e os riscos que ele oferece à saúde.
O que é metanol?
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O metanol é um produto químico industrial encontrado em fluidos anticongelantes e de limpadores de para-brisa.
Não se destina ao consumo humano — e é altamente tóxico.
Tomar até mesmo pequenas quantidades pode ser prejudicial. Algumas doses de bebida alcoólica clandestina que contenham a substância podem ser letais.
O metanol tem a aparência e o sabor do álcool, e os primeiros efeitos são semelhantes — ele pode fazer com que você se sinta embriagado e enjoado.
Inicialmente, as pessoas podem não perceber que há algo errado.
O dano acontece horas depois, quando o corpo tenta eliminá-lo do organismo, metabolizando-o no fígado.
Este processo gera subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formiato e ácido fórmico. Eles se acumulam, atacando nervos e órgãos, o que pode levar à cegueira, ao coma e à morte.
"O formiato, que é a principal toxina produzida, age de forma semelhante ao cianeto e interrompe a produção de energia nas células, e o cérebro parece ser muito vulnerável a isso", explica Christopher Morris, professor da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
"Isso leva a danos em certas partes do cérebro. Os olhos também são diretamente afetados, e isso pode causar cegueira, o que é visto em muitas pessoas expostas a altos níveis de metanol."
A toxicidade do metanol está relacionada à dose que você toma — e à forma como seu corpo lida com ela.
Assim como acontece com o álcool, quanto menor o seu peso, mais você pode ser afetado por uma determinada quantidade.
O médico Knut Erik Hovda, da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que monitora os envenenamentos por metanol, diz que a conscientização varia muito entre os turistas e a equipe de saúde em diferentes partes do mundo — e isso pode significar atrasos no diagnóstico.
"Os sintomas geralmente são muito vagos até que você fique realmente doente", afirmou ele à BBC.

Como é tratado o envenenamento por metanol?
O envenenamento é uma emergência médica, e deve ser tratado em um hospital.
Há tratamentos à base de medicamentos que podem ser administrados, assim como diálise para limpar o sangue.
Alguns casos podem ser tratados com álcool (etanol) para "competir" com a metabolização do metanol. Mas isso deve ser feito rapidamente.
"O etanol atua como um inibidor competitivo, impedindo em grande parte a metabolização do metanol, mas retardando-a consideravelmente, permitindo que o corpo libere o metanol dos pulmões e um pouco por meio dos rins, e um pouco pelo suor", explica Alastair Hay, professor especialista em toxicologia ambiental da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Hovda afirma que obter ajuda logo após o consumo de metanol é crucial para as chances de sobrevivência.
"Você pode aliviar todos os efeitos se chegar ao hospital cedo o suficiente, e se o hospital tiver o tratamento necessário", diz ele.
"Você pode morrer com uma proporção muito pequena de metanol, e pode sobreviver com uma proporção bastante substancial, se conseguir ajuda."
"O antídoto mais importante é o álcool comum."
Quais bebidas podem conter metanol?
As bebidas afetadas podem incluir:
- Destilados locais, incluindo bebidas de arroz;
- Drinques mistos à base de álcool, como coquetéis;
- Garrafas de bebida alcoólica com rótulo falsificado em lojas ou atrás do bar.
Para se proteger do envenenamento por metanol, você deve:
- Comprar bebidas alcoólicas apenas em lojas licenciadas;
- Comprar drinques somente em bares e hotéis licenciados;
- Evitar bebidas alcoólicas de fabricação caseira;
- Verificar se o lacre da garrafa está intacto;
- Checar a qualidade de impressão ou se há erros de ortografia no rótulo.
Procure atendimento médico urgente se você ou alguém com quem estiver viajando apresentar sinais de envenenamento por metanol.
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